Neste caminho da sustentabilidade e de redução do desperdício, a higiene feminina é sem dúvida dos meus temas preferidos, não só pelo impacto que os produtos descartáveis como pensos higiénicos e tampões têm na nossa saúde, mas também no planeta.
Sabia que este é um dos tipos de lixo que mais encontro nas praias? Acabam por ir lá parar uma vez que são indevidamente colocados nas sanitas e não são filtrados nas estações de tratamentos de águas.
Das inúmeras limpezas de praia que faço, posso dizer-lhe que já encontrei tampões, aplicadores de tampões, pensos diários e pensos higiénicos em enormes quantidades.
Estes produtos demoram centenas de anos a degradarem-se e enquanto se degradam nas praias, vão libertando os seus constituintes e contribuindo para a morte de inúmeros animais marinhos, que os consomem pensando que se trata de alimento.
Investiguei ainda um pouco sobre os constituintes destes produtos e o impacto que têm sobre a nossa saúde, uma vez que eu era alérgica a alguns deles. Percebi que não há legislação que obrigue a identificação nos rótulos de todos os componentes destes produtos, o que não nos traz segurança nenhuma nem nos permite perceber a quais componentes somos alérgicas.
Percebi ainda que os pensos diários e higiénicos não permitem que a nossa pele respire, nem nos permitem ter uma relação saudável com o nosso fluxo: não conseguimos perceber a quantidade de fluxo, qual o cheiro nem a cor do mesmo (pois estas são alteradas pelos próprios componentes presentes nestes produtos).
E já parou para pensar que nas campanhas publicitárias destes produtos, o fluxo é azul?
Alternativas sustentáveis para a higiene menstrual
Quando comecei a procurar alternativas encontrei os pensos higiénicos em tecido que são laváveis e reutilizáveis. Pode parecer-lhe estranho, mas a verdade é que são confortáveis e não libertam mau cheiro.
Se os utilizar recomendo que faça uma pré-lavagem quando vai tomar banho, por exemplo, e depois coloque na máquina juntamente com toalhas por exemplo, para que fiquem bem lavados.
Existe ainda a opção das cuecas menstruais, que têm uma espécie de penso higiénico incorporado. Aguentam bastante fluxo e lavam-se normalmente como qualquer outra peça de roupa.
Há ainda o copo menstrual que foi inventado (espante-se!) em 1937, mas só nos últimos anos foi largamente difundido. Feito de silicone cirúrgico, é um material seguro para o nosso organismo.
Consegue encontrar várias marcas no mercado e dois tamanhos: o mais pequeno para quem ainda não fez parto vaginal e o maior para quem já fez. Mas há ainda outras questões que podem interferir na escolha do tamanho e também na dureza do próprio copo.
Convido-a a visitar os sites de algumas marcas, bem como a espreitar vídeos disponíveis na Internet que explicam exactamente como se coloca e se remove o copo.
Apenas deverá ter o cuidado de o esterilizar quando o compra e depois no final de cada menstruação; garantir que não permanece mais de 12 horas com o copo e que quando o retira e volta a colocar o desinfecta correctamente (basta desinfectar, não precisa de esterilizar durante aquele ciclo menstrual).
Posso garantir-lhe que a sua vida nunca mais será a mesma! Tenho várias amigas (e eu incluo-me neste grupo) que confessam ter descoberto uma nova vida depois do copo. A verdade é que nos esquecemos que o estamos a usar! Simplesmente não o sentimos.
Deixe-me ainda partilhar outra situação que acabou por acontecer comigo, percebi que o copo menstrual permite também conhecermo-nos melhor, não só o nosso corpo mas também o nosso fluxo, a sua quantidade, cor e odor. Estes são sem dúvida indicadores importantes sobre a menstruação.
Confesso que fiquei rendida, apesar de não ter sido logo à primeira, por ter tido dificuldade na colocação e por terem existido algumas fugas. Por isso não desista, informe-se junto das marcas. Algumas até permitem devolução do dinheiro caso não esteja satisfeita.
Tendo em conta as várias opções: os pensos reutilizáveis, as cuecas menstruais e o copo menstrual, vá experimentando e procurando mais informação.
Cuide da sua saúde e da do planeta. E comece já hoje!
Ana Milhazes, 34 anos, socióloga, formadora, instrutora de Yoga, autora do Ana, Go Slowly, um blogue sobre tudo aquilo que nos leva em direcção a uma vida mais feliz, baseada no ser em vez do ter. É ainda fundadora do movimento Lixo Zero Portugal e vive com a missão diária de fazer o mínimo de lixo possível, de partilhar os desafios que enfrenta e de inspirar a mudança.