Crónica. 10 exercícios para aumentar a sua empatia
O mundo precisa de mais empatia. Precisa que nos coloquemos mais no lugar do outro, que saiamos da nossa caixinha dourada e que sintamos e ajamos muito para além de nós próprios.
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O terrível assassinato de George Floyd levantou ondas de protestos a nível global e veio relembrar, da pior forma, que ainda temos um longo caminho a percorrer enquanto Humanidade.
Muita da descriminação entre etnias, religiões, nacionalidades, classes sociais e grupos vários poderia desaparecer se todos nos habituássemos a colocarmo-nos na posição do outro. A isso se chama empatia.
A empatia é a capacidade de percecionar e compreender as emoções dos outros. Conceptualmente, podemos distinguir entre empatia cognitiva (eu consigo compreender como o outro se sente e porquê) e empatia emocional (para além de compreender a emoção do outro, eu também a sinto, como se fosse minha).
O Homem é naturalmente um ser social e a empatia é natural em nós. Existem aquilo que os neurocientistas chamam de “neurónios espelho”, que são áreas do cérebro ativadas quando vemos alguém exteriorizar uma emoção e que nos permitem criar laços empáticos e colocarmo-nos na posição dessa pessoa.
Existem, no entanto, barreiras criadas por contextos culturais, sociais e políticos que impedem uma expressão total da nossa empatia. Essas barreiras são basicamente quatro, segundo Roman Kznaric, estudioso da empatia e autor de inúmeros livros sobre o tema.
A primeira é o preconceito. Todos nós formamos opiniões baseadas em estereótipos ou em primeiras impressões, sem sequer termos um verdadeiro conhecimento da vida e das ações do outro.
Por exemplo, assumimos que as celebridades mundiais vivem uma vida perfeita, as modelos lindíssimas têm uma enorme autoestima, uma mulher executiva de sucesso é uma mãe pouco presente na vida dos filhos, as pessoas com mais dinheiro têm menos problemas, os punks são agressivos, os franceses são arrogantes, etc.
Se pensarmos bem, a lista não tem fim. Os rótulos escondem a individualidade de cada um, mas cada ser humano é único. Temos que estar disponíveis para ver para além do estereótipo e dar esse salto de curiosidade pelo outro enquanto indivíduo.
O segundo grande obstáculo à empatia é a tendência natural do Homem para obedecer à autoridade.
Ao longo da história, muitos envolvidos em grandes massacres, genocídios e violações dos direitos do Homem defendem-se dizendo que “apenas cumpriam ordens”.
Crescemos a obedecer aos pais, a seguir regras, a encaixarmo-nos numa estrutura de normas que concebemos a priori como benéficas, e, portanto, é muito difícil distanciarmo-nos e deixarmos que os nossos instintos empáticos se sobreponham. É um exercício que devemos fazer e, em caso extremos, ter a coragem de agir.
A terceira barreira é a distância. Apesar de estarmos todos conectados na web, e podermos saber sobre o que se passa do outro lado do mundo em tempo real, a distância diminui a nossa consternação, a nossa empatia.
Para a grande maioria de nós, os laços morais e empáticos mais fortes dirigem-se à nossa família, à nossa comunidade, a pessoas que conhecemos. Mas para além da distância espacial, há a distância social.
Relacionamo-nos mais facilmente com quem partilha a nossa educação, área de residência, referências culturais, religião, etnia, etc. Por vezes, não conseguimos conectar-nos com alguém só porque é diferente, mesmo que seja nosso vizinho e o vejamos todos os dias.
Finalmente, a negação. Quantas vezes não assistimos a reportagens sobre crianças que crescem com fome e, no entanto, a nossa resposta empática é ténue ou rapidamente sobreposta pela simples tarefa de ir fazer o jantar?
Stanley Cohen, sociólogo e escritor, descreveu este fenómeno. Como poderíamos viver vidas alegres e despreocupadas? Como conseguiríamos gerir a culpa e a vergonha? Seria tão difícil aceitarmos o nosso estilo de vida privilegiado face a tanto sofrimento, que, como por defesa, preferimos ignorá-lo, negá-lo, de certa forma.
A boa notícia é que a empatia, enquanto capacidade, pode ser treinada. Com os nossos filhos, com os amigos, colegas no trabalho, vizinhos e até com os desconhecidos com quem nos cruzamos no dia a dia.
As relações interpessoais positivas são um preditor de bem-estar individual, e uma atitude empática e de compaixão promove a paz e a harmonia nas comunidades.
Citando Barack Obama, “a paz não é só uma questão política, é uma questão de atitude, um sentido de empatia. É sobre derrubarmos as barreiras que criámos nas nossas mentes e corações e que na realidade não existem”.
Façamos todos um pequeno esforço. E comecemos hoje com quem está aqui, já ao nosso lado.
10 exercícios para aumentar a sua empatia
1. Quando alguém fala consigo, esteja disponível para ouvir; coloque o telemóvel de parte, concentre-se no momento e mantenha-se aberta e presente.
2. Um amigo conta-lhe uma boa notícia (por exemplo, recebeu um prémio). Observe como reage e certifique-se que dedica tempo ao momento; congratule o seu amigo, dê-lhe os parabéns sentidos, pergunte por mais pormenores, permita-se partilhar da boa notícia como se fosse consigo.
3. Em diálogo com alguém, ouça para além das palavras que lhe são dirigidas. Tente perceber nas entrelinhas as emoções do outro; quais as suas necessidades.
4. Quando alguém fala consigo, certifique-se que mais tarde recordará o que lhe foi dito. Não se trata de uma obrigação de decorar o diálogo, mas sim de assegurar que lhe está a dar toda a atenção.
5. Num caso de litígio, distancie-se da sua perspetiva, analise a perspetiva do outro e no final faça um resumo objetivo sobre as necessidades de cada parte.
6. Procure saber mais sobre uma opinião diferente da sua. Com uma atitude aberta, faça perguntas, tente obter mais informações para analisar a perspetiva do outro.
7. Treine a sua curiosidade para o que é diferente. Experimente novos percursos para o trabalho, ouça novos estilos de música, faça conversa com um estranho. Saia da sua “caixinha”.
8. Quando alguém desabafa consigo, não desvie o assunto. Ouça com disponibilidade. Faça perguntas, inteire-se da situação. Dê o seu apoio.
9. Quando pressente que alguém está triste, mesmo que não o verbalize, faça um pequeno gesto de generosidade. Ofereça um bolo, uma flor, uma música, uma imagem bonita.
10. Pratique meditação para a compaixão. Treine desejar algo positivo a alguém com quem tem dificuldades de relacionamento. Visualize essa pessoa no seu pensamento, imagine-o em criança e deseje-lhe algo de positivo.
Sara Midões é uma entusiasta do poder da Empatia e integra a Psicologia Positiva em estratégias de Comunicação & Marketing. Mãe de dois adolescentes, é praticante convicta de yoga.