Foram precisas seis horas para transformar, pela primeira vez, Russell Crowe em Roger Ailes, o gigante do mundo da televisão envolvido em diferentes polémicas ao longo da sua carreira.
Há quem diga que este é o papel da vida do ator que já foi o Gladiador e Robin Hood, sendo que desta vez está praticamente irreconhecível. A sua interpretação de um homem machista, manipulador, e sem limites para a arrogância, leva-nos a perceber em que alicerces a Fox News foi construída e como tratou casos como o 11 de setembro, por exemplo.
Roger Ailes foi presidente da CNBC, na qual foi forçado a sair em 1995, e um ano depois foi convidado por Rupert Murdoch a lançar o canal Fox News. O que vemos no primeiro episódio da série retrata a visão que Ailes tinha sobre a forma como a informação deveria ser tratada: com sensacionalismo e com pouco interesse pela verdade.
“As pessoas não querem estar informadas, querem sentir que estão informadas”, é uma das frases mais icónicas do episódio, dita por um homem que acreditava que as pivots deveriam estar menos vestidas e com as pernas à mostra quando apresentavam o noticiário.
Os toques desconcertantes de Roger Ailes às jornalistas do canal
Na verdade, o interesse de Roger Ailes pelas mulheres vai muito além da roupa. Quando faz entrevistas para o canal, o consultor pede a uma das jornalistas para se levantar, dar uma volta, enquanto lhe toca na cintura e nos lábios.
A história real deste escândalo ganha novos contornos quando é publicado o livro The Loudest Voice in the Room: How the Brilliant, Bombastic Roger Ailes Built Fox News – and Divided a Country, de Gabriel Sherman. Várias mulheres começam a relatar a conduta imprópria de Ailes e em 2016 Gretchen Carlson, pivô do canal, levanta um processo de assédio sexual contra o consultor.
Mais tarde, também a jornalista Megyn Kelly o acusou de ter um comportamento impróprio quando trabalhou no canal. Mas não foram as únicas.
A produção da Showtime – com os sete episódios já disponíveis na HBO – mostra como, ainda muito antes do movimento #MeToo, o assédio sexual era um assunto tabu, mas comum, no mundo empresarial e do entretenimento. A polémica levou à demissão de Ailes em 2016, mas nem por isso deixou de trabalhar.
Já tinha sido consultor de presidentes americanos como Richard Nixon, Ronald Reagan e George W. Bush, mas ainda no mesmo ano foi conselheiro na campanha presidencial de Donald Trump.
Morreu aos 77 anos, em maio de 2017, de hemofilia.