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João de Ferro: Carneiro

João de Ferro: Carneiro

Descubra o conto de fadas que melhor a caracteriza, de acordo com o seu signo. As histórias de infância podem afinal dizer mais sobre nós do que imaginamos. Conheça o conto de Carneiro.

Por Mar. 21. 2020

A história do príncipe que aprende a conviver com o homem selvagem e primitivo e no fim acaba por tê-lo ao seu dispor, e por usufruir de todas as suas riquezas e atributos, ilustra bem a energia de Carneiro. Quando esta é usada de forma inconsciente e leviana, pode ser violenta e destruidora, mas quando iluminada pelo lado solar é uma lição de coragem e valentia.

O Homem Selvagem é uma personagem tão arquetípica que Robert Bly usou este conto para ilustrar a sua teoria sobre o resgate do “Homem Natural”, a verdadeira natureza masculina inerente a todos os homens, no seu livro João de Ferro: Um Livro sobre Homens (1990).

Existem algumas variantes do tema do Homem Selvagem, sendo o registo mais antigo a Epopeia de Gilgamesh, uma lenda suméria com cerca de 5.000 anos. Neste mito, Enkidu é criado pelos deuses a partir do barro e cresce entre os animais e longe da civilização. O seu propósito é enfrentar o rei Gilgamesh, mas acaba por se tornar o seu melhor amigo.

João de Ferro

O conto João de Ferro começa quando os caçadores, que o rei manda para caçar na floresta próxima do seu castelo, desaparecem misteriosamente. Desaparece um, desaparecem dois e desaparecem todos os caçadores que o rei manda à floresta à procura dos anteriores. Até que chega ao reino um jovem caçador que se voluntaria para entrar na floresta e descobrir o que acontecera aos outros infelizes.

O rei adverte-o para o perigo que corre ao que ele responde “Assumirei o risco, pois não conheço o medo”. Apesar de estar à beira do desconhecido — a floresta, que nos contos de fadas representa o nosso lado inconsciente, sombrio e ameaçador — este caçador não hesita em enfrentá-lo.

Carneiro é um signo de Fogo, instintivo e incontido por natureza, e do modo cardinal, o que lhe acentua a iniciativa, a liderança e a determinação. Os Carneiros não vacilam nem desistem e para eles só existe um caminho, em frente.

Quando o seu cão desaparece perto de um poço, o caçador chama alguns homens com baldes e, balde a balde, esvaziam o poço até que encontram um homem selvagem.

Numas histórias o homem tem os cabelos e a barba de um tom avermelhado como a ferrugem e tão compridos que lhe vão até aos joelhos, noutras ele tem o corpo todo coberto de pêlo da mesma cor. Aqui fica definida a natureza rude e primitiva da criatura, que simboliza a energia de Carneiro no seu pior, agindo a partir da insegurança e da carência, defendendo-se dos outros com o ataque indiscriminado e escondendo-se nas profundezas do seu poço, sozinho e sem se preocupar com mais ninguém.

Marte, o planeta vermelho e Deus da guerra, é o regente de Carneiro e empresta-lhe as suas qualidades, a coragem, o ânimo e a bravura, mas também os seus defeitos, a brutalidade, a agressividade e o egoísmo.

Carneiro é o arquétipo do herói, pronto para se lançar na aventura de cumprir o seu destino
Bárbara Bonvalot

Depois de capturado, João de Ferro é preso numa jaula e fica em exposição no castelo, mas um dia o filho do rei, que brincava por perto, deixa a sua bola dourada cair dentro da jaula. O Príncipe negoceia então a devolução da sua bola em troca da liberdade do homem peludo, mas depois, com receio do castigo, acaba por fugir com ele para a floresta. O homem selvagem diz ao rapaz que ele nunca mais verá a sua família, mas em troca promete-lhe grandes riquezas.

A bola simboliza, segundo Bruno Bettelheim, a natureza narcísica da criança que é necessário deixar para trás, assim como a família, o colo onde cresceu, mas que, a determinada altura, não é mais suficiente para fomentar o seu crescimento.

Os protagonistas das histórias só se tornam heróis se aceitarem deixar o lar, o ambiente protegido da infância para se aventurarem no desconhecido, com todos os riscos e mistérios que isso implica. Carneiro é o arquétipo do herói, pronto para se lançar na aventura de cumprir o seu destino.

João de Ferro, aqui já com um papel de mestre na iniciação do rapaz, põe então o Príncipe à prova, mas por causa da sua impaciência e imprudência, características bem arianas, o jovem falha os testes e, como consequência, o homem selvagem manda-o pelo mundo para que conheça a pobreza. Na verdade, para que conheça os outros e o mundo para lá de si próprio, pois Carneiro pode ser demasiado individualista e autocentrado.

Apesar das provas não superadas, João de Ferro reconhece a bondade no coração do Príncipe e disponibiliza-se para o ajudar sempre que ele se encontre em dificuldades.

Esta força já não é bruta ou primitiva, nem impulsiva ou impaciente, mas é decidida, corajosa e focada, encarnando as melhores características de Carneiro
Bárbara Bonvalot

O nosso herói encontra trabalho na cozinha de um castelo e depois como ajudante de jardineiro, mas não querendo chamar a atenção tapa os seus cabelos dourados, um testemunho da origem real, com um gorro. Depois de ter começado como príncipe, o jovem chega à posição mais humilde e mais baixa, precisamente para ter a oportunidade de se mostrar merecedor de usar as riquezas que João de Ferro pôs ao seu dispor.

Uns tempos mais tarde o reino entra em guerra, mas o exército inimigo é mais poderoso e a guerra está praticamente perdida. O Príncipe decide então ajudar o rei e, levando o cavalo mais fraco, o que restava nas cavalariças, vai até à orla da floresta onde chama João de Ferro, que lhe traz um cavalo forte e bravo e um exército de bravos soldados.

O jovem junta-se incógnito ao exército do rei e ganha a batalha, desaparecendo de seguida e regressa mais tarde ao castelo com a mesma pileca com que tinha saído.

Neste episódio, o jovem herói mostra-se digno de usar a força que João de Ferro lhe proporciona. Esta força já não é bruta ou primitiva, como o homem selvagem no início da história, nem impulsiva ou impaciente, mas é decidida, corajosa e focada, encarnando as melhores características de Carneiro.

O rei organiza uma festa para celebrar a sua vitória e manda fazer um torneio com a esperança de voltar a encontrar o cavaleiro misterioso que o ajudou a vencer a guerra.

A força bruta, quando conduzida pela consciência é um tesouro inesgotável, que transforma qualquer um em vencedor e herói
Bárbara Bonvalot

O Príncipe comparece ao torneio e é desmascarado quando o seu elmo cai e todos reconhecem o ajudante do jardineiro. O jovem revela então a sua verdadeira identidade e, quando o rei o autoriza a pedir-lhe qualquer coisa, ele responde, de forma muito sincera e sem rodeios “Quero a sua filha para minha mulher” — Carneiro é todo instinto e acção, por isso quando fala é honesto e frontal, sem floreados nem adornos.

Durante a celebração do casamento aparece um rei com a sua comitiva, é João de Ferro, que antes tinha sido transformado num homem selvagem. O Príncipe quebrou o seu feitiço e o rei oferece-lhe em troca o seu reino e todas as suas riquezas.

Ao longo deste conto conhecemos as várias facetas de Carneiro, primeiro o lado primitivo e violento que, sem intenção e sem foco, tanto dano pode causar aos que nos rodeiam e a nós próprios e, por fim, a honra e a glória que podemos encontrar quando usamos a nossa energia de luta e a nossa capacidade de afirmação ao serviço de algo que nos transcende.

O Homem Selvagem ensina-nos que a força bruta, instintiva e indomada, quando conduzida pela consciência é um tesouro inesgotável, que transforma qualquer um em vencedor e herói.

Bárbara Bonvalot começou a estudar Astrologia em 2005 e inicia o seu percurso como astróloga profissional em 2009. Actualmente é consultora e formadora de Astrologia, membro da AFAN (Association for Astrological Networking) e da ASPAS (Associação Portuguesa de Astrologia). Entende a Astrologia como uma linguagem que nos leva a um conhecimento profundo de nós mesmos, dos outros e da própria vida.

*artigo escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico.
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