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Mariana Monteiro: “Eu quero ser cada vez mais livre, o que não significa que não tenha medo do julgamento”

Estivemos à conversa com Mariana Monteiro sobre a sua mudança para Madrid, os próximos passos da sua carreira e o seu ADN ativista.

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Mariana Monteiro: “Eu quero ser cada vez mais livre, o que não significa que não tenha medo do julgamento” Mariana Monteiro: “Eu quero ser cada vez mais livre, o que não significa que não tenha medo do julgamento”
© Carlos Teixeira
Marta Chaves
Escrito por
Mai. 21, 2022

O ataque de riso que Mariana Monteiro teve durante esta entrevista não deixa margem para dúvidas: é divertida, disposta a rir-se com a equipa, mas, nem por isso, menos profissional. Aventurou-se por Madrid, onde está atualmente a viver, mas Lisboa não deixa de ser paragem obrigatória de tempos a tempos.

Os livros juvenis sobre igualdade de género (Mariana no Caminho da Igualdade e Mariana num Mundo Igual, ambos da Betweien Edições) estão a ganhar terreno em Espanha, mas o caminho faz-se com calma e um passo de cada vez.

Leia a entrevista com a atriz.

Entrevista a Mariana Monteiro

Atriz, apresentadora, escritora e porta-voz da associação Corações com Coroa. Entre todos os papéis que já desempenhou, qual é aquele que representou um maior desafio?

Sobretudo, ser atriz. Já há metade da minha vida que trabalho nesta área. A minha identidade está muito colada àquilo que faço, por isso é difícil escolher apenas uma coisa que me tenha marcado. Por exemplo, ser porta-voz da Corações com Coroa é, de facto, uma responsabilidade e uma missão com a qual me identifico muito e que me traz gratificação e sensação de que posso usar a minha voz e dar uma visibilidade maior a um projeto tão nobre.

Portanto, isso faz-me sentir bem. No caso do projeto dos livros da igualdade de género, posso dizer que vai ser lançado o primeiro em espanhol, ou seja, vamos fazer o lançamento em Espanha, o que significa que conseguimos mesmo atravessar fronteiras! Queríamos quebrar as barreiras dos padrões de género e fico feliz por saber que agora consigo chegar a outro país com a mesma mensagem.

Foi por este projeto que se mudou para Madrid?

Não, isto é só um plus. A tradução do livro para espanhol já está a ser feita há bastante tempo, mas, por causa da covid-19, tem vindo a ser atrasada porque tem de ser apresentada em escolas.

A minha estadia em Madrid é uma mistura de várias vontades: não só da minha evolução enquanto artista, porque estou a fazer várias formações, como da evolução pessoal, porque nunca tinha vivido fora. Como iniciei a minha carreira aos 16 anos, nunca tive uma experiência como o Erasmus, por exemplo, nem esta coisa de estar num país com outra língua, sem conhecer ninguém, num lugar desconhecido e sair um pouco da minha zona de conforto.

Falando nessas formações, já passou por países como Brasil, EUA e Espanha. Sente que é importante procurar regularmente estes tipos de formação para ir crescendo enquanto atriz?

Sim, é muito importante para mim. Ainda por cima, trabalhei muitos anos sem parar, então, quando faço um trabalho mais longo, preciso de sair desse registo, desse ritmo, e voltar a uma zona de estudo, de tentativa e erro, onde há espaço para isso, onde me posso permitir estar como estudante.

Quais são as lições mais valiosas que a sua carreira lhe tem dado?

Acho que, acima de tudo, é preciso aprender a dizer ‘não’, porque é tão importante como alguns ‘sins’. É importante também saber fasear. E, claro, falo de um lugar de privilégio e reconheço isso, mas, quando estou numa fase para parar ou para investir mais em formação, sei que posso fazer esse balanço.

Agora, com 33 anos, quais são os projetos a que gostava de se dedicar, mas ainda não teve oportunidade?

Quero explorar muito mais teatro e cinema, sem dúvida.

Voltando ao tema da nossa produção, muito vincada pela ousadia e irreverência, como é que mantém esse espírito no dia a dia? Considera-se uma pessoa com estas características?

Completamente [risos]. Acho que se não tivesse essa ousadia não teria decidido mudar-me para Madrid e explorar uma nova fase da minha vida. Acho que sem ousadia e irreverência não saímos do automatismo, e acho que é importante quebrar esse registo rotineiro.

Para mim, a rotina tem o seu lado bom, sem dúvida, e há coisas que devem fazer parte dela, mais relacionadas com o autocuidado. Mas, depois, há outras que têm de ser quebradas.

Mas há alguma atividade que tem de ter na sua vida para se manter sã?

A meditação é mesmo muito importante para mim. Estou a tentar também incorporar o ioga, mas muito lentamente ainda, porque não está a ser fácil. Já tentei várias vezes, mas desta vez estou a tentar não ser tão exigente.

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''Achamos, muitas vezes, que estamos numa sociedade justa e livre, e não estamos. Estamos ainda muito encarcerados numa série de padrões e estereótipos que nos obrigam a agir, a cumprir e fazer as coisas de determinada maneira porque é o politicamente correto''

E a dança? Sabemos que há um gosto por esta atividade.

Há [risos]. Se não fosse atriz, adorava ser bailarina. Deve ser das artes que mais admiro e, sim, preciso muito de dançar, mas de forma livre.

Há também um lado da Mariana muito livre e sem medo de julgamentos?

Não, não… Eu quero ser cada vez mais livre, o que não significa que não tenha medo do julgamento. É muito difícil libertarmo-nos do julgamento, de não julgar o outro e depois de aceitar a crítica externa, sem que esta nos afete. Há críticas construtivas que são muito importantes, mas o julgamento nocivo, eu própria padeço dele. A liberdade define-me.

Achamos, muitas vezes, que estamos numa sociedade justa e livre, e não estamos. Estamos ainda muito encarcerados numa série de padrões e estereótipos que nos obrigam a agir, a cumprir e fazer as coisas de determinada maneira porque é o politicamente correto. Agradeço imenso aos meus pais a educação que me deram, mas quero ainda romper algumas coisas, por exemplo, ‘o que é que o outro vai pensar?’. Não, eu tenho de estar mais de acordo comigo do que com o outro. Costumo dizer que a minha liberdade termina quando estou a afetar a liberdade do outro, mas a minha liberdade tem de existir independentemente do que pensa A, B ou C.

Como é que ser atriz influenciou a forma como vê a beleza e a idade?

Por um lado, sempre fui um bocado obcecada com a imagem. Era uma miúda que, com 10-11 anos, me preocupava com o que tinha vestido e não sei porquê… Ironicamente, vou parar a um sítio onde isso ainda está mais exacerbado. Se continuasse nesse nível de preocupação, ia enlouquecer, mas aconteceu-me um bocadinho o contrário. Hoje em dia, se me apetecer estar a semana toda de fato de treino, estou.

Às vezes tenho de estar em lugares de glamour, de festa, e de estar tão arranjada e composta que depois apetece-me estar o mais relaxada possível. Tenho um estilo muito eclético e tanto posso estar muito clássica como desportiva.

 

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Envelhecer assusta-a?

Sim, assusta-me. Não só o físico. Assusta-me a vinda dessa lentidão, dessa mudança, mas, ao mesmo tempo, tenho conhecido pessoas que me inspiram muito. A jovialidade da Isabel Ruth, por exemplo, está lá. E, ao mesmo tempo, reconheço que aceitarmo-nos na velhice é de uma beleza enorme.

Hoje em dia, já temos tantos recursos para adiar o envelhecimento que acaba por ser ainda mais difícil ver a lei da gravidade entrar em ação. Nesta aceitação, devemos aceitarmo-nos como podemos e como conseguimos. Não podemos exigir mais de nós. Já há tantas pressões externas, então, vamo-nos encontrar numa zona de equilíbrio.

Já falou do seu livro sobre igualdade de género e, pegando neste tema, em 2022 continuamos a enfrentar questões fulcrais na nossa sociedade. Sobre que temas acha que se deveria insistir?

Eu insisto nos mesmos, aqueles que não estão resolvidos. Quando se fala em igualdade de género e discriminação, está tudo incluído: discriminação racial, étnica, religiosa… por isso é que o mundo está como está. Acho que falta uma capacidade de aceitar o outro.

Sente que estamos a caminhar para uma sociedade mais justa ou acha antes que continuamos a andar para trás?

Não sei se é andar para trás. Acho é que parece que temos uma tendência para repetirmos padrões e crenças que estão muito enraizados e que são difíceis de quebrar. E, então, parece que evoluímos numas coisas e, noutras, parecemos um rato às voltas numa roda.

Sente que enquanto figura pública e como ativista conseguiu alertar o público para os problemas que o mundo ainda enfrenta?

Sinto, sem dúvida. Não tenho ido a escolas por causa da pandemia, mas, com os livros, faço muito zooms e é muito interessante. Se, ao início, achava que era uma estratégia falhada, agora, resulta muito bem. Cada sala de aula está com a tela e eu consigo falar ao mesmo tempo com mais de mil crianças. No fundo, vou a várias salas do País, em vez de só ir a uma região.

Sinto que aqui há logo um impacto. O projeto tem ainda uma canção em que o refrão diz “O que importa é seres tu” e acho que, realmente, gera impacto. É o que costumo dizer: nem que tenha feito diferença numa ou duas crianças, já é qualquer coisa. Também acho que não é só uma figura pública que tem essa responsabilidade, mas qualquer cidadão comum pode e deve fazer a diferença no seu dia a dia.

Por serem crianças também é mais importante para absorverem a mensagem…

Sim. E é engraçado que hoje elas já estão mais livres de preconceitos, mas, claro, é também importante que cheguem a casa, passem a mensagem e impactem os familiares mais velhos.

Lançou o livro Pensamentos de Uma Mente Inquieta. É uma mente inquieta?

Sim [risos]. Há um lado, que é um pouco do ser humano, em que nunca estou em pleno. Há sempre esta necessidade de me permitir conhecer-me mais como pessoa. Já como profissional, sinto que quero novos caminhos, que tenho uma ambição que me faz ser mais inquieta. E tenho também um pensamento muito acelerado. Às vezes, depois de uma ideia, vêm mais dez e é mais difícil focar-me.

Esta inquietude levou-a a Madrid?

Foi uma decisão que quis tomar para saber o que é viver no estrangeiro, o que é sair da minha zona de conforto, estar num lugar onde ninguém me conhece e voltar a estar incógnita. E também é um lugar de aprendizagem, com os vários cursos que estou a fazer e com a aprendizagem de uma nova língua.

Viver em Madrid é muito diferente de viver em Lisboa ou no Porto?

Bastante. Falta-me o mar. Está a ser, para mim, a maior ausência que estou a sentir. Os amigos e a família também, claro, mas o mar… Sou de duas cidades costeiras. Primeiro, vivi no Porto e, depois, morei metade na minha vida em Lisboa, junto à costa. É daquelas coisas a que só damos valor quando não as temos.

Que projetos podemos esperar da Mariana nos próximos tempos?

Estou numa fase em branco. Estou mais consciente do que não quero do que daquilo que quero. Mas como sei o que não quero, neste momento preciso, sobretudo, de me dar oportunidade de me redescobrir e é isso que estou a fazer. Neste momento, o projeto que vai merecer a minha atenção em maio será o livro traduzido em espanhol e ver como é a receção em Espanha.

Também senti, nesta pequena mudança, que não queria estar a comprometer-me demasiado aqui [em Portugal], porque senão, não estava nem num sítio, nem noutro. Portanto, as coisas que aceitei em Portugal foram todas muito pontuais. Está para sair A Hora dos Lobos, que é um projeto que estou muito curiosa para ver no ar, é o primeiro filme realizado pela Maria João Luís, que admiro imenso.

Foi um grande presente porque foi uma personagem que me pediu um registo bastante diferente do que tenho feito. É uma personagem que vem de um meio pobre, nos anos 30, num ambiente de pesca, profundo, dramático e ainda tive um sotaque para desenvolver. De resto, tenho muitas ideias e projetos que gostava de ver nascer, mas preciso da gasolina certa para eles.

O que é que diria à Mariana de 20 anos?

Diria para não ter medo de dizer ‘não’.

O cabelo é importante para mim, não só enquanto mulher, mas como artista, porque me transforma – Mariana Monteiro, atriz

A embaixadora da gama Chroma Absolu, de Kérastase

É um dos rostos da gama Chroma Absolu, de Kérastase. O cabelo é uma das suas preocupações de beleza?

Sim! Como atriz, é um dos maiores fatores de transformação, ou seja, já passei por todos os tipos de visuais. Cabelo curto, muito comprido com extensões, preto, loiro, ruivo, com rastas… Portanto, o cabelo é importante para mim, não só enquanto mulher, mas como artista, porque me transforma.

É um dos meus grandes trunfos, não só quando escolho o meu próprio visual, para a minha atitude e confiança, como quando me entrego à pessoa responsável pela caracterização de um projeto e a deixo decidir qual será o meu próximo visual.

E quais são os seus cuidados diários?

Além do básico que é utilizar um bom champô, nunca prescindo do condicionador e do protetor térmico porque uso regularmente ferramentas de calor.

Quais são os seus produtos favoritos desta gama?

O sérum térmico anti-frizz e antioxidante. Ajuda a preservar a cor, protege o cabelo do calor do secador e reduz o frizz. Sempre tive o cabelo muito liso e dificuldade em arranjar um produto que não deixasse o cabelo demasiado pesado e sem volume. E este não. Eu aplico-o e a seguir consigo ter o cabelo desembaraçado, hidratado, muito suave, mas com volume. E também adoro a máscara!

Sem contar com as mudanças relacionadas com a sua profissão, há alguma mudança de visual que tenha feito a nível pessoal de que se tenha arrependido?

Arrepender não, mas já fiz uma mudança radical que demorei a aceitar. Em 2018, cheguei ao cabeleireiro com o comprimento de cabelo que tenho agora e cortei-o acima dos ombros. A hairstylist disse “como vais cortar tanto, corta tu” e deu-me a tesoura para a mão. O primeiro pedaço cortei eu.

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