Cultura

Livros para oferecer no Natal: as sugestões do autor Paulo José Miranda

Estivemos à conversa com o autor da primeira biografia de Manoel de Oliveira sobre o livro e sobre o cineasta, que sabia viver como poucos. E, como estamos às portas do Natal, ainda pedimos ao escritor para nos dar sugestões de livros para oferecer.

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Livros para oferecer no Natal: as sugestões do autor Paulo José Miranda Livros para oferecer no Natal: as sugestões do autor Paulo José Miranda
© Grafismo: Carolina Carvalhal
Rita Caetano
Escrito por
Dez. 14, 2019

A longa e preenchida vida de Manoel de Oliveira é a protagonista de A Morte Não é Prioritária (Contraponto), a biografia escrita por Paulo José Miranda. Foram dois anos de trabalho condensados em quase 600 páginas, nas quais o escritor dá a conhecer a vida e obra do mais reconhecido cineasta português, ambas feitas de paixões e convicções inabaláveis.

De artista de circo a campeão de salto à vara, de corredor de automóveis a gestor de fábricas, sem esquecer a sua temporada no Douro como lavrador, Manoel de Oliveira teve uma vida como poucos e é isso que este livro deixa transparecer.

“As pessoas não têm noção da vida que ele teve, como pode ter sido chata se aos 96 anos dançou em cima de um palco, em Milão, com a Patti Smith, enquanto esta cantava Because the night?”, questiona Paulo José Miranda, que tem a certeza que Manoel de Oliveira sabia viver.

A Morte Não é Prioritária, Paulo José Miranda. Contraponto 19,90€

Por que é que aceitou escrever a biografia de Manoel de Oliveira?

Só aceitei porque gosto muito de cinema e, em particular, de Manoel de Oliveira. Não era possível fazer este trabalho se não gostasse do realizador. Foi preciso ver, em alguns casos, ou rever, noutros, a obra toda.

Quanto tempo é que demorou a pesquisar e a escrever o livro?

Dois anos. Durante o primeiro ano não fiz mais nada; no segundo ano, trabalhei na biografia todos os dias, mas já não em exclusivo. Tive a felicidade de ter a ajuda da Júlia Buisel, sem a qual a biografia não tinha este rigor.

Ela tem uma memória extraordinária e trabalhou com ele desde 1980 em todos os filmes, além de ser sua amiga. Deu-me acesso a vários documentos que consultou para fazer uma fotobiografia em 2003.

(Manoel de Oliveira) Tinha um talento para a vida e para saber viver. Quando era preciso, improvisava e deixava-se levar pelo improviso.

Foi a primeira biografia que escreveu?

A primeira e a última (risos). Ainda bem que aceitei escrever a biografia, mas foi uma grande dose de inconsciência, não tinha a noção do trabalho. Nunca sofri tanto com um livro que escrevi, porque escrevi sobre a vida de alguém que viveu e trabalhou com pessoas que estão vivas e que me podem contestar a qualquer momento.

Ficou muito por contar?

Como não? São 106 anos de vida… Se tivesse conseguido pôr tudo, tinha feito um milagre. Tive de fazer um guião para ligar os pontos que me pareciam fundamentais para mostrar a sua vida.

O artigo O Cinema e o Capital, que Manoel de Oliveira escreveu em 1933 para a revista Movimento, marcou toda a sua obra?

A obra dele vai mudando ao longo do tempo, aliás quando escreveu esse texto ainda era acusado de ser muito rápido a filmar. O que se mantém desde essa altura até ao final da sua vida é ver o cinema como uma criação artística, como a poesia, fora do entretenimento. Nisso nunca fez concessões.

Na biografia, percebe-se que ele tinha sempre a última palavra…

Sim e tinha tudo planeado ao mínimo detalhe, mas depois tinha um talento para a vida e para saber viver.

Quando era preciso, improvisava e deixava-se levar pelo improviso. A forma como ele filmava era como o jazz, ou seja, estudava, tinha o domínio do instrumento, das harmonias e das escalas, a música estava estruturada, mas não deixava de improvisar e de se levar pelos atores, pelos técnicos, pelos figurantes e por todas as pessoas que rodeavam as filmagens.

Durante as filmagens de A Caça, por exemplo, ele viu o leiteiro da aldeia, que não tinha uma mão, e quis que ele aparecesse na cena final.

Por um lado, Manoel de Oliveira foi artista de circo, campeão de salto à vara, corredor de automóveis, pilotava aviões, ou seja, gostava de adrenalina; por outro, os seus filmes foram sempre apelidados de lentos. Vivia a duas velocidades?

Ele tinha muitas velocidades, mas é curioso que não encontrei alguém em Portugal que lhe tivesse feito essa pergunta, mas uma jornalista brasileira fê-lo e ele respondeu-lhe que nas corridas de automóvel o objetivo é vencer o tempo, no cinema é refletir sobre ele. Na verdade, a vida que muitos cineastas apenas filmaram, ele viveu-a.

Outro aspeto que a biografia relata é que teve sempre mais sucesso fora do que cá…

Sim, isso aconteceu desde o primeiro filmeDouro, Faina Fluvial – que os críticos estrangeiros adoraram. O próprio Luigi Pirandello perguntou se os portugueses batiam palmas com os pés.

A vida de Manoel de Oliveira tem essas coisas, até as piadas são feitas por gente extraordinária, como o Pirandello, uma figura ímpar e Prémio Nobel da Literatura. Por cá houve sempre um fechar de costas ao seu cinema. Não sei se o facto de ele ter começado a filmar com regularidade já com 70 anos teve algum peso.

E essa incompreensão não veio apenas do público em geral, mas também de pessoas ligadas à cultura…

Caso da Natália Correia, mas é transversal a toda a sociedade. Ele começou a ser conhecido como alguém que fazia filmes chatos e lentos.

Mas na verdade a sua vida de chata tinha pouco…

Fui figurante, durante 15 dias, no Non, ou a Vã Glória de Mandar e era impressionante a energia dele aos 80 anos.

As pessoas não têm noção da vida que ele teve, como pode ter sido chata se aos 96 anos dançou em cima do palco, em Milão, com a Patti Smith, enquanto esta cantava Because the night. É absolutamente extraordinário.

De tudo o que descobriu de Manoel de Oliveira, o que mais o surpreendeu?

O talento dele para a vida, o saber viver dele, a sua capacidade de contornar os obstáculos. Não perdia tempo a lamentar-se. Essa capacidade de dar a volta é visível quando ele aos 70 anos, depois de ter perdido a fábrica, chega ao pé do Paulo Branco e diz que a partir daquele momento tem de viver do cinema.

Aos 95 anos, quando deixou de trabalhar com este produtor, disse algo como “agora tenho de pensar no meu futuro”. Estes dois exemplos mostram como era muito especial e diferente. Tinha uma relação com a vida muito particular.

O que está a escrever agora?

Estou a escrever um livro de poesia e a trabalhar num romance que já tinha escrito antes da biografia. Além disso, a ler, porque durante dois anos não li mais nada que não fosse coisas sobre o Manoel de oliveira.

As sugestões de livros para oferecer no Natal de Paulo José Miranda

  • Poemas, George Trakl

    Poemas, George Trakl

    Abysmo

    15€

    “É uma excelente tradução recente de António de Castro Caeiro dos poemas de George Trakl”.

    1 / 8

  • Um Quarto em Atenas, Tatiana Faia

    Um Quarto em Atenas, Tatiana Faia

    Tinta da China

    14,90€

    “Um livro maravilhoso de uma poeta que vive em Oxford e venceu o Prémio PEN Clube Literário – Poesia 2019.”

    2 / 8

  • Autismo, Trilogia das Paternidades Falhadas, Valério Romão

    Autismo, Trilogia das Paternidades Falhadas, Valério Romão

    Abysmo

    18€

    “É uma trilogia fantástica, mas pode-se começar por qualquer um”.

    3 / 8

  • O da Joana, Trilogia das Paternidades Falhadas, Valério Romão

    O da Joana, Trilogia das Paternidades Falhadas, Valério Romão

    Abysmo

    15€

    4 / 8

  • Cair para Dentro, Trilogia das Paternidades Falhadas, Valério Romão

    Cair para Dentro, Trilogia das Paternidades Falhadas, Valério Romão

    Abysmo

    18€

    5 / 8

  • As Orelhas de Karenin, Rita Taborda Duarte e Pedro Proença

    As Orelhas de Karenin, Rita Taborda Duarte e Pedro Proença

    Abysmo

    16€

    “Um livro muito sui generis, que nos força a um novo modo de ler e interagir com os livros.”

    6 / 8

  • Um Dia Não São Dias, António de Castro Caeiro

    Um Dia Não São Dias, António de Castro Caeiro

    Abysmo

    10€

    “No mundo ocidental, os dias da semana têm uma identidade e, neste livro, o autor faz uma análise dos mesmos e da relação que estabelecemos com eles.”

    7 / 8

  • Fotografar Contra o Vento, António Cabrita

    Fotografar Contra o Vento, António Cabrita

    Exclamação

    18€

    “É o novo livro de António Cabrita e é obrigatório.”

    8 / 8

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