Livros em português. Os favoritos do guionista e ilustrador Pedro Vieira

Conversámos com Pedro Vieira, guionista, ilustrador e responsável pela comunicação do Cinema São Jorge a propósito do seu novo livro e sobre as suas escolhas literárias de autores portugueses.

Por Set. 27. 2019

Pedro Vieira lançou o seu terceiro romance. Maré Alta (Companhia das Letras), mas continua a não se autointitular escritor. Desta vez, debruçou-se sobre a História do último século em Portugal e para a contar deu voz a “personagens da nossa população que normalmente não figuram na História e até na literatura estão mais ausentes”.

São essas personagens que vão ‘navegando’ em Maré Alta e nos vão mostrando o evoluir da nossa sociedade durante o século XX, afinal, como nos diz, “um século comporta muitas coisas e muitas maneiras de olhar para a vida e de crescer”.

Laços familiares

Ao longo do livro, vamos assistindo à quebra, mais ou menos abrupta, de laços familiares e aqui entra o outro ponto de partida para a história: “Criar uma árvore genealógica fictícia da minha família. A construção dessa identidade alternativa partiu do facto de não saber o nome do meu avô materno, do qual desconheço completamente o destino e fui abrindo hipóteses”, revela.

O conceito de família ideal, diz, “remete-nos para uma coisa harmónica, mas muitas são feitas de cortes, disrupções, fugas medo, irresponsabilidade ambições e quis trazer tudo isso para o livro”.

Personagens complexas

Pelo livro pululam personagens fortes, homens e mulheres. Pedro Vieira queria que “tivessem alguma complexidade, que não fossem planas e que não se dividissem em polícia mau e polícia bom. Quis que refletissem a forma como iriam crescer, viver e procurar sustento e olhar para aquilo que lhes coube em sorte”.

Estamos a passar por um período criativo muito bom, são vários autores da minha geração com estilos muito distintos e força narrativa muito grande
Pedro Vieira

E nesta sociedade frenética que papel tem o livro? “Continua a ser a principal fonte de saber, claro que há outros meios, a Internet também o é, mas não possui os mecanismos de filtragem que boa parte dos livros tem.

Além disso, a absorção da informação é feita mais naturalmente e é um objeto com mais de 500 anos para o qual ainda não se encontrou um substituto melhor pela sua portabilidade, por poder ser manuseado, porque a sua bateria nunca descarrega”.

Pedro Vieira olha com otimismo para o panorama literário português: “Estamos a passar por um período criativo muito bom, são vários autores da minha geração com estilos muito distintos e força narrativa muito grande”.

As escolhas literárias em português de Pedro Vieira

O Evangelho Segundo Jesus Cristo

“Além de ser um dos meus escritores preferidos, a abordagem que José Saramago fez à religião, à espiritualidade e ao catolicismo foi reveladora.”

Para Onde Vão so Guarda-Chuvas

“Afonso Cruz é um prodígio de criatividade e a quantidade de ideias que debita a cada página é avassaladora. Este livro é uma defesa da empatia.”

Uma Viagem à Índia

“É um trabalho notável de criatividade e de apropriação d’Os Lusíadas de Gonçalo M. Tavares.”

Deixem Falar as Pedras

“David Machado recupera um período negro da nossa História através de uma referência fictícia de um avô que parece cristalizado, mas que guarda uma memória muito forte de um tempo terrível.”

Os Maias

“É eterno. Reli-o há pouco tempo e Eça de Queirós é um prodígio.”

A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº 225, março de 2019.
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