Vivemos a época do outono e é normalmente uma época que nos custa mais; que nos leva a trabalhar mais interiormente, a recolher e a estar mais introspetivo. E isto custa-nos porque não fomos educados para viver os finais de ciclo.
A vida é feita de ciclos. É um ciclo com vários ciclos que contém dentro de si outros ciclos. Cada ciclo inicia com o nascimento ou a materialização, segue-se o crescimento e o amadurecimento e depois vem o declínio e o final.
A natureza ensina-nos que nascemos e morremos todos os dias, todos os meses, todos os anos. O nosso ego facilmente se apega e dificulta o processo. Na vida devemos fluir livremente e cada um ao seu ritmo, mas o nosso ego, esse, dá-nos a ilusão de que controlamos ou possuímos algumas coisas, pessoas ou momentos impedindo-nos de usufruir e fluir em equilíbrio natural. Se nos distraímos, queremos logo “congelar” o tempo, os eventos, as relações, ou a vida.
Imaginemos que todos os dias vestimos uma nova peça de roupa sem despir primeiro a já usada no dia anterior, e assim por diante. Ao final de poucos dias não nos conseguimos mexer de tão “enchoriçados” que estamos. Assim ficamos se quisermos reter a vida, controlar e aprisionar os ciclos de vida.
3 exemplos concretos de controlo dos ciclos de vida:
• Não poderei receber livros novos numa estante se não me libertar primeiro dos livros que já não preciso.
• Não terei espaço para trabalhar com clientes novos se não me soltar e terminar os projetos antigos.
• Não poderei viver em equilíbrio uma nova relação se não deixar as anteriores bem resolvidas.
A nossa sociedade não nos ajuda a clarificar este assunto. Se por um lado mostra-nos um caminho evangelizador de receitas tais como “O que é preciso é andar para a frente…” ou “Não podes apreciar a beleza da lua se continuas a chorar pelo sol…”, por outro lado, ensina-nos ou cultiva a dor e o sofrimento da perda, castigando e julgando socialmente quem não fizer o luto de alguém ou de uma situação.
Acontece também queixarmo-nos da educação que recebemos dos nossos pais ou professores, pela sua rigidez, falta de apoio, ausência ou excesso de castração, mas normalmente repetimos o padrão.
Acontece também encontrar alguém que nos diz ter 20 anos de experiência e que essa antiguidade lhe dá o direito de ser superior aos outros. Normalmente quando precisa de comunicar o facto, é porque a experiência se resume a dois anos repetida 10 vezes.
Como funcionam os ciclos?
Uma árvore começa a sua vida quando a semente germina, descobre a verticalidade e se desenvolve, dá flores que fecundadas geram frutos e, quando esse fruto amadurece e é apanhado e comido ou simplesmente cai e se degrada na terra, vai por sua vez libertar uma nova semente e de novo temos mais um ciclo.
Com um projeto de trabalho é semelhante. Temos uma ideia, organizamo-nos e materializamos essa ideia, criamos um produto que cresce e se implementa no mercado e na vida das pessoas, e ao vender esse produto estamos por um lado a entregá-lo a quem dele precisa e, ao mesmo tempo, vamos faturar e receber pelo nosso tempo, energia e dedicação. Se não entregarmos o produto, não podemos colher os resultados, o pagamento.
Com os relacionamentos será semelhante. Surge um interesse, uma imagem, um desafio. Dá-se uma aproximação e consolida-se uma relação que no inicio pode ser incerta, mas que com o tempo amadurece, estabiliza, permitindo-nos crescer com ela. Até que há um dia que esse crescimento, essa satisfação, esse prazer de estar junto desaparece, e aí está na hora de fechar o ciclo, de soltar a relação.
Se não o fizermos a bem e de consciência, acabamos por nos magoar e magoar a outra pessoa, pois a partir de certo momento essa relação passa a ser de desgaste, de controlo, de posse, de condicionamento onde o saldo é sempre negativo.
Há que deixar terminar, soltar, desapegar, viver os finais de ciclo, libertar para ser pleno, ser inteiro no viver o agora, estar livre para o futuro e, ao mesmo tempo, dignificar todo o passado. Para tal precisamos de preparar e aceitar a morte, o desfecho, o final, como parte integrante da vida. Quando não temos esta consciência, acabamos por viver nas lembranças do passado e na projeção do futuro, sonhando e idealizando, perdendo assim a experiência do agora, a a oportunidade de desfrutar e evoluir.
Alexandre Saldanha da Gama é um conceituado consultor de Feng Shui de Portugal e da Europa, e autor do livro ‘Feng Shui @ Lares e Costumes Portugueses’. Estudioso de pessoas e da sua energia, criou a marca Feng Shui Integrativo através da qual orienta seminários, cursos, palestras, e faz consultas de astrologia do ki das 9 estrelas. Desenvolve e acompanha in loco projetos de decoração, dá consultas de Feng Shui e faz limpezas energéticas de espaços.