Cultura

Estas mulheres portuguesas ficaram para a História. Quantas conhece?

Sabe o que é que Beatriz Ângelo, Paula Rego e Rosa Mota têm em comum? Portuguesas com M Grande é o livro que nos relembra que é das mulheres que (também) reza a história de grandes feitos.

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Escrito por
Nov. 05, 2018

Quantos nomes e personagens nos passaram despercebidas, por não sabermos que lutas travaram para termos hoje direitos, como o da liberdade, que tomamos como garantidos?

Na verdade, e ao longo dos tempos, a História escrita e protagonizada por mulheres foi facilmente esquecida, e deixada para trás. Felizmente há quem nos recorde, reforce e celebre o seu papel.

Ilustradas por Cátia Vidinhas, Lúcia Vicente reuniu neste livro uma lista de Portuguesas com M Grandemulheres que deixaram a sua marca e nos marcaram para sempre. Muitas vezes até sem sabermos.

livro portuguesas com M grande

Portuguesas com M Grande, 16,90€

Aqui vai encontrar as histórias de vida de 42 mulheres portuguesas – porque foi apenas há 42 anos que nós, mulheres, ganhámos o direito ao voto em Portugal. E é uma pena que os seus nomes caiam no esquecimento, nosso ou das nossas filhas.

Faça o teste a si própria: entre tantas grandes mulheres, quantas conhece?

8 grandes Mulheres portuguesas a recordar

Catarina Eufémia

Ceifeira, ativista política, símbolo da resistência antifascista

ilustração Catarina eufémia

© Cátia Vidinhas

 

O nome ficou para sempre gravado no coração dos portugueses como símbolo trágico da luta dos trabalhadores contra o regime de Salazar. Catarina foi escolhida para liderar um pequeno grupo de ceifeiras que queriam apresentar ao feitor as reivindicações de todos os trabalhadores. E esta proeza aconteceu numa altura em que reivindicar era proibido.

Quando Catarina, falando em nome de todos os trabalhadores, lhe responde que apenas queriam trabalho e pão, o tenente Carrajola deitou-a ao chão com uma bofetada. Em resposta ao ato de violência, Catarina contestou. O retorno foi fatal: o Tenente Carrajola assassinou-a brutalmente em plena seara de trigo.

 


Vieira da Silva

Artista plástica, apátrida, criadora de mundos

 

 

ilustração vieira da silva

 

Maria Helena Vieira da Silva sempre quis explicar aos outros o que os seus olhos viam. Em 1928, mudou-se para Paris, para estudar pintura. E foi lá que conheceu o seu marido, o pintor Árpád Szenes, com quem viveu aventuras pelo mundo inteiro.

Vieira da Silva é umas das pintoras mais importantes e influentes do século XX, de tal forma que a União Astronómica Internacional decidiu homenageá-la dando o seu nome a uma das crateras de Marte.

 


Brites de Almeida (ou Padeira de Aljubarrota)

Almocreve, padeira, aventureira destemida

padeira de aljubarrota

© Cátia Vidinhas

 

Decidiu gastar a herança que recebera dos seus pais, humildes taberneiros, numa espada que aprendeu a manejar magistralmente. Foi com essa espada que se atreveu a ganhar os primeiros reais, combatendo contra homens em feiras pelo País fora e criando um assombroso espanto em todos quantos assistiam a estes combates.

Numa dessas feiras, um soldado fez um acordo com ela: “Brites ou me matas ou te casas comigo.” Ela aceitou o desafio. Acabou por matá-lo, e, apesar de vencedora, teve de fugir rapidamente. Com ou sem acordo, continuava a ser crime matar um dos soldados do rei.

Depois de muitas peripécias, desde ser sequestrada por piratas argelinos, fugir da prisão vestida de homem e recomeçar a vida como almocreve – outra profissão tipicamente masculina na Idade Média, chegou a Aljubarrota onde aprendeu o ofício que a transformou na lenda portuguesa que chegou aos nossos dias: a nossa mais ilustre padeira.


Chica da Silva

Escrava liberta, gestora de património, dama da sociedade mineira

 

 

Francisca da Silva de Oliveira cresceu em Minas Gerais (Brasil), era de ascendência portuguesa por parte do pai e nigeriana do lado da mãe – os genes valeram-lhe a pesada herança da escravatura. E num tempo em que ter um relacionamento com uma negra, mulata ou índia autóctone não era aceite pela comunidade branca, Chica da Silva torna público o seu relacionamento com o português João Fernandes de Oliveira.

Aquando da sua morte, foi sepultada na Igreja da Ordem de São Francisco de Assis, demonstrando assim o prestígio social que tinha, uma vez que os demais defuntos eram, na sua maioria, brancos. Chica da Silva é um símbolo da mudança e libertação social do sexo feminino.

 


Luísa Todi

Atriz, cantora lírica internacional, mezzo soprano extraordinaire

 

Durante o terramoto de Lisboa em 1755, Luísa, com apenas dois anos de idade, teve a sorte de sobreviver graças a um forno de cozer pão, onde se refugiou durante os infindáveis minutos do incidente.

Quando em jovem, começou a cantar como mezzo soprano. Fez tour pela Europa e, em Portugal, cantava para a corte. No entanto, durante o reinado de D. Maria I – que subiu ao trono em 1777 –, as mulheres ficaram proibidas de cantar em público. Mas para Luísa, abria-se a excepção devido à sua voz angelical.

 


Virgínia Quaresma

Jornalista de reportagem, feminista, símbolo máximo de minorias

 

Mulher, jornalista, repórter e mulata. Virgínia reunia, na sua pessoa, todos os estereótipos proibidos do século XIX – alguns deles insistem em subsistir nos dias de hoje. Era mulher, jornalista, emancipada, de ascendência negra e mantinha uma relação lésbica assumida publicamente.

Foi das primeiras mulheres a tirar uma licenciatura em Letras e tornou-se jornalista política. Entrevistou figuras importantes da altura incluindo Pinheiro Machado, um republicano importante que nunca se deixava entrevistar.

 


Margarida de Abreu

Coreógrafa, mãe da dança portuguesa, diretora artística

 

Os seus pais opuseram-se à carreira de bailarina mas ainda assim, não se deixou ficar. Ao ver que a única companhia de dança profissional a operar em Portugal só tinha folclore e não dança, em 1944, fundou o estúdio de dança Círculo de Iniciação Coreográfica.

Foi graças ao seu trabalho e contributo para o desenvolvimento da dança em Portugal – dando-lhe um cunho mais sério, mais clássico e profissional – que nasceram maravilhosos bailarinos, como a magnífica e talentosa bailarina e coreógrafa nacional Olga Roriz, sua antiga aluna.

 


Ana Salazar

Criadora de moda, diretora criativa, vanguardista

O dom para criar roupas é inato a Ana Salazar. Começou pelos vestidos para as bonecas de papel, para depois, aos 7 anos, passar a alterar os seus vestidos, trocando os botões por laços. Nos anos 1980, cria a sua marca, Ana Salazar, e Portugal passa a ter pela primeira vez na sua história uma verdadeira criadora de moda.

Ana Salazar mudou o mercado da moda, atreveu-se a criar mais do que uma simples peça de vestuário, deu vida a uma nova identidade feminina, mais andrógina, e que contribuiu para a afirmação e descoberta das mulheres. As linhas simples e minimalistas que brincam com formas geométricas e assimetrias, sempre com uma componente de vanguarda, trouxeram-lhe o reconhecimento internacional que tanto merece.

 


Agora queremos saber: quais são as mulheres portuguesas que a inspiram a si? Descubra outras mulheres inspiradoras além fronteiras.

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