A obra de cinema Voando Sobre um Ninho de Cucos – que deu a Jack Nicholson e a Louise Fletcher o Óscar de melhor ator e atriz, pelos papéis de Randle Patrick McMurphy e enfermeira Ratched, respetivamente – tem agora uma prequela, criada por Ryan Murphy e Evan Romansky, que explica a história por detrás da malvadez da enfermeira.
A maquiavélica Mildred Ratched, que praticava terapia de choque aos seus pacientes no filme de 1976, tem agora destaque na Netflix, com uma história totalmente nova, mas não menos macabra.
A série de oito episódios começa com um massacre a quatro padres pelo violento Edmund Tolleson, que, entretanto, é preso e fica a aguardar julgamento no hospital psiquiátrico Lucia State Hospital, no Norte da Califórnia.
É neste cenário pitoresco que vemos, pela primeira vez, Mildred Ratched (interpretada pela fabulosa Sarah Paulson) a chegar e mostrar um exagerado interesse em trabalhar neste lugar. É a partir daqui que a história se desenrola.
Não há como negar que a nova aposta da Netflix tem cenas verdadeiramente chocantes em que os mais sensíveis terão de virar a cara para não as enfrentarem. Por outro lado, é também irrefutável que a fotografia, a banda sonora e o guarda-roupa tornam esta série não só interessante, como viciante.
Mas não é só de chacinas e de mortes que Ratched é feita. A série que decorre durante os anos 40, depois da Segunda Guerra Mundial, aborda temas como a saúde mental e a homossexualidade, vista ainda como uma doença que precisava de cura, nestes mesmos hospitais.
As ‘curas’ para os chamados ‘desvios sexuais’ eram desumanas, ofensivas, mas havia, efetivamente, quem as procurasse a fim de ter uma vida longe da discriminação social.
A título de curiosidade, saiba que a série consegue ainda ter algum ADN português. No mesmo hospital, liderado pelo médico e diretor Richard Hanover (interpretado por Jon Jon Briones), é praticada uma técnica desenvolvida por Egas Moniz, Nobel de Medicina em 1949 – a famosa lobotomia.
Ainda que hoje não seja praticada, a verdade é que este procedimento se tornou bastante famoso nos anos 30, por ser rápido e praticamente indolor. Egas Moniz afirmou na altura que só deveria ser feito em doenças incuráveis, mas houve quem usasse a lobotomia como método de cura rápida para doenças psiquiátricas.
Foi o caso do cientista norte-americano Walter Freeman, que fazia pequenos buracos no crânio para cortar os lobos pré-frontais, com uma ferramenta muito parecida a um picador de gelo. Os resultados eram promissores: ajudar quem sofresse de doenças do foro psiquiátrico. Porém, inúmeros pacientes ficaram com sequelas.
Embora a continuação de Ratched ainda não esteja confirmada, o final deixa a história em aberto. Até lá, desfrute da primeira temporada e conte com terror, amor, compaixão e um mix de sensações ambíguas.