Oferecer um livro a si mesma, uma amiga, aos sobrinhos ou filhos teenagers é agora mais fácil. Esta lista, recomendada por José Prata, editor da Lua de Papel, promete ser o seu melhor recurso quando precisa de encontrar bons livros para ler (ou recomendar) em cada fase da vida.
Dos 6 aos 10 anos
“Podemos começar por aqueles livros que se leem, muitas vezes, ao longo de uma vida, e cujo sentido vamos desbravando a cada nova leitura, como Alice no País das Maravilhas (Lewis Carroll) que é improviso e aventura; Peter Pan (J.M. Barrie), que é já um anúncio do fim da infância, ou O Principezinho (Antoine de Saint–Exupéry), que é uma lição zen sobre o apego.
Entre os portugueses, destacaria Sophia de Mello Breyner, especialmente A Menina do Mar, que é uma cartilha sobre a diferença e a amizade.
Começaria aqui, nesta fase, a separar o bem do mal, com as obras de J.R.R. Tolkien (O Senhor dos Anéis) ou J.K.Rowling (Harry Potter). Mas porque crescer é ter consciência da pertença a um país, Coração (Edmondo de Amicis) é sempre recomendável.”
Dos 11 aos 15 anos
“Para os rapazes, é tempo de aventura. Com Júlio Verne, viajamos e superamos provas. Há também os clássicos, como Robinson Crusoé (Daniel Defoe), Os Três Mosqueteiros (e muitos outros livros de Alexandre Dumas), que também casam bem com esta ideia de descoberta.
É também a altura ideal para descobrir os policiais, o móbil é sempre o mesmo, decifrar o enigma, e a rainha é Agatha Christie. Numa deriva filosófica, O Mundo de Sofia continua a ser uma excelente introdução.
Para as borbulhas, não há Clerasil que se compare aos primeiros Diários de Adrian Mole (Sue Townsend). De autores brasileiros recomendaria, Meu Pé de Laranja Lima (José Mauro de Vasconcelos) e Os Capitães da Areia (de Jorge Amado), porque tem lá dentro tudo o que a adolescência é.
O Estranho Caso do Cão Morto é indispensável, ser adolescente é aquilo, uma vontade pungente de sair fora do corpo e viver nele como numa prisão.”
Dos 16 aos 18 anos
“São anos cruciais, antes da faculdade, ou lemos agora ou não os leremos jamais. E, como vivemos em angústia, os existencialistas são a melhor companhia.
A Queda ou O Estrangeiro, de Albert Camus, A Náusea, de Jean Paul Sartre são os espelhos perfeitos, mas também aconselho Os Fragmentos de um Discurso Amoroso, de Roland Barthes (para decifrar mistérios como o ciúme ou a dor da separação). E, já agora, a leitura só aparentemente fácil dos primeiros Ian McEwan, como O Jardim do Cimento. E, claro, Fernando Pessoa, todo ele, sobretudo Álvaro de Campos.”
Jornalista durante 15 anos, sobretudo ligado às secções de cultura em várias revistas e jornais, José Prata fundou, em 2006, a editora Lua de Papel, que atualmente integra o Grupo Leya. É autor do romance Os Coxos Dançam Sozinhos.
Dos 18 aos 22 anos
“É mesmo a última paragem; depois da faculdade, vem a vida, o trabalho e os impostos. Nesta idade, somos ainda livres de passar horas infinitas a ler e podemos gastá-las com as grandes obras-primas, os russos Fiódor Dostoéievski (Crime e Castigo) e Tolstói (Guerra e Paz), Marcel Proust (Em Busca do Tempo Perdido).
E, também, Eça de Queirós, não todo, mas quase, agora que já não o temos de ler obrigatoriamente, descobrimos que afinal, se fazem coisas maravilhosas com o português, que é uma língua muito mais elástica do que parece.
É também altura de dar os primeiros passos pela obra de José Saramago, de preferência a mais tardia, a mais legível, e António Lobo Antunes, começando pelas obras iniciais. O primeiro mostra-nos que a literatura é também oralidade; o segundo é uma viagem ao inferno (nosso e o dele).”
Dos 23 aos 30 anos“As próximas décadas vão ser terríveis. É a afirmação no mundo do trabalho, o casamento, os filhos.
Podemos, por isso, alienar-nos com policiais (se forem bons, estamos perdoados) e ir para férias com qualquer livro do Henning Mankell, mas também temos de alimentar os neurónios, de preferência com leituras que exijam muito de nós, mas não se esqueçam de nos contar histórias que nos agarrem como Expiação (Ian McEwan), Desgraça (J.M. Coetzee), As Velas Ardem até ao Fim (Sándor Marái), O Leitor (Bernhard Schlink); O Deus das Pequenas Coisas (Arundathi Roy), Assim Era a Solidão (Juan Jose Millás) e O Túnel (Ernesto Sabato).”
Dos 31 aos 40 anos
“Os contos, dentro da mesma categoria, ou seja, inteligência servida em doses homeopáticas, para almas apressadas, tais como Bestiário (Julio Cortázar), A Planície em Chamas (Juan Rulfo), Contos de Amor, Loucura e Morte (Horacio Quiroga), O Noivo (Ha Jin), Deus que Está em Todo o Lado (Jaime Collyer).
Para acabar um livro que, não sendo de génio, recapitula a chegada aos 40, e os 20 anos deixados para trás: Um Dia, de David Nicholls.”
Dos 41 aos 50 anos
“Stoner, de John Williams, é o livro sobre uma vida revista, é um balanço e um apelo: não se esqueçam da paixão. O leitor maduro não deveria perder tempo a ler o que aparece, o que é da moda.
Só de vez em quando aparecem obras-primas, por isso, mais vale voltar atrás e ler (ou reler) o que ficou para trás. Hemingway, Steinbeck e até James Joyce (para quem tiver coragem).”
+ de 51 anos
“O Ser Mortal, de Atul Gawande, é o ensaio definitivo sobre o que nos espera mais à frente (a morte) e sobre o que nos espera já agora (a morte dos pais). Nem é cedo, nem é tarde para o ler.”