A primeira vez que li este conto, sobre a ponderada e justa filha de um pobre camponês, associei-o imediatamente ao signo de Balança.
A história, incluída no segundo volume de Contos Infantis dos irmãos Grimm, é bem menos popular do que tantas outras já mencionadas nos artigos desta série. Ainda assim, tem algumas adaptações para televisão e uma ópera de Carl Orff.
Existem também várias versões das mais variadas proveniências, incluindo um pequeno conto recolhido na tradição oral portuguesa por Teófilo Braga e publicado em 1883, no livro Contos Tradicionais do Povo Português – I com o título A Adivinha do Rei.
Este conto tem como protagonista uma jovem rapariga, de condição social bastante humilde, cuja grande qualidade é o que hoje em dia chamamos de inteligência social.
Durante toda a história a heroína resolve adivinhas, desavenças de vizinhos e dilemas relacionais com a sua capacidade inata de encontrar o equilíbrio e a justiça em todas as coisas e em todas as situações.
O signo da Balança, como indicam o próprio nome e o objecto que o simboliza, também pesa e pondera todas as questões, de forma a evitar o conflito e o choque, mas sempre procurando o meio termo, a justiça e a harmonia.
A história divide-se em quatro pequenos episódios nos quais a jovem vai dando provas da sua competência para encontrar compromissos e cultivar acordos, sempre de forma diplomática e elegante, ilustrando de forma tão integral a energia deste signo.
A Esperta Filha do Camponês
Na primeira parte do conto, a menina sugere ao seu pobre pai que deveria pedir ao rei um pedaço de terreno para cultivar. É de notar que a iniciativa parte da rapariga, apesar de se esperar que pertencesse ao pai o dever de encontrar o sustento para si e para a sua filha.
Este signo é conhecido pela hesitação e dificuldade em tomar decisões, mas Balança pertence ao modo cardinal e, depois de considerados os dois lados da questão e encontrado o meio termo, esta energia consegue ser bastante determinada.
O rei oferece-lhes um pouco de terreno e, quando começam a ará-lo, o camponês e a sua filha encontram um almofariz de ouro. O pobre homem decide oferecê-lo ao rei, visto tê-lo encontrado na terra que este lhes doara.
No entanto, a filha, mais conhecedora da natureza humana, aconselha-o a que não o faça, pois o rei quererá também o pilão que o homem não tem.
A filha tem a sensibilidade suficiente para perceber que o almofariz sem o pilão não é um objecto completo, aqui fica clara a sua capacidade de compreender o equilíbrio de todas as coisas e também a natureza das pessoas.
Carneiro é o primeiro signo do zodíaco e Balança é o que se lhe opõe. Quando o primeiro diz “eu sou um” o segundo responde “eu sou o outro”. Balança entende que tudo tem o seu espelho e a sua complementaridade.
Apesar do aviso da sua filha, o camponês presenteia o rei com o almofariz. No entanto, como a filha havia prevenido, o monarca exige que o camponês lhe entregue também o pilão.
Perante a impossibilidade do pobre homem em cumprir esta exigência, o rei pensa que ele o está a enganar e manda prendê-lo. Na prisão o homem arrependido repete continuamente “Se ao menos eu tivesse dado ouvidos à minha filha…”.
Intrigado, o rei chama novamente o camponês e este conta-lhe como a sua filha é esperta e tinha previsto a reacção do monarca. O rei fica fascinado com a fineza de espírito da rapariga e pede que ela venha visitá-lo ao palácio. Mas impõe-lhe um desafio e, se ela conseguisse resolver o enigma, ele tomá-la-á como sua esposa.
O desafio incluía várias contradições, a rapariga tem de ir nem vestida nem despida, nem a pé nem a cavalo, nem na estrada nem fora dela.
Com a sua noção de equilíbrio e a sua capacidade para encontrar o meio termo de tudo, a filha do camponês chega ao palácio enrolada numa rede de pesca, nem vestida nem despida, com a rede amarrada a um burro que a arrasta atrás de si, nem a pé nem a cavalo, e fazendo o caminho pela berma, nem na estrada nem fora dela.
Como havia prometido, o rei casa com a filha do camponês.
Balança é um signo de Ar, o elemento mais social e relacional, mas também simboliza o pensamento e os nossos processos mentais.
Neste signo, o lado racional e objectivo ajuda-nos a fazer pontes entre duas margens que parecem opostas, a encontrar compromissos e a estabelecer acordos.
Este signo também simboliza acordos, alianças, contratos entre duas partes e, de uma forma mais pessoal e íntima, o casamento.
Passados alguns anos, enquanto o rei passa revista às suas tropas, alguns homens que ali estão a vender lenha começam uma disputa. Um deles tem três cavalos e o outro tem alguns bois, perto dos quais se encontra um potro acabado de nascer.
O dono dos bois afirma que o potro lhe pertence e o dos cavalos reclama o potro para si. O rei é chamado a resolver a controvérsia e decide que o potro fica onde está e assim entrega-o ao homem dos bois, a quem o animal obviamente não pertence.
Este incidente mostra-nos uma faceta menos verdadeira de Balança, o receio de correr riscos e de entrar em confrontos dá muitas vezes lugar à indecisão e à superficialidade, sem assumirem uma opinião própria sobre determinado tema.
O dono dos cavalos chora a sua perda e, tendo ouvido falar da inteligência e ponderação da rainha, ela própria de origens humildes, decide pedir-lhe ajuda.
No dia seguinte, a conselho da rainha, o homem coloca-se na estrada, por onde o rei tem de passar, com uma rede de pesca. Quando o rei lhe pergunta que sentido faz pescar em terra firme, ele responde que faz tanto sentido como um boi parir um potro.
Balança é signo da justiça e, apesar de às vezes ter tendência a ficar em cima do muro sem se comprometer com nenhum dos lados, estas pessoas são capazes de tudo para restabelecer a paridade e a harmonia ameaçadas pela assimetria e pela desigualdade, desde que acreditem que estão a contribuir para a paz social e para o bem-estar colectivo.
No entanto, quando o homem confessa que foi a rainha quem o ajudou a contrariar o julgamento do rei, este fica tão zangado por ela ter contrariado o seu juízo que a expulsa do palácio e ordena-lhe que volte para a casa do seu pai.
Todavia, concede-lhe um último favor, ela pode levar consigo aquilo que mais estima dentro do palácio. A rapariga concorda e dá ao seu marido uma bebida que o faz adormecer profundamente para depois o poder levar consigo para a sua modesta casa.
Ao acordar, o rei apercebe-se do sucedido e a filha do camponês diz-lhe que ele é tudo o que ela mais preza na sua vida. Comovido com esta prova amor – Balança é um signo romântico e charmoso – o rei leva-a de volta para o palácio, onde vivem muito felizes.
Vénus, a deusa da beleza e do amor, é regente de Balança e empresta-lhe as suas qualidades de elegância, tacto e charme.
Este signo também pode cair na superficialidade e na futilidade, dando importância ao protocolo e às regras de etiqueta apenas para manter as aparências e esquecendo o seu propósito inicial, que é encontrar a simetria e conciliar conceitos que à partida nos parecem contrários.
A vocação para o relacionamento, a capacidade para se pôr no lugar do outro, de fazer de espelho e a sua natureza romântica são as características mais bonitas de Balança.
Fazer pontes, usar a diplomacia para encontrar consensos e assumir compromissos são atitudes que têm como objectivo maior construir relações mais equilibradas e harmoniosas, a nível pessoal, mas principalmente a nível social e colectivo.
Bárbara Bonvalot começou a estudar Astrologia em 2005 e inicia o seu percurso como astróloga profissional em 2009. Actualmente é consultora e formadora de Astrologia, membro da AFAN (Association for Astrological Networking) e da ASPAS (Associação Portuguesa de Astrologia). Entende a Astrologia como uma linguagem que nos leva a um conhecimento profundo de nós mesmos, dos outros e da própria vida.