Sofia Ribeiro: “O teu corpo, as tuas regras”
Numa conversa intimista, Sofia Ribeiro contou-nos tudo sobre a sua luta contra o cancro da mama, a importância de nos rodearmos de quem amamos e o papel da lingerie no empoderamento feminino.
No dia em que se assinala o Dia Nacional de Luta contra o Cancro da Mama, 30 de outubro, trazemos, mais um vez, para o centro da conversa um doença comum a milhares de mulheres por todo o mundo. Sofia Ribeiro, atriz portuguesa, rosto da Intimissimi há cinco anos e sobrevivente de cancro da mama, contou à Saber Viver a sua experiência.
Entrevista a Sofia Ribeiro
Passaram-se nove anos desde que lhe foi diagnosticado o cancro da mama. O que diria à Sofia Ribeiro daquela altura? Mudaria alguma coisa?
Acho que fiz tudo o que podia fazer e que estava ao meu alcance, porque de facto há uma parte que é da medicina, e essa nós não podemos controlar, mas depois há a nossa. E a minha, acredito que a fiz, que foi tentar ao máximo cuidar de mim, alimentar-me bem, descansar o máximo que conseguisse, tentar cuidar das minhas emoções, evitar stresse e ansiedade, rodear-me de pessoas que me fazem bem, de amor, de esperança, de exemplos de outras mulheres. Olhando para trás, eu diria “boa, miúda, não imaginaria que passarias por isso desta forma”.
Ainda existe algum estigma associado ao facto de quem está a passar por uma doença oncológica gostar de se maquilhar ou fazer tratamentos de beleza. Sentiu este preconceito?
O meu foco era, de facto, ficar bem e ficar saudável e que corresse tudo bem. Obviamente que a imagem teve um impacto muito forte numa fase inicial, até porque temos uma referência de nós próprios que não corresponde à que os outros têm de nós. (…) Eu tive um baque inicial que foi o confronto com “é concreto, eu estou a passar por esta doença”, mas vivi-o de uma forma que para mim foi “isto é um momento e quero passar por ele o mais rapidamente que conseguir e sair dele ilesa”.
O lado estético, confesso que não pensei muito nele, porque sentia que a imagem que existia de mim naquele momento era a consequência dos tratamentos que estava a ter e que tinha de conviver com ela. Naturalmente que, ao fucar sem pestanas e ao ver-me sem as sobrancelhas, houve imensos momentos que me apeteceu fazer as minhas sobrancelhas e fuz. Arranjas técnicas para te sentires melhor, mas não acho que haja um estigma em relação a querermos cuidarmo-nos mais.
Como relaciona o papel da lingerie com o redescobrir da sensualidade e da autoestima da mulher depois de um cancro da mama?
O importante é cada uma de nós encontrar o que a faz sentir-se melhor e o que faz aliviar o peso que a doença traz só por si. Pode ser através de uma lingerie que nos faça sentir mais bonitas, mais sensuais, mais femininas, pode ser através da maquilhagem, pode ser através de uma peruca colorida, pode ser através de um lenço, pode ser através de um batom vermelho. É esse o papel da lingerie também, o de nos fazer sentir mais femininas.
O que é que não pode faltar no nécessaire de viagem?
Fones, protetor solar, um livro, repelente, porque os mosquitos adoram-me [risos] e biquínis.
Como é que se caracteriza em três palavras?
Acho que sou entusiasta, resiliente e teimosa, entre outras coisas, mas só me pediram três [risos].
É importante associar-se a marcas que apoiam causas sociais?
Sem dúvida. Acho que a Intimissimi tem um papel importantíssimo também como exemplo para as outras marcas perceberem a importância de se falar de temas como o cancro da mama. É também por isso que faço questão de ano para ano me juntar a eles, porque me identifico muito com o posicionamento da marca, com a filosofia, com a forma como olham para as pessoas. Felizmente, há muitas outras marcas a fazerem o seu papel, mas acho que deveria ser cada vez mais recorrente e não só em outubro. Seria importante poder ao longo do ano fazer ativações nesse sentido.
Como figura pública, e enquanto rosto da Intimissimi, como lida com as críticas por trabalhar com lingerie?
Há uns anos, mostrarmo-nos em lingerie caía o Carmo e a Trindade. Pouco e pouco, caminhámos para nos tornarmos menos boçais. Hoje, a lingerie é usada como uma peça de roupa como outra qualquer. Uma camisa de noite vira um vestido, um soutien vira um top e está tudo certo.
O caminho é continuar a quebrar tabus?
O caminho é as pessoas pararem de olhar para a vida dos outros, olharem para a sua e deixarem viver quem vive. As pessoas que me acompanham são, de um modo geral, sensatas, mas obviamente que há sempre um burgesso do estilo “estás mesmo a pedi-las”. Isso faz parte de uma sociedade em que há muitos ainda a pensar assim, e cabe-nos a nós ir desmistificando essas cabeças. Não é por uma mulher se sentir sensual numa lingerie ou lhe apetecer partilhar uma fotografia de biquíni que a faz estar a pedi-las. O nosso corpo, as nossas regras, devia ser assim.
Quando é que se sente mais bonita?
Quando acordo, porque estou como sou. No verão, o sol e a praia fazem-me sentir plena. Quando vou treinar e sinto que fiz um bom treino, sinto-me bem, cofiante, e sinto que estou a fazer coisas boas por mim, não só pela imagem mas também pela minha saúde. Sinto-me também bonita quando estou ao lado das pessoas que amo.
Acredita que o nosso pensamento tem poder?
Acredito que os nossos pensamentos têm força. A forma como nós olhamos para as adversidades e não só – também para as coisas boas da nossa vida –, e as encaramos é importante. Faz-me todo o sentido que se nos colocamos de uma forma mais positiva, mais leve, mais feliz e mais agradecida, que o caminho seja todo ele mais risonho do que o contrário.