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Crónica. A felicidade também é uma decisão

Crónica. A felicidade também é uma decisão

A vida é feita de escolhas. Tomamos pequenas decisões todos os dias, tomamos grandes decisões de tempos a tempos, e mesmo quando não decidimos é porque escolhemos não decidir. A felicidade também é uma decisão e eu há muito que decidi que, no que depender de mim, escolho ser feliz.

Por Fev. 18. 2020

*Acompanhe mensalmente a jornada de uma marketeer a aprender a ciência da felicidade.

Sonja Lyubomirsky, uma professora da universidade da Califórnia, investigou as variáveis que influenciam o bem-estar de um indivíduo.

Antes de mais, a herança genética, que pesa 50%. Mal ou bem, existe uma predisposição biológica para nos sentirmos felizes ou infelizes.

Depois, as circunstâncias de vida, como mudarmos de casa, perdermos o emprego ou termos um bom carro, que valem apenas 10%. Os restantes 40% estão nas nossas mãos.

Estes valores são uma referência e poderão variar de pessoa para pessoa, mas a lição é que está cientificamente provado que uma grande fatia da tarte da felicidade depende de nós.

Mas o que é isso de ser feliz?

A Psicologia Positiva não nega a existência, e até em alguns casos a necessidade, das emoções negativas. O remorso pode ser útil para repensarmos o nosso comportamento e evitarmos repetir um erro. A fúria pode ser necessária para nos insurgirmos contra injustiças fundamentais. As emoções negativas existem, fazem parte da vivência (e da sobrevivência) do ser humano, e a grande questão está na forma como reagimos e a importância que lhes damos.

Um estado de bem-estar subjetivo e psicológico não equivale a uma vida sem problemas. Forçar o que não se sente, fingir que as emoções negativas não existem e procurar um estado de êxtase histérico e permanente pode ser corrosivo, e é por isso amplamente desencorajado pela ciência do bem-estar.

A realidade é que no ano a seguir à mudança, já regressámos ao nosso ponto base de bem-estar
Sara Midões

Por outro lado, estamos sujeitos àquilo a que se designa por adaptação hedónica. Tendemos a normalizar os efeitos dos acontecimentos positivos ou negativos e, a partir de determinado tempo após o impacto inicial, voltamos ao nosso ponto normal de bem-estar.

Por exemplo: o casamento. Existe um período anterior da azáfama do planeamento, os convites, a cerimónia, a lua-de-mel. É uma fase de entusiasmo, de otimismo, de alegria, de partilha de momentos significantes com quem nos é próximo.

A seguir, convidamos os amigos para irem lá a casa, mostramos a decoração, participamos em jantares de família, olhamos para a aliança com uma estranheza boa, habituamo-nos a dizer “marido” ou “mulher”. Depois, a vida entra na normalidade. Esse período de tempo está estudado: dois anos.

Outro exemplo: mudarmos de emprego. Fomos selecionados, aumentámos a autoestima, temos uma novidade para partilhar com amigos, vivemos com entusiasmo a ideia da mudança para melhor, de irmos aprender, conhecer novas pessoas, e de um aumento salarial. Que maravilha!

A realidade é que no ano a seguir à mudança, já regressámos ao nosso ponto base de bem-estar.

Como garantir então a felicidade?

Mais do que fazermos depender o nosso bem-estar emocional de uma intervenção isolada, a melhor estratégia é a de adotar um estilo de pensar e de agir, uma prática quotidiana positiva.

Podemos fazer o paralelismo entre a dieta com o objetivo de emagrecer, cujos efeitos são limitados no tempo, por oposição à adoção de um estilo de vida saudável.

Na dieta da vida, as emoções positivas não devem ser o fim em si mesmo; não se devem forçar. É por adotar um estilo de pensar e de agir mais positivo e saudável, e fazer uma mudança de comportamento positivo de longo prazo, que beneficiaremos das emoções positivas que surgirão naturalmente.

O mais importante é ser-se real, autêntico. Será sempre a nossa melhor versão.
Sara Midões

Devemos concentrarmo-nos em viver bem, e, em consequência, experienciar emoções positivas, ao invés de forçamos emoções positivas que não existem, na esperança de nos sentirmos bem.

E viver bem, neste contexto, é ser aberto a coisas novas e praticar o otimismo. É deixar o passado para trás e focar a atenção no presente. É apreciar os sorrisos, uma paisagem bonita, um amigo que se lembra de nós, uma boa refeição.

É contar todas as coisas boas que se tem na vida e sentir-se agradecido por isso. É experimentar, explorar o desconhecido, treinar a curiosidade. É ser amável, gentil com os outros. Finalmente, se calhar o mais importante é ser-se real, autêntico. Será sempre a nossa melhor versão.

Conta-se uma lenda sobre a conversa de um ancião cherokee com o seu filho sobre a batalha que todos vivemos dentro de nós. “Filho, a batalha é entre dois lobos. Um é a negatividade; ele vive com raiva, tristeza, desprezo, culpa, vergonha, ódio. O outro é a positividade; ele vive com alegria, gratidão, serenidade, curiosidade, esperança, inspiração, vitalidade e, acima de tudo, amor.”

O filho, muito curioso, pergunta: “Pai, e qual é o lobo que vence essa luta?” Ao que o sábio responde: “Aquele que tu escolheres alimentar.”

No que depender de mim, eu escolho ser feliz.

Quer ser feliz? Adote um mindset positivo

Seja aberto, pratique o otimismo;
 Foque a atenção no momento presente;
 Aprecie as pequenas alegrias do dia a dia;
 Seja curioso: invente um novo caminho até ao trabalho, descubra um novo sabor, inicie um novo livro;
 Seja amável sempre que possível. E é sempre possível;
 Seja real, autêntico, a sua melhor versão.

Para se inspirar:

• Descubra todo o trabalho de Bárbara Fredrickson, que explorou os efeitos das emoções positivas e o conceito de mindset Pode ver aqui uma palestra na Aalto University, na Finlândia.

Quer descobrir o seu índice de Positividade? Faça o teste, aqui.

Sara Midões, trabalha em marketing e gestão comercial, e partilhará com os leitores da Saber Viver todas as maravilhas da descoberta da ciência do bem-estar. É mãe de dois adolescentes e praticante convicta de yoga.