#desafioaceite é uma rubrica que tem como objetivo mostrar como podemos desafiar-nos a nós próprias, explorando situações fora da zona de conforto. Este desafio também pode ser seu. Partilhe connosco a sua experiência.
Nunca fui grande atleta ou amante de desporto. Na escola, os corta-matos eram um pesadelo. Basta contar que quando tinha 12 anos fiquei em último lugar na corrida da escola e acho que desde então nunca recuperei.
Lembro-me de chegar a casa lavada em lágrimas, para espanto dos meus pais que sabiam o quanto eu detestava correr, daí não compreenderem a minha desilusão. Na verdade, nem eu compreendia porque estava tão triste com algo que eu não me importava, mas acho que o facto de ser a última veio apenas confirmar que eu não fui feita para praticar desporto.
Talvez tenha sido este trauma que sempre me fez odiar qualquer coisa que tivesse a ver com corrida. Ou talvez, esta seja apenas a minha maneira de intelectualizar a minha preguiça.
Mas, se há algo que 2019 me provou foi que, o desporto é mesmo para toda a gente. Depois de uma intervenção para resolver as minhas dores de costas e de recuperação com fisioterapia, decidi que estava na altura de me propor a um desafio. Afinal, agora já não tinha a desculpa das dores que antes me assombravam, e queria por as minhas “novas” costas à prova.
Decidi fazer o download da app Couch to 5K, que propunha pôr-me a correr cinco quilómetros em nove semanas. Segui esta, do Serviço Nacional de Saúde Britânico, porque vivo em Inglaterra, mas existem imensas aplicações deste género, completamente gratuitas.
Como funcionam? Durante meia hora somos acompanhados por um treinador que nos vai dizendo quanto já corremos e quanto ainda nos falta, com dicas de como melhorar a nossa técnica. O objetivo é começar do zero e completar três corridas por semana.
Semana 1 a 4: Devagar se vai ao longe
O que mais me interessou nesta app foi o facto de ser desenvolvida a pensar em pessoas que, tal como eu, nunca correram na vida, e fazê-las chegar aos cinco quilómetros de corrida consecutiva.
A primeira semana foi surpreendente, as corridas foram apenas de um minuto intercalado com três minutos a andar. Percebi que ainda tinha muito que correr, porque no primeiro dia este minuto pareceu-me interminável.
Mas pela terceira semana, já corria três minutos de seguida, num total de nove minutos ao longo do treino. Parece pouco quando quantificado desta forma, mas acredite: o facto de conseguir correr mais do que um minuto de seguida, foi uma grande motivação para mim.
Na quarta semana, já eram cinco minutos e, na quinta semana cheguei aos oito minutos consecutivos.
Semana 5 a 8: A corrida vai comigo de férias
Mas o grande desafio veio no final da quinta semana. Fui de férias para casa, no Algarve, e decidi que não iria deixar o desafio de lado.
Nada melhor do que trocar a poluição de Londres pelo ar do mar e aproveitar as férias para correr pela Ria Formosa. O meu pai, que nunca fez desporto a vida toda, mas que aos 69 anos decidiu começar a exercitar o corpo, foi a minha grande motivação. Na última corrida da quinta semana corremos 20 minutos de seguida e eu nem queria acreditar.
Aqui a motivação começou a ser outra, já que este foi o marco que eu precisava. Se consigo correr 20 minutos, também consigo chegar ao objetivo final de cinco quilómetros em 30 minutos. E assim foi.
Estávamos em Setembro e, de volta a Londres, os dias tornavam-se mais frios e escuros ao fim do dia. Aqui valeu-me ter um parceiro de corrida, neste caso o meu namorado, para aquela motivação mútua depois do trabalho, quando o que menos apetece é ir correr à chuva.
Semana 9: Eu agora corro, como assim?
Depois de completar as nove semanas da app pus-me à prova. Inscrevi-me numa corrida de 5km, às 9h da manhã de um sábado chuvoso de outubro. Mal acordei nesse dia e vi o tempo lá fora, amaldiçoei o dia deste verão que decidi que era boa ideia começar a correr. Mas lá fui eu e outras 280 pessoas.
A corrida contava com voluntários que iam batendo palmas à medida que passávamos por eles, para dar uma força extra, e foi mesmo impressionante como isso teve um efeito positivo em mim.
Nesta corrida já não tinha o treinador da app para seguir-me, então tornou-se mais difícil medir o tempo. A meio do percurso (achava eu que era o meio!), decidi perguntar a um dos voluntários quanto faltava. Afinal eram cinco voltas ao parque e eu apercebi-me que ainda só tinha dado duas.
Como assim? “Não vou conseguir! Mais três voltas?”. As pernas pesavam, os pensamentos de derrota não paravam, mas lá ao fundo uma vozinha dizia “é só mais um bocadinho”, e depois mais outro e, assim, cheguei ao fim. Fiz 5km em 36 minutos e, desta vez, não cheguei em último!
Com o desafio concluído, a verdade é que ainda tenho muito para aprender nestas lides da corrida. Mas se, tal como eu, detesta correr, e quer começar a mexer o corpo, estas dicas são para si.
Eis o que aprendi
1. Não precisa de ser super fit para correr
Tenho uns quilinhos a mais, nunca gostei de correr e não adoro desporto. Não sou o protótipo de atleta, mas nenhum de nós precisa de o ser. Esta ideia que nos é vendida por marcas de que quem corre tem um certo tipo de corpo não é só mentira como desmotivante.
Aliás, não é essa a questão? Estamos a correr por nós, para sermos mais saudáveis, fisica e mentalmente, não porque já somos obras perfeitas e acabadas. Ninguém é.
2. Correr não é uma questão de estilo
Claro que uma roupa desportiva que nos agrade ajuda à motivação. Mas de que vale gastar imenso dinheiro em equipamento de primeira gama quando depois não o vamos utilizar com frequência?
O primeiro passo é começar com o que temos e depois analisar as nossas necessidades. Qualquer que seja o equipamento desportivo que tem em casa pode utilizá-lo para correr, não precisa dos fit bits e das últimas sapatilhas da moda.
3. Torne a coisa divertida
Ainda não acredito nas pessoas que dizem que adoram correr. Pessoalmente, a minha parte preferida é o fim. Por isso preciso sempre de algo que torne a coisa mais divertida.
Por exemplo, comecei a colocar uma máscara hidratante no cabelo e apanhá-lo ao alto para correr. Depois era só meter-me no banho quando chegava a casa. Hora da tortura tornou-se a hora da beleza.
4. Arranje um parceiro de corrida
Seja uma amiga, o seu mais que tudo, a mãe, o pai ou o cão, correr acompanhado é o melhor remédio. Há que partilhar o sofrimento, a motivação e algumas alegrias pelo meio.
5. Tenha orgulho nas pequenas metas
Um minuto, dois ou trinta. Não importa em que altura da sua jornada está, o que importa é que está a correr. Escolher fazer algo que podemos não gostar, mas que sabemos que nos faz bem é o mais importante.
Na dúvida, não pense duas vezes: pegue em si, nas sapatilhas e toca a correr.