Conta a história que os primeiros banhos públicos terão sido edificados na Grécia Antiga, mas foi com os romanos que o termalismo se impôs por todo o império, e Portugal não foi exceção.
No entanto, a tradição termal no nosso território, semelhante à que conhecemos hoje, arrancou no século XV, quando a rainha D. Leonor fundou um estabelecimento de banhos e um hospital termal, as Caldas da Rainha, que ainda hoje funcionam na cidade com o mesmo nome.
Desde aí, foram muitos os estudos científicos que comprovaram os poderes curativos das águas minerais naturais portuguesas e há estâncias termais de norte a sul do País.
A adaptação aos dias de hoje fez com que às indicações terapêuticas se juntassem atividades de cariz mais lúdico associadas ao bem-estar e para todas as idades.
Já se fala de um novo termalismo, e este foi um tema que reuniu vários especialistas no seminário Termalismo, Nutrição e Bem-Estar: Uma Opção em Qualquer Etapa do Ciclo de Vida, organizado na e pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica, no Porto.
“O impacto positivo que as termas podem ter na saúde física e psicológica dos indivíduos está a criar uma nova procura e isso é bom para fomentar a economia da região onde estão inseridas e a saúde do País”, diz Ana Maria Gomes, professora nas áreas da Nutrição, da Bioquímica e da Farmacodinamia e investigadora no estabelecimento de ensino já mencionado.
Saúde e lazer
“Podemos dizer que houve um reposicionamento do termalismo. Este deixou de ser meramente terapêutico, a sua vertente mais clássica, transformando-se num termalismo de bem-estar e promoção de saúde que permite o desenvolvimento de uma vertente mais lúdica e de ócio que também dinamiza a economia local”, refere Elisabete Pinto, professora e investigadora em Nutrição e Saúde Pública na mesma instituição.
Para Ana Maria Gomes, “este novo mindset é importante para as termas na sua essência e no seu valor, porque estamos a falar de um recurso natural, endógeno, que está sempre enquadrado num contexto de Natureza, histórico e de património. Nesta nova linha do turismo para a saúde, é possível conciliar técnicas convencionais – a parte clínica ou terapêutica – com soluções inovadoras, que estão a ser criadas e que envolvem a nutrição, o exercício físico e permitem a requalificação do termalismo”.
Mas há algo que não mudou, continua Ana Maria Gomes, “o termalismo implica o uso de água mineral natural, seja para fins terapêuticos seja para os de bem-estar. É a composição química da água, e a sua temperatura, que consegue promover resultados excecionais nas mais diversas aplicações”.
Isto é um aspeto que difere também as termas dos spas, embora muitas das nossas estâncias hoje também tenham uma área de spa que, neste caso, é designado termal por usar águas termais.
Tipos de água
- Sulfúreas: Ricas em enxofre, são usadas no tratamento de doenças reumáticas, respiratórias, dermatológicas e músculoesqueléticas.
- Bicabornatas: São alcalinas e frias e estão indicadas para o tratamento de doenças do foro digestivo.
- Sulfatadas: São ricas em sódio e usadas para tratar problemas gástricos, dermatológicos, intestinais e eliminação do ácido úrico.
- Hipossalinas: São pouco mineralizadas e costumam ser usadas como terapêutica nas doenças metabólicas, como a gota ou diabetes, e doenças cutâneas.
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Tratamentos médicos
Olhando para a sua função primordial, as termas portuguesas são usadas no tratamento de doenças músculoesqueléticas, de pele, respiratórias, digestivas, inflamatórias e urológicas.
“A água é um recurso natural que permite tratamentos suaves, sem recurso a químicos, no entanto, os tratamentos termais têm de ser prescritos por um médico. Temos águas mais bicarbonatadas, hipossalinas, sulfúreas, sulfatadas e, quando o tratamento passa pela ingestão, os hipertensos não podem beber água rica em sódio, como as bicarbonatadas”, exemplifica Ana Maria Gomes.
É, por isso, como lembra Elisabete Pinto, que os termalistas têm sempre uma primeira consulta nos centros termais com um médico especializado em Hidrologia que faz a prescrição dos tratamentos tendo em conta o estado de saúde de cada paciente.
Os tratamentos passam pela ingestão de água, diversos tipos de banho de imersão, duches, piscina, vapores, hidromassagens, entre outros.
Para toda a família
Elisabete Pinto não tem dúvidas de que o culto do corpo e do bem-estar que se vive hoje fez com que “o perfil dos utilizadores das termas também mudasse. Se, há três décadas, quem ia para as termas eram pessoas mais velhas em busca de um tratamento terapêutico, hoje, tornaram-se mais atrativas para outras faixas etárias”.
Mesmo quem não faz um tratamento médico tem muito para fazer nas termas. “Uma coisa que se tentou desmitificar no seminário é que o termalismo é só para os idosos. Hoje, é para toda a família e, como diz, é uma forma de fazer férias e de ter momentos de paragem. São muitas as que já têm tratamentos terapêuticos e de relaxamento para crianças e que, além do tratamento de problemas respiratórios e dermatológicos, têm também programas tendência para combater a ansiedade e o insucesso escolar e soluções lúdicas para os membros da família que não estão a fazer tratamento termal”, explica Ana Maria Gomes.
Nesta última faceta, não podemos esquecer a envolvência natural das termas, que proporciona muitas atividades de lazer em contacto com a Natureza. “Essa é uma mais-valia das estâncias termais, a juntar às consultas, à reabilitação, ao exercício físico e ao aconselhamento nutricional”.
Reeducação alimentar
Olhemos, então, para a nutrição, uma aposta de muitas estâncias termais. “A terapêutica com água pode ser acompanhada por aconselhamento nutricional. Geralmente, a pessoa vai 14 dias para as termas e aproveita esse tempo para fazer uma reeducação alimentar, e os ensinamentos aí adquiridos devem, depois, ser continuados em casa, o que vai potenciar todo o bem-estar adquirido durante o período termal”, realça Elisabete Pinto.
As Termas do Gerês são disso um exemplo, tendo mesmo desenvolvido a dieta geresiana, que acompanha qualquer tipo de tratamento feito na estância. Este aconselhamento nutricional em ambiente termal é muito benéfico, por exemplo, para quem procura as termas devido “a problemas músculoesqueléticos por excesso de peso, para quem sofre de problemas inflamatórios e digestivos e até de doenças respiratórias, pois tem sido cada vez mais estudado o benefício do ómega-3 e da dieta mediterrânica neste último grupo de doenças”, alerta Elisabete Pinto.
A parte nutricional é também acompanhada por aconselhamento de exercício físico, que também pode ser aquático. “A nutrição e o exercício físico andam de mãos dadas. Até podemos ter uma alimentação saudável, mas, se formos sedentários e não contribuirmos para que o nosso balanço energético esteja equilibrado, as consequências menos positivas emergem”, avisa Ana Maria Gomes.
Além de que, acrescenta Elisabete Pinto, “as pessoas hoje não querem ser apenas magras, mas desejam estar tonificadas e ter massa muscular. E, para muitas pessoas, o equilíbrio emocional advém da prática do exercício físico”.
Sabia que os tratamentos termais prescritos pelos médicos do Serviço Nacional de Saúde são comparticipados pelo Estado em 35% com um limite de 95€ por utente?
Roteiro estâncias termais em Portugal
Algumas das termas portuguesas que, além da parte clínica, têm outras valências.