Se eu precisava de mais uma desculpa para comer chocolate? Provavelmente não, mas não ia deixar passar a oportunidade. Comer chocolate enquanto queimo calorias pareceu-me o cenário perfeito para uma hora de indulgência sem culpas. Mas confesso que tinha as minhas dúvidas.
A primeira vez que ouvi falar de chocolate yoga torci o nariz. Não sou expert em ioga e, por muito que não queira admitir, fazer exercício não está no topo das minhas atividades preferidas. Mas qualquer coisa nesta mistura de conceitos opostos (comer doces enquanto fazemos exercício?) deixou-me de pé atrás.
Ainda assim decidi experimentar. A aula ainda só está disponível em Londres, mas há fortes probabilidades de a tendência de associar comida e bebidas ao ioga chegar a Portugal brevemente. Até agora, o que encontrámos por cá foram eventos que unem o cacau ao ioga, mas não como parte integrante da mesma experiência.
Já existem aulas de ioga com cerveja ou vinho, por exemplo. Mas para a instrutora precursora do chocolate yoga em Londres, Guzel Mursalimova, o chocolate era a escolha óbvia. A instrutora confessa que adora chocolate, mas que quando o come, só se lembra do primeiro quadrado ou do último, raramente se recorda de todos os que comeu no entretanto.
“O yoga com chocolate tem tudo a ver com aproveitar mais os prazeres simples da vida e como resultado avivar as nossas sensações”, explica. A aula prometia ser “revigorante, com vinyasa yoga, para desafiar o corpo, e uma meditação com chocolate para equilibrar a mente”.
Segundo a professora, os benefícios desta aula são semelhantes aos da prática de ioga na vertente mais tradicional: “aumenta a nossa autoconsciência, alivia o stress, melhora a concentração. Além disso, o chocolate negro vegan, utilizado nas aulas, é uma fonte de antioxidantes, pode reduzir o risco de doenças do coração e melhorar a função cerebral”.
Chocolate yoga: o teste derradeiro
Numa quinta-feira chuvosa, subi a um terraço com vista sobre a cidade de Londres para a minha aula de chocolate yoga. Os tapetes estavam já estendidos à nossa espera, com os arranha céus do distrito financeiro como pano de fundo.
A banda sonora? O som de ambulâncias e do trânsito que não parava, apesar dos seis andares que nos separavam da vida real.
Cada uma das oito participantes teve direito a um saquinho com duas barras de chocolate negro, um com sabor a menta e outro temperado com sal marinho. Pensei para mim “vamos comer DUAS barras de chocolate? Ui!”. A esta altura as minhas expectativas ainda ficaram mais altas, já que não fazia ideia do que esperar.
A instrutora deu então inicio à aula. Sentámo-nos no chão em círculo e Guzel explicou que a sessão se dividia em duas partes. Nesta primeira, iríamos fazer uma curta meditação com chocolate. Depois, avançaríamos para a parte mais ativa da aula. E acabaríamos novamente como começámos – a comer chocolate.
Tirei um quadrado da minha tablete e meti-o na boca. Fechei os olhos e segui a voz da professora. “Agora vamos saborear o nosso chocolate como se fossemos crianças a prová-lo pela primeira vez”.
Ok… Nunca comi chocolate com tanta atenção, para dizer a verdade. Normalmente uso o chocolate para dar alegria a momentos mais aborrecidos, como uma tarde no escritório, ou para acompanhar um serão em frente à televisão (culpadas, levantem as mãos por favor!).
A instrutora pedia que focássemos a nossa atenção na forma como o pedaço de chocolate se derretia na boca e em todas as sensações de calma que estávamos a sentir. Esta foi, sem dúvida, a melhor parte de toda a aula!
Estava já a entrar em estado zen quando a professora nos pediu para abrirmos os olhos e voltarmos aos nossos tapetes. Tal como disse, não sou perita em desporto e conto pelas mãos dos dedos as vezes que fiz ioga. Estava pronta para depois de um início tão tranquilizante, que este ioga fosse suave e igualmente relaxante. Nada disso!
Estava na hora de queimar calorias com posições de nível avançado. Se calhar iludi-me, mas estava certa de que para uma aula tão extravagante como chocolate yoga apenas requereria um nível básico. Assim como um incentivo para as pessoas experimentarem ioga de uma forma divertida. #SóQueNão!
Esta parte da aula não foi nada divertida para mim. Primeiro, porque me esqueci do meu elástico para o cabelo (erro de principiante…). Cabelo nos olhos, na boca, um desastre enquanto mudava de posição. Para cima, para baixo, para o lado e para o outro.
Segundo, porque tal como já perceberam, sou principiante nestas andanças então não sei o que quer dizer a posição de “cão com a cabeça em baixo”. O quê? Olhei para a professora, mas ela apenas declarava nomes de posições, não exemplificava.
Olhei então esperançosamente para a minha colega do lado, apenas para descobrir que ela devia estar no nível super, mas super, avançado. As instruções continuavam a surgir ininterruptamente e eu dei o meu melhor para acompanhar.
Na posição de “guerreiro”, até consegui equilibrar o meu corpo e estava a sentir-me confiante quando a professora chega perto de mim para me ajudar. Nunca é sinal de grande talento quando a professora precisa de ajudar a “ovelha negra” da aula, certo?
Como incentivo depois desta performance de principiante, comecei a pensar no chocolate que ainda tinha de para comer no final da aula. Depois da atividade física, era tempo de nos deitarmos no tapete e da professora passar alguns óleos essenciais pelo nosso nariz enquanto relaxávamos de olhos fechados.
No final, voltámos ao círculo para uma última e curta meditação com chocolate. Nesta altura já estava pronta para ir para casa e nem queria mais chocolate. Ao todo devo ter comido quatro quadrados pequenos de chocolate negro, o que foi mais do que suficiente.
O veredito? Não fiquei rendida. Por um lado, a meditação com chocolate até me fez repensar a forma como saboreio a minha comida. Comer devagar, prestando mais atenção a cada colherada, melhora a digestão e previne que comamos demasiado, entre outros benefícios para a saúde.
Por outro lado, conhece aquela frase, em bom português, que explica tudo e nada ao mesmo tempo – “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”?. Foi esta a conclusão a que cheguei. Ao contrário do que pensei, chocolate e ioga não são a mistura mais harmoniosa.
Esperava uma experiência imersiva, mas o que experienciei foi algo que me pareceu forçado. Será que precisamos mesmo de um incentivo para fazer exercício físico que não seja o simples facto de nos fazer bem? Pessoalmente, acho que chegámos a este cúmulo, em que tudo quer ser mais do que aquilo que é. O ioga está bem e recomenda-se, não precisa de aditivos.
Gostava de experimentar esta aula? Leia ainda a entrevista com a professora de ioga e life coach Catarina Lino.