Ler livros eróticos que fazem as mulheres sentirem-se empoderadas é a nova tendência do TikTok
Há uma nova tendência no TikTok e está a revolucionar a vida sexual de muitas mulheres. Chama-se smutTok e refere-se à literatura romântica e erótica.
O TikTok é a rede social do momento e se, no início, captava sobretudo os adolescentes, os adultos também já não passam sem ela e um dos seus hashtags mais badalados dos últimos tempos é #smutTok.
Se procurar no dicionário de inglês, o termo smut significa obscenidade e é usado para se falar de livros, revistas, imagens, filmes e até piadas que ofendem pessoas por estarem associados a sexo.
Mas, quando se fala deste hashtag, ninguém quer ofender ninguém, apenas ler sem qualquer vergonha livros com um cariz romântico e erótico, escritos por mulheres, e falar disso abertamente nos seus vídeos da rede social.
O hashtag teve já mais de três mil milhões de visualizações e, nos Estados Unidos da América, as livrarias já têm uma secção dedicada ao #smutTok.
As fãs deste hashtag dizem que os livros dos quais falam no TikTok estão a ajudá-las a expressar e a viver melhor a sua sexualidade e os seus desejos e a sentirem-se mais empoderadas.
O que nos excita não só varia de pessoa para pessoa como ao longo da vida, em função dos momentos que estamos a viver – Tânia Graça, sexóloga
Alimentar a imaginação
“Não me admira que seja uma nova trend, pois pode ser ótimo, já que alimenta a nossa imaginação e pode trazer coisas novas para a prática sexual”, diz Tânia Graça, sexóloga.
Quais são, então, as vantagens de ler literatura com um cariz erótico para a vida sexual? “O erotismo, quer seja escrito ou noutras formas, é positivo porque alimenta o imaginário e o músculo do erotismo que, se não for exercitado, acaba por mirrar.”
Além disso, alerta, “nós, mulheres, trabalhamos muito com o nosso imaginário, e a literatura erótica acaba por nos mostrar outras realidades – que podemos querer concretizar ou não – que nos ajudam a alimentar o imaginário erótico, quer para experiências sexuais a solo, no sentido da masturbação, quer com outros parceiros. Neste último caso, pode ser num plano prático, ou seja, propor a quem está connosco fazer algo que se leu nos livros ou pode ficar na nossa cabeça durante o ato sexual, porque se pode imaginar tudo”, explica a especialista em sexologia.
Esta tendência do TikTok é seguida sobretudo por mulheres, e Tânia Graça também não estranha o fenómeno: “Há alguns estudos que dizem que os homens são tendencialmente mais visuais, ou seja, excitam-se mais pela imagem, e as mulheres mais por um plano imaginário e de fantasia, logo, os livros acabam por resultar muito bem, e a minha prática clínica mostra-me isso. No entanto, isto não quer dizer que funcione para todas as mulheres. O que nos excita não só varia de pessoa para pessoa como ao longo da vida, em função dos momentos que estamos a viver”.
Esta maior tendência para a leitura de livros sensuais pelo sexo feminino poderá também estar associada ao facto de a pornografia mainstream ser feita ainda a pensar maioritariamente nos homens? “Também, mas já há muita coisa para explorar. Contudo, sem dúvida que a pornografia mainstream, do ponto de vista das filmagens, das dinâmicas e do que se explora, é feita a pensar nos homens”, responde a sexóloga.
O erotismo, escrito de outras formas é positivo, porque alimenta o imaginário
Maior liberdade
Poderão estes livros ajudar as mulheres a serem sexualmente mais livres, como algumas leitoras afirmam no TikTok? “Claro, porque à partida contam a história de mulheres sexualmente livres e com experiências mais arrojadas. Essas vivências tiram-nos da nossa realidade, que é mais confinada às condicionantes sociais que temos à nossa volta e aos preconceitos que ainda hoje envolvem a sexualidade feminina”, refere a sexóloga.
No entanto, Tânia Graça não quer deixar de realçar “que pode haver alguma distorção da realidade nessas histórias” e dá o exemplo de As Cinquenta Sombras de Grey. “Nesses livros, a descrição da relação sexual era irreal, em cinco segundos a protagonista atingia o orgasmo com penetração. Além disso, era uma relação abusiva e nem estou a falar do BDSM [acrónimo para a expressão Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadomasoquismo] ou de um sexo mais violento, que, se for com consentimento, está tudo bem. Falo, sim, da postura do homem, que era abusiva sobre a mulher e sinto que, por vezes, esse abuso pode ser romantizado e tornado excitável quando é apenas um comportamento abusivo. Ponto. Não só havia uma dinâmica abusiva como desvirtuava o BDSM da forma como era imposto com alguma manipulação. Havia consentimento, mas até que ponto ceder é consentir?”.
Portanto, a nossa entrevistada defende que “da mesma forma que pode ser útil, interessante e divertido ler literatura erótica, é preciso ter algum sentido crítico na escolha e estar consciente de que nem tudo é saudável, mesmo que nos excite. Mas, lá está, tudo depende de cada pessoa”.
#smutTok: 4 livros a ler…
Quatro livros editados em Portugal e que estão a fazer furor no TikTok.