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Como a dismorfia das selfies está a levar os jovens a procurarem cirurgias plásticas

Como a dismorfia das selfies está a levar os jovens a procurarem cirurgias plásticas

Os telemóveis estão a substituir os espelhos e o que mostram não agrada aos mais jovens que querem fazer cirurgias, tendo em conta imperfeições faciais que nem sequer existem.

Por Ago. 16. 2019

A Academia Americana de Cirurgia Facial Plástica e Reconstrutiva alerta: os jovens estão a recorrer aos cirurgiões plásticos para melhorar a sua aparência tendo como base o que veem nas selfies e nos ­filtros de telemóvel que usam para as melhorar.

Chegam a pedir correções de imperfeições inexistentes, como a redefinição do nariz, das maçãs do rosto ou dos sulcos nasogenianos. Tudo isto porque o enquadramento pouco natural das selfies faz com que pareçam ter esses defeitos.

Na verdade, os espelhos foram substituídos pelos telemóveis e o resultado não é o melhor. “Esta perturbação tem vindo a ser chamada selfie dismorfia­ e é mais uma das perturbações que surgem com as novas tecnologias e com o excesso de utilização das redes sociais, nomeadamente, pela permeabilidade dos jovens ao foco no estímulo e validação exterior e menos no interior, tão necessário ao bom desenvolvimento social e emocional do ser humano”, salienta Tiago A. G. Fonseca, psicólogo clínico na Psinove.

Autoestima baixa

“Estamos perante um conjunto de distorções da perceção da imagem pessoal. Os jovens, sobretudo, veem a sua imagem virtual – aquela que se obtém após publicação nas redes sociais em posições específicas ou com filtros particulares, resultando em vários ‘gostos’ e comentários positivos dos outros – como a sua imagem ideal, a representação da perfeição que não sentem ter, ao invés da sua aparência real, percebida como imperfeita, mas que faz de cada um de nós uma pessoa única”, explica o especialista.

Esta perturbação baseia-se numa imagem que não é real, levando, diz Tiago A. G. Fonseca, “a expectativas irrealistas sobre o próprio, promovendo, cada vez mais, uma menor autoestima, sendo potenciada a valorização do que dizem os outros sobre as imagens após transformações virtuais. Além disto, torna-se exacerbada a busca pela perfeição, ideal utópico que nunca é atingido, pelo que se torna uma frustração constante de insatisfação apenas colmatada pela tal valorização externa”.

A procura pela perfeição deve ser substituída pelo amor-próprio

Como se pode combater este sentimento? “A busca pela perfeição externa deve ser substituída pelo amor-próprio e pela valorização das diferenças individuais. Isto pode conseguir-se com um maior conhecimento emocional e respeito pelas próprias emoções, o que pode significar uma menor dependência da opinião dos outros”, salienta o psicólogo.

Além disto, é importante “a manutenção de relações saudáveis que estimulem a ligação direta com outros jovens, relações de partilha e de intimidade que levem a momentos de aceitação mútua, criando a perceção de que as imperfeições são tão naturais como outra característica qualquer e que o todo, perfeições e imperfeições, fazem de nós quem somos”.


Estava ciente de que existia esta nova perturbação entre os jovens? Leia ainda a experiência de ficar desconectada das redes sociais na primeira pessoa.

A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº 230, agosto de 2019