Katherine Lahude, natural de Porto Alegre, Brasil, tinha 24 anos quando começou a desenvolver o projeto Alfabeto Empoderador. A ideia era explicar conceitos e termos associados ao feminismo, de uma forma acessível.
“Inicialmente, era para ser um guia introdutório ao feminismo, porque na altura estava a descobrir-me como feminista e via que, muitas vezes, a bibliografia existente sobre este tema era muito densa e complicada”, explica à Saber Viver Katherine Lahude.
Foi nessa altura que Katherine pensou em unir o útil ao agradável. Através de uma cadeira de Tipografia da faculdade, em que precisava de desenvolver um projeto que fosse relacionado com letras, decidiu avançar com o Alfabeto Empoderador.
“Ao todo são 27 cartões com uma letra ou um termo, associados a um significado”, esclarece. Estes termos foram traduzidos e ilustrados com o objetivo de serem de fácil assimilação.
Mas Katherine não esteve sozinha neste projeto. Quando a criatividade começou a faltar para encontrar termos para cada uma das letras, procurou ajuda num grupo de Facebook “que tinha um olhar feminista”, constituído por mais de 100 jovens brasileiras da sua faculdade. Neste grupo, eram partilhados casos de abuso e de assédio sexual, mas também funcionava como um fórum onde as jovens partilhavam não só os seus problemas, mas também as suas ideias.
O Alfabeto Empoderador ficou pronto em 2016, mas nunca saiu do online até chegar a Lisboa, este ano, ao Festival Feminista. As ruas dos Anjos foram o palco para a exposição deste alfabeto, em que cada letra do abecedário foi transferida para cartazes de formato A2.
Quando pensou no projeto, Katherine queria que fosse direcionado apenas para raparigas mais novas e adolescentes, que poderiam ter alguma dificuldade em compreender os conceitos mais difíceis. Mas hoje em dia, considera que o alfabeto é para todos, sem discriminação de género, raça ou estatuto.
“Este projeto não é definitivo, nem absoluto. É um ponto de partida para que se possa encontrar mais informação sobre um conceito. É um glossário introdutório“, diz-nos Katherine Lhaude.
O Alfabeto Empoderador parte de uma perspetiva intersecional, um termo que defende que o feminismo não deve ser tratado de forma isolada de outras questões sociais contemporâneas.
É desta mesma forma que Katherine Lahude define o seu papel como feminista. “Para mim não existe um feminismo, existem vários. Um feminismo branco heterossexual é completamente diferente de uma mulher negra e lésbica. É importante não excluirmos a luta de outra mulher”, explica Katherine Lahude, à Saber Viver.
Por esse motivo, a sua principal missão como feminista é “continuar a entender outras realidades e, também, privilégios. Para que, desta maneira, possa conseguir entender a luta de outras mulheres e promover o acesso à informação”, diz-nos Katherine Lahude.
“Sinto-me muito privilegiada, neste momento complexo em que o Brasil vive, por conseguir estudar e trabalhar na Europa e, sobretudo, por ter divulgado um projeto tão especial como este”, acrescenta.
É provável que ainda encontre alguns dos cartazes do Alfabeto Empoderador, pelas ruas de Anjos. No entanto, muitos deles já foram vandalizados. Por isso, vamos deixar aqui alguns dos exemplos que poderão contribuir para uma melhor noção sobre o que é ser feminista (siga ainda estas contas de Instagram de empoderamento feminino).
Aprenda a decifrar o Alfabeto Empoderador
A – Abuso
B – Bissexual
D – Desconstruir
E – Empoderar
F – Feminicído
M- Misoginia
N- Não
O – Objetificação
P – Patriarcado
S – Sororidade
V- Voz
W – We can do it
Saiba, ainda, porque é que é importante haver homens feministas.