Crónica. A importância de alongar o corpo: yoga vs. alongamentos

Muito se confunde e compara o yoga com sessões de alongamento. Apesar da persistência em acreditar que o yoga não passa de uma forma elaborada de alongamentos, facto é que são dois coisas distintas.

O yoga* é uma metodologia muito completa e complexa que leva ao bem-estar físico e mental, na qual se pode, de facto, incluir alongamentos no final das práticas de Hatha yoga**.

Alongar é uma necessidade

O alongamento, no que se refere à saúde e condicionamento físico, é o processo de colocar partes específicas do corpo numa posição que alonga os músculos e os tecidos moles associados (tendões e ligamentos).

O alongamento melhora a flexibilidade, que é uma das qualidades físicas fundamentais.

Alongar corretamente é mais técnico do que só esticar as pernas num banco de jardim. Existem métodos e técnicas para se conseguir alongar sem correr o risco de criar lesões.

Se não for desportista, alongar os músculos durante o dia será sempre benéfico para aliviar tensões acumuladas (físicas ou emocionais). Do ponto de vista neuromuscular, alongar os músculos antes de se ir deitar terá um impacto mais profundo, pois é durante o sono que o corpo se regenera.

De uma forma geral, se pretende melhorar a sua amplitude de movimento, será sempre mais benéfico alongar os músculos quando estão já quentes (serão mais maleáveis diminuindo a possibilidade de lesões e possibilitando alcançar uma amplitude de movimento mais profunda ).

Quando temos uma prática regular de alongamentos, várias alterações começam a ocorrer no corpo e, especificamente, nos próprios músculos, mas não só. Os outros tecidos conjuntivos, tal como a fáscia, os tendões, os ligamentos, a pele e cicatrizes, começam a adaptar-se ao processo de alongamento e beneficiar do mesmo.

Contudo, existe alguma controvérsia quanto à eficácia do alongamento para prevenir lesões.

Vários estudos científicos não constataram redução na incidência de lesões como resultado da prática de alongamento. Por outro lado, existem também muitos estudos que puderam comprovar os benefícios do alongamento na redução de lesões.

De forma geral, conclui-se que os benefícios dos alongamentos decorrem do seu efeito a médio e longo prazo, melhorando a flexibilidade, e não de um efeito imediato por alongar logo antes da prática de exercícios.

As lesões vir a piorar se a intensidade do alongamento não for adaptada
Jean-Pierre de Oliveira

Portanto, só diminuiremos lesões quando, alongando repetidamente, tivermos melhorado a flexibilidade. O importante é perceber que os efeitos se farão sentir a médio e longo prazo, tal como acontece para sentir os benefícios de exercícios de força e de resistência.

Se estiver a alongar e não sentir alguma tensão no músculo alvo é indicador de que não precisa de alongamento, pois não está contraído ou tenso.

Regra geral, se o músculo não estiver tenso nem a criar problemas, não há necessidade de alongar, e esta deveria ser uma regra a seguir para a maioria das pessoas. Mas, como em tudo, e de forma geral, existem exceções, como pode ser o caso de atletas que procuram um resultado específico e, por isso, necessitem de mais flexibilidade para melhorar a sua performance num desporto definido.

Para regressar a uma situação natural de homeostase é necessário aplicar este princípio: não alongar todo o corpo da mesma forma e com a mesma intensidade, mas procurar alongar especificamente as zonas tensas ou comprometidas que precisam de ser trabalhadas.

Quais os erros mais comuns e cuidados quando alongamos?

Evitar um alongamento geral se existirem discrepâncias específicas em determinadas zonas do corpo: esta forma de alongar o corpo só irá promover a manutenção dos desequilíbrios.

Em caso de lesões, estas podem vir a piorar se a intensidade do alongamento não for adaptada (em lesões recentes, por exemplo, o alongamento poderá ter de ser mais suave).

Para os atletas, certos alongamentos podem levar a perda de efetividade resultando numa baixa de rendimento.

Quais os riscos de não alongar o corpo?

  • Aumento de tensões;
  • Falta de flexibilidade, o que poderá a médio/longo prazo provocar desequilíbrios;
  • Lesões que irão prejudicar o bom funcionamento do corpo e do sistema nervoso.

Yoga (Hatha Yoga) ou alongamentos, qual escolher?

Fica claro que, dependendo dos seus objetivos pessoais, os alongamentos podem ajudá-la a recuperar de uma lesão, a tornar-se mais flexível, a melhorar o seu desempenho atlético ou trabalhar uma área problemática específica do seu corpo, como por exemplo a parte inferior das costas?

E já que precisa de alongar, porque não aproveitar para conectar o movimento do corpo e as flutuações da sua mente ao ritmo da sua respiração? Porque não aproveitar para ganhar força ou melhorar a sua postura, desenvolver as suas capacidades de foco e concentração?

Isto é o que o yoga lhe pode oferecer. Alongar com mais consciência e exercícios complementares. Afinal, somos bem mais do que só um corpo.

Jean-Pierre de Oliveira é professor de yoga, autor e um earth activist. A sua inspiradora abordagem ao yoga adapta esta sabedoria antiga à vida dos ioguis modernos como um estilo de vida além das aulas. É conhecido pelo seu estilo genuíno de ensino e instrução técnica profissional reconhecida que o tem levado a participar em diversos eventos.

*Yoga: metodologia complexa que inclui ferramentas variadas para alcançar o seu objetivo; o controle das flutuações mentais.
**Hatha yoga: é uma das ferramentas do yoga, abrange diferentes técnicas visando o controle da respiração, o desenvolvimento da flexibilidade e promove o relaxamento.
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