Lançar um projeto requer dinheiro. A certa altura, será necessário despedirmo-nos do nosso emprego para nos dedicarmos totalmente a esta nova fase. A instabilidade financeira torna-se assustadora, assim como o nosso futuro. E o sucesso? Quando é que esse chega?
A Saber Viver falou com dois exemplos de casos de sucesso de empreendedorismo made in Portugal, que nos relataram a experiência de ter um negócio próprio: Pedro Rocha Vieira, CEO da Beta-i, uma empresa que impulsiona startups, e a co-fundadora da marca da calçado Josefinas, Maria Cunha.
Ambos são a prova que, apesar de todas as desconfianças, medos e receios, é possível que um projeto tenha sucesso. Como? Leia o que se segue.
Casos de sucesso de empreendedorismo português
Filipa Júlio e Maria Cunha conheceram-se num concurso, semelhante ao Shark Tank, onde Filipa apresentou uma ideia. Maria fazia parte dos jurados. A apresentação foi tão interessante e inovadora, que nasce assim a marca Josefinas. O que era uma ideia “embrionária”, tal como Maria a descreve, resultou, quatro anos depois, numa sucessão de coleções de calçado e uma loja em Nova Iorque.
“Foi um sonho concretizado e um marco na história das marcas portuguesas. Estou certa que abrimos caminho para tantas outras marcas nacionais emergentes e para muitas outras sonhadoras“, assegura Maria Cunha.
Uns anos antes, em 2010, em plena crise, foi criada a Beta-i, uma empresa que tinha, e tem, a missão de “promover o empreendedorismo e a inovação”. Pedro Rocha Vieira, o seu fundador, não só é empreendedor, como impulsiona, todos os dias, jovens a lançarem o seu projeto de sonho nas áreas da tecnologia.
E este é o ponto de partida. Saber o que é preciso para começar um negócio.
Reunimos alguns conselhos de quem é expert nesta área.
Empreendorismo: por onde começar
O mais complicado é o início. Mas o primeiro passo tem de ser dado. Ter um trabalho a tempo inteiro durante anos e, de repente, sair para saltar para o desconhecido, é assustador. No livro Eu Sou o Meu Maior Projeto, de Maria da Gloria Ribeiro, este é um ato de coragem. “Não há uma altura certa na carreira para se mudar. Temos de ser inteligentes e avaliar quais as tendências do mercado, da área ou da indústria onde estamos, e mudar quando estivermos perante a oportunidade adequada”, escreve.
É importante que todos os passos já estejam definidos antes de se lançar um projeto. O plano de negócio deve estar traçado, assim como todo o objetivo da marca/empresa. Quando o caminho passa pela expansão internacional, há que saber para onde queremos que o projeto vá.
À conquista do mundo
“Quando comecei a Josefinas, sempre soube que seria um projeto para o mundo. E sempre trabalhamos nesse sentido. Uma marca ainda pequena, sem notoriedade e sem dinheiro dificulta o processo de internacionalização. Porém, sempre fizemos muito com pouco e, passo a passo, fomos – e continuamos – à conquista do mundo”, refere Maria Cunha.
O que acontece quando se quer ter um negócio próprio é que há sempre a tendência de o conjugarmos com a profissão atual. Quebrar essa ponte implica pensar numa possível instabilidade financeira e no fracasso da empresa – ainda que esta não seja a melhor atitude a ter. “Acredito que passa muito pelo instinto de cada um e pela sua motivação pessoal de abraçar um projecto próprio. Cada vez mais, os novos empreendedores e startups têm uma cultura global e a noção de que a ideia, por si, não vale muito. O importante é a capacidade de execução e de crescer rapidamente a nível global”, esclarece Pedro Rocha Vieira, CEO da Beta-i.
O que é preciso para começar um negócio?
1.º Gostar do que se faz
“A paixão é o meu combustível. É o que me faz levantar de manhã e o que me faz querer mais e melhor”, conta Maria Cunha, das Josefinas. O CEO da Beta-i dá-nos exatamente a mesma sugestão. “O essencial é trabalhar numa ideia que, além de útil, seja algo que nos apaixone, pois a vida de empreendedor é dura. Por isso, é importante acordar todos os dias motivado para trabalhar incansavelmente”.
2.º Preencher uma lacuna no mercado
“Para quem tem uma ideia, é fundamental testá-la a ver se é aquilo que as pessoas procuram. Para quem está agora a começar é mesmo importante desenvolver uma solução que resolva um problema real”, explica Pedro Rocha Vieira. Ou seja, a ideia deve ser irreverente e apresentar alguma solução para o que já existe atualmente. O CEO da Beta-i continua: “O investimento é sempre muito mais analítico. É sempre mais fácil se o empreendedor provar que existe aquela necessidade e mostrar que tem a solução que vai revolucionar um mercado”.
3.º Mesmo com um orçamento reduzido é possível criar um negócio
Deixamos este conceito: bootstrapping. Este termo aplica-se quando um empreendedor tem pouco capital e não quer estar sujeito às limitações impostas por um investigador. O investimento é do próprio e a entrada de capital provém dos clientes. A criatividade, claro, aqui é mais do que bem-vinda.
Portugal está mais empreendedor
Parece que as estatísticas e a realidade se contradizem. Em abril de 2016 foi feito um estudo a nível mundial pela Amway, uma empresa de marketing multinível. Este concluiu que apenas 8% dos inquiridos consideravam Portugal um bom país para começar um negócio. Isto colocou-nos nos últimos lugares de uma lista de 44 países que seriam bons para o empreendedorismo. Ainda assim, uma grande percentagem dos portugueses inquiridos mostraram interesse com a ideia de criar um projeto seu.
No final do ano passado, Lisboa recebeu um dos maiores eventos de empreendedorismo e tecnologia do mundo. O Web Summit contou com mais de 50 mil pessoas, 600 oradores estrangeiros e 66 startups portuguesas. Os hotéis esgotaram de Lisboa até Sintra.
“Dados recentes apontam no sentido de 76% das startups de Lisboa terem dois a três fundadores, o que coloca a cidade no 3.º lugar mundial neste ranking em particular. De acordo com a Global Startup Ecosystem Report, as startups com dois a três fundadores são as que mais facilmente se conseguem impor. O que coloca a capital numa boa posição quanto à taxa de sucesso das suas startups”, conta Pedro Rocha Vieira, que destaca Lisboa como um caso de sucesso sustentável.
Os obstáculos a enfrentar
Ainda que lançar uma empresa seja o sonho de quem não quer viver sob chefias para sempre, há obstáculos a enfrentar. No que diz respeito ao universo da moda, das marcas de luxo e não só, o paradigma sofre alguns problemas. O mercado pode não estar preparado para o que a marca traz.
“Em 2013 sentia-se a desvalorização do que era português e, nesse sentido, as pessoas não compreendiam a razão de um par de sabrinas custar um valor justo. Uma das missões da Josefinas era – e é – mostrar o talento dos mestres artesãos Portugueses, que criam peças únicas e de qualidade exímia, não só nos sapatos, mas nos bordados, na cartonagem… Acredito que a Josefinas teve um papel importante na mudança de perceção de que o que se faz em Portugal é extraordinário”, partilha Maria Cunha. A estratégia de divulgação de uma marca passa, nos dias de hoje, por tudo o que chamamos de rede social.
A estratégia a adotar
Quando quiseram perceber o impacto que a Josefinas teria, Filipa e Maria pediram opiniões a influencers para poderem arrancar. Maria Guedes, do blogue Stylista, foi uma das suas inspirações.
Como nos disseram, “o resto é história”. E, de facto, é. Bloggers (e influenciadoras) internacionais, como Chiara Ferragni, autora do The Blond Salad, e Leandra Medine, do Man Repeller, foram fotografadas a usar os sapatos da marca portuguesa. Hoje, usar umas sabrinas que custam mais de três mil euros pode não ser tão estapafúrdio quanto isso. O mercado que melhor as veicula pode não ser o português, mas tudo aponta para que esta estratégia resulte.
Empreendedorismo tem a ver com apostar e, sobretudo, arriscar. A coach Joana Areias, criou o método ‘Life Purpose Coaching’, que pretende ajudar a a perceber o tipo de atividade que nos realiza totalmente. No seu livro Tu Consegues!, escreve: “Em nenhuma parte do mundo o sucesso é garantido. Nunca conheci ninguém que nunca tenha falhado. Portanto, a minha necessidade de adiar eternamente em nome de uma perfeição impossível, a minha necessidade de acertar sempre, ter sucesso sempre, ser perfeita sempre, era a arrogância de achar que iria ser o primeiro ser humano do mundo a conseguir esse efeito”.
Pegue nestas palavras e encontre a força que precisa para se lançar num negócio próprio.
Veja ainda o caso de sucesso do projeto made-in Portugal de Sofia Alves, que cria padrões coloridos para cadernos, T-shirts, lenços, entre outros objetos.
O que achou destes casos de sucesso de empreendedorismo? Já pensou em lançar o seu próprio negócio?