Bem-estar

Crónica: Feng Shui e os ciclos de vida

“Há que deixar terminar, soltar, desapegar, viver os finais de ciclo (…),  estar livre para o futuro e, ao mesmo tempo, dignificar todo o passado”.

Untitled-7 Untitled-7 Untitled-7
Crónica: Feng Shui e os ciclos de vida Crónica: Feng Shui e os ciclos de vida
© twenty20/carolina carvalhal
Alexandre Gama, cronista
Escrito por
Nov. 25, 2019

Vivemos a época do outono e é normalmente uma época que nos custa mais; que nos leva a trabalhar mais interiormente, a recolher e a estar mais introspetivo. E isto custa-nos porque não fomos educados para viver os finais de ciclo.

A vida é feita de ciclos. É um ciclo com vários ciclos que contém dentro de si outros ciclos. Cada ciclo inicia com o nascimento ou a materialização, segue-se o crescimento e o amadurecimento e depois vem o declínio e o final.

A natureza ensina-nos que nascemos e morremos todos os dias, todos os meses, todos os anos. O nosso ego facilmente se apega e dificulta o processo. Na vida devemos fluir livremente e cada um ao seu ritmo, mas o nosso ego, esse, dá-nos a ilusão de que controlamos ou possuímos algumas coisas, pessoas ou momentos impedindo-nos de usufruir e fluir em equilíbrio natural. Se nos distraímos, queremos logo “congelar” o tempo, os eventos, as relações, ou a vida.

Imaginemos que todos os dias vestimos uma nova peça de roupa sem despir primeiro a já usada no dia anterior, e assim por diante. Ao final de poucos dias não nos conseguimos mexer de tão “enchoriçados” que estamos. Assim ficamos se quisermos reter a vida, controlar e aprisionar os ciclos de vida.

3 exemplos concretos de controlo dos ciclos de vida:

Não poderei receber livros novos numa estante se não me libertar primeiro dos livros que já não preciso.

Não terei espaço para trabalhar com clientes novos se não me soltar e terminar os projetos antigos.

Não poderei viver em equilíbrio uma nova relação se não deixar as anteriores bem resolvidas.

Há que deixar terminar, soltar, desapegar, viver os finais de ciclo, libertar para ser pleno, ser inteiro no viver o agora, estar livre para o futuro e ao mesmo tempo dignificar todo o passado.
Alexandre Gama Alexandre Gama

A nossa sociedade não nos ajuda a clarificar este assunto. Se por um lado mostra-nos um caminho evangelizador de receitas tais como “O que é preciso é andar para a frente…” ou “Não podes apreciar a beleza da lua se continuas a chorar pelo sol…”, por outro lado, ensina-nos ou cultiva a dor e o sofrimento da perda, castigando e julgando socialmente quem não fizer o luto de alguém ou de uma situação.

Acontece também queixarmo-nos da educação que recebemos dos nossos pais ou professores, pela sua rigidez, falta de apoio, ausência ou excesso de castração, mas normalmente repetimos o padrão.

Acontece também encontrar alguém que nos diz ter 20 anos de experiência e que essa antiguidade lhe dá o direito de ser superior aos outros. Normalmente quando precisa de comunicar o facto, é porque a experiência se resume a dois anos repetida 10 vezes.

Como funcionam os ciclos?

Uma árvore começa a sua vida quando a semente germina, descobre a verticalidade e se desenvolve, dá flores que fecundadas geram frutos e, quando esse fruto amadurece e é apanhado e comido ou simplesmente cai e se degrada na terra, vai por sua vez libertar uma nova semente e de novo temos mais um ciclo.

Com um projeto de trabalho é semelhante. Temos uma ideia, organizamo-nos e materializamos essa ideia, criamos um produto que cresce e se implementa no mercado e na vida das pessoas, e ao vender esse produto estamos por um lado a entregá-lo a quem dele precisa e, ao mesmo tempo, vamos faturar e receber pelo nosso tempo, energia e dedicação. Se não entregarmos o produto, não podemos colher os resultados, o pagamento.

Com os relacionamentos será semelhante. Surge um interesse, uma imagem, um desafio. Dá-se uma aproximação e consolida-se uma relação que no inicio pode ser incerta, mas que com o tempo amadurece, estabiliza, permitindo-nos crescer com ela. Até que há um dia que esse crescimento, essa satisfação, esse prazer de estar junto desaparece, e aí está na hora de fechar o ciclo, de soltar a relação.

Se não o fizermos a bem e de consciência, acabamos por nos magoar e magoar a outra pessoa, pois a partir de certo momento essa relação passa a ser de desgaste, de controlo, de posse, de condicionamento onde o saldo é sempre negativo.

Há que deixar terminar, soltar, desapegar, viver os finais de ciclo, libertar para ser pleno, ser inteiro no viver o agora, estar livre para o futuro e, ao mesmo tempo, dignificar todo o passado. Para tal precisamos de preparar e aceitar a morte, o desfecho, o final, como parte integrante da vida. Quando não temos esta consciência, acabamos por viver nas lembranças do passado e na projeção do futuro, sonhando e idealizando, perdendo assim a experiência do agora, a a oportunidade de desfrutar e evoluir.

Alexandre Saldanha da Gama é um conceituado consultor de Feng Shui de Portugal e da Europa, e autor do livro ‘Feng Shui @ Lares e Costumes Portugueses’. Estudioso de pessoas e da sua energia, criou a marca Feng Shui Integrativo através da qual orienta seminários, cursos, palestras, e faz consultas de astrologia do ki das 9 estrelas. Desenvolve e acompanha in loco projetos de decoração, dá consultas de Feng Shui e faz limpezas energéticas de espaços.

Últimos