Vivemos tempos em que a positividade parece ser regra – há que ser positiva, acreditar que tudo está bem, tudo ficará bem. Mesmo quando o nosso mundo parece estar a desmoronar, quando sentimos que a nossa segurança interna já conheceu melhores dias, quando o nosso relacionamento parecia ser para a vida, quando a nossa saúde era de ferro, quando o emprego e o salário ao fim do mês estavam garantidos.
Há algo de mau em ser positiva? Não… desde que a nossa convicção de que iremos conseguir dar a volta à situação seja realmente verdadeira o que, muitas vezes, não é.
À falta de esperança numa saída, na sensação de que não temos recursos para lidar com o que nos ameaça, quantas vezes vestimos a máscara do “está tudo bem”?
Quando nos sentimos zangadas, quando estamos tristes, quantas vezes não ouvimos um “deixa-te disso”, “vai passar”, “amanhã é outro dia”? Passamos a ignorar a nossa sabedoria interna que insiste em chamar-nos a atenção para algo que está incoerente com a nossa harmonia interior.
A longo prazo, estas frases feitas deixam de ser sustentáveis e surgem as dores de cabeça, as úlceras, as artrites, a compulsão pela comida, as compras por impulso, etc.
Ignoramos e rejeitamos o que sentimos, criamos estratégias para anestesiar a dor. Esquecemos que as emoções – todas elas – fazem parte da nossa condição de seres humanos. Precisamos ser curiosas acerca das nossas emoções e saber que todas têm um propósito: fazer-nos evoluir.
Permitir que a tristeza fale connosco, permitir que a raiva nos diga o que gostaríamos que fosse, mas não é, deixar que o medo nos mostre onde estão as nossas fragilidades e o ressentimento revele o que ainda não conseguimos perdoar aos outros nem a nós mesmas.
Cada vez que tentamos esconder-nos da realidade, criamos um mundo artificial que só existe dentro da nossa cabeça e rejeitamos a possibilidade de lidarmos com ele tal como ele é e de lidarmos com os outros tal como eles são.
Talvez possamos começar por perceber que aquilo que nos incomoda não é a rejeição, mas o facto de nos sentirmos internamente sozinhas, que o que nos magoa não é a traição, mas, quem sabe, sabermos das muitas vezes que nos traímos a nós mesmas e não escutámos a nossa voz interior, que a falta de reconhecimento dos outros não esconde a nossa incapacidade para irmos, nós mesmas, em busca daquilo que é importante para nós.
Cada vez que mascaramos o que sentimos com aquilo que é suposto sentirmos vitimizamo-nos, diminuímos a nossa noção de valor próprio e a nossa coragem, rejeitamos o nosso poder pessoal de fazer escolhas e de encontrar soluções alinhadas com os nossos valores.
O que dizemos a nós mesmas e a forma como nos vemos têm consequências no modo como nos relacionamos uns com os outros, como nos atrevemos a ir em busca dos nossos sonhos, no modo como experimentamos o mundo.
Com quem será que aprendemos a fazer isto? Os comportamentos modelam-se… Cada vez que os repetimos, ensinamos e validamos outros a fazerem-no. E o ciclo do “está tudo bem” perpetua-se. Depois, um dia, surpreendemo-nos, não vimos, não percebemos. Porque os outros também têm as suas máscaras.
São Luz é astróloga e coach. Desde 2002, dedica-se a diversas áreas do autoconhecimento e do desenvolvimento pessoal como ferramentas para um melhor entendimento de cada etapa da vida. Pode acompanhá-la no Facebook e Instagram.