Pervin está em Raqqa, na Síria, com a sua bebé de apenas alguns meses e com o marido que faz parte de um grupo de guerrilha que prepara os próximos ataques terroristas. Do outro lado do mundo, na Suécia, Sulle e Kerima começam a ser subtilmente atraídas para um chamado “paraíso” que lhes irá dar descanso eterno, se cumprirem todas as regras.
Esta é a narrativa a série que mostra duas realidades completamente distintas, mas que se cruzam. Há um elo em comum: a promessa de uma vida de sonho.
Kalifat é uma produção sueca, disponível na Netflix desde o início de março, que nos mostra como é feito o recrutamento para o Estado Islâmico, como é viver por lá e como é sentir na pele o desespero de querer sair.
Composta por oito episódios, a história acompanha ainda a luta de uma agente sueca dos serviços secretos, Fatima, que tenta não só impedir um atento terrorista no seu país, como promete trazer Pervin, a protagonista da história, para a Suécia, em troca de informações relevantes.
O objetivo da série de Wilhelm Behrman e Nikolas Rockström, produzida pela Filmlance, é mostrar como o radicalismo do autoproclamado Estado Isâmico está presente na Europa e predomina em meios frequentados por adolescentes, como em escolas, por exemplo. Este é um grupo económico mais frágil, mais manipulável e mais fácil de se vender um ideal de vida.
E não foi muito longe desta narrativa que surgiu a ideia da série.
“A ideia veio de uma foto que vi na imprensa internacional de três adolescentes britânicas que fugiram das suas famílias para se juntarem ao ISIS. Fiquei tão chateado com isso, talvez porque tenho uma filha da mesma idade, que percebi que tinha de escrever algo sobre isto. O Nikolas concordou, então criámos a Kalifat”, disse Wilhelm Behrman à revista Variey.
Ao acompanhar a vida de Pervin, Kalifat mostra uma realidade escondida e muito diferente da que é dita às jovens adolescentes. É lhes prometido cenários quase paradisíacos, uma vida acima das possibilidades e um casamento de sonho.
Contudo, a dura realidade é muito distinta do esperado. Veem-se cenários de guerra constantes, e claro as regras rígidas imposta pelo Daesh: as mulheres não podem mostrar nenhum pedaço de pele, não têm qualquer contacto com o exterior, não podem sair de casa sem os maridos, ter telemóvel dá direito a pena de morte e há execuções feitas a meio do dia, no meio de multidões.
“Queríamos que o público fosse atraído para a história através de um enredo clássico sobre terrorismo e depois deixar o drama à volta das mulheres ser cada vez mais dominante, à medida que os espectadores fossem ficando cada vez mais envolvidos com as personagens”, contou o criador do drama.
E assim é. A série desenrola-se à volta de personagens femininas que tentam procurar uma vida melhor do que a que têm na Suécia, seja pela forma como veem os muçulmanos a serem tratados no país, seja porque lhes é dada a oportunidade de estarem mais perto de Deus.
Kalifat é difícil de digerir, mas é por isso que deve ser vista. Não é só uma série, é também, e infelizmente, uma realidade.