Vivemos numa correria constante. Simplesmente não temos tempo. Tempo para parar, para respirar, para saborear. Entre as 1001 tarefas que temos para fazer, passamos muitas vezes o tempo livre nas redes sociais. Não desconetamos.
Recebemos centenas de notificações nos nossos telefones e queremos estar a par de tudo, o que é, e será sempre, completamente impossível.
Aprendi a desconetar-me e a perceber que esta é uma necessidade vital da pior maneira possível. Em agosto 2017, enquanto estava a conduzir, tive uma espécie de apagão. Por breves segundos, deixei simplesmente de ver, tal era o meu estado de exaustão.
Para além de estar a trabalhar cerca de 12 horas por dia em frente a um computador, como gestora de projecto, passava demasiado tempo conetada às redes sociais, pois era desta forma que desenvolvia os meus projetos: o meu blog Ana, Go Slowly, e o Lixo Zero Portugal.
A minha mente não descansava e estava constantemente a ser estimulada com novas informações. Era como se tivesse um botão sempre ligado. As poucas horas que dormia, também não me permitiam descansar o suficiente.
Precisei que a vida me ensinasse a parar. O burnout, a depressão, os ataques de pânico e de ansiedade foram o meu sinal STOP.
Por essa razão, adquiri uma série de hábitos que me permitem ter uma vida mais equilibrada. Apesar de ter mudado completamente de vida (a nível profissional, mas também pessoal) e de estar bem de saúde, este é um trabalho diário, um caminho que vamos percorrendo e um estilo de vida cheio de desafios.
É isso que partilho aqui, dicas sobre como podemos aprender a desconetar e a viver mais devagar, fugindo da pressão constante que nos é imposta pelas redes sociais.
6 dicas para aprender a desconetar
1. Defina um horário para aceder às redes sociais e ao seu e-mail
Em vez de estarmos ligadas o tempo todo e de estarmos constantemente a verificar todas as notificações, por que não definir um horário em que acedemos a determinadas aplicações e ao nosso e-mail?
Desta forma, organizamos melhor o nosso dia e não estamos constantemente a mudar de tarefa em tarefa, o que nos permite também sermos mais produtivas e não perder tempo.
Termos este tipo de regras também nos permite baixar os níveis de ansiedade. Deixamos de ter que estar alerta o tempo todo. Afinal, tudo pode esperar.
2. Defina uma rotina de final de dia
Deveríamos preparar o nosso corpo para descansar. Não somos máquinas, portanto aquela ideia de levar o telefone para a cama e de estar nas redes sociais até adormecer, não funciona.
Os nossos telefones e computadores têm uma luz azul que nos desperta, já para não falar da quantidade de estímulos e de nova informação que estamos constantemente a receber. Então, como poderemos adormecer se estamos a excitar o nosso cérebro?
É importante termos uma rotina de final do dia, em que começamos lentamente a preparar a nossa mente e o nosso corpo para o descanso. Se conseguirmos acompanhar o ritmo da natureza e começar a baixar os níveis de energia à medida que o sol se põe, tanto melhor.
Como no inverno é difícil fazê-lo, se não mesmo impossível, podemos adotar outras estratégias: fazer um jantar leve, começar a baixar a intensidade das luzes em nossa casa, desligando as luzes de teto, geralmente mais fortes, e ligando os candeeiros de mesa, por exemplo.
Podemos também acender umas velas. Devemos afastar-nos dos nossos telefones, computadores e televisão cerca de duas horas antes de nos deitarmos. Se precisar mesmo de usar o seu telefone ou computador, ative o modo noite. Mas utilize apenas o tempo estritamente necessário.
3. Faça um detox das redes sociais
Um dia por semana, faça um detox das redes sociais, ou seja, defina que naquele dia não irá aceder a nenhuma rede social.
Pode fazê-lo, por exemplo, aos domingos. Acredite que não irá acontecer nada urgente e tudo estará à sua espera na segunda-feira. Se for necessário, desinstale as aplicações às quais gosta mais de aceder, assim não cairá em tentação.
4. Não consulte o e-mail de trabalho em casa
Desconete-se do trabalho quando sai do local de trabalho. Faça o esforço de deixar tudo organizado para o dia seguinte e simplesmente desligue. O e-mail pode esperar para o dia seguinte, ninguém vai morrer.
Este período de desconexão do trabalho é imprescindível para recuperar energias. Trabalhará melhor no dia seguinte.
Sei que é difícil fazê-lo, até porque a maioria das empresas exige exatamente o contrário dos seus funcionários. Trabalhei durante quase 10 anos em empresas e esta era a minha luta diária, desligar-me e transmitir aos outros a importância de o fazer.
5. Desligue a maioria das notificações do telefone
Esta pequena alteração que fiz há alguns anos teve um impacto gigante na minha vida! Apenas tenho notificações para chamadas e mensagens, ou seja, para tudo o resto, apenas consigo perceber se tenho alguma notificação caso aceda à respetiva aplicação.
Também organizei todas as aplicações em pastas e o fundo do meu telefone é apenas uma frase que me inspira e motiva todos os dias.
Esta é uma forma de reduzir a quantidade de estímulos, porque a verdade é que olhamos demasiadas vezes para o nosso telefone. Então, se cada vez que olho para o ecrã puder ler uma mensagem inspiradora, tanto melhor.
6. Participe num retiro
Deixei o melhor para o fim. Há já alguns anos que comecei a participar em retiros. E adoro! Permitem-nos descansar e recarregar baterias, mas trazem-nos também inúmeras aprendizagens e, muitas vezes, novas amizades.
Nos últimos anos comecei também a dar aulas de ioga em retiros e a organizar os meus próprios retiros. É mesmo a melhor forma de nos desligarmos do mundo exterior e de nos conetarmos connosco.
O meu próximo retiro Regenera-te acontecerá num sítio lindo, em Mafra, de 31 de outubro a 4 de novembro.
A Sofia de Assunção, minha amiga, coach PNL e facilitadora de processos de descoberta, é a minha grande aliada neste retiro. Será essencialmente um retiro de reflexão deste ano que está quase a terminar, e de preparação do próximo ano.
Haverá ioga, meditação, alimentação vegetariana/vegan, conversas sobre slow living e desperdício zero, exercícios de coaching e muito mais.
Acima de tudo, cuide de si. Lembre-se que o mundo lá fora espera sempre. Se não esperar, então é porque não era para ser.
Ana Milhazes, 34 anos, socióloga, formadora, instrutora de Yoga, autora do Ana, Go Slowly, um blogue sobre tudo aquilo que nos leva em direcção a uma vida mais feliz, baseada no ser em vez do ter. É ainda fundadora do movimento Lixo Zero Portugal e vive com a missão diária de fazer o mínimo de lixo possível, de partilhar os desafios que enfrenta e de inspirar a mudança.