Estamos a viver grandes mudanças sociais a nível mundial. Mudanças inevitáveis e inadiáveis. A palavra “normal” tornou-se vaga e intangível, como o pote de ouro no fim do arco-íris.
Um dia a vida vai estabilizar, vamos encontrar novos lugares e novas formas e então sim, vamos descobrir novamente o “normal”. Um outro “normal”. Um dia. Mas não agora. Porque a verdadeira mudança ainda nem começou.
O solstício que se aproxima — de Verão no hemisfério Norte, de Inverno no Sul — anuncia um grande novo começo. No domingo de manhã acontecerá nos céus um eclipse solar. Este eclipse não será visível em Portugal, apenas na África Central, Oriente Médio, Índia e China.
Horas depois de o Sol entrar no signo de Caranguejo, a Lua alcança-o, esconde-o e, por alguns momentos, temos a escuridão de um eclipse a ensombrar o momento de máxima luz na metade norte do planeta.
No Ascendente do Thema Mundi, o mapa que os antigos atribuíam ao nascimento do mundo, é Caranguejo que se encontra no ascendente. Esta Lua Nova e o seu eclipse acontecem no primeiro grau deste signo, o grau inicial do princípio do mundo. Caranguejo tem a força das primeiras águas. A força necessária para nascer e a fragilidade intrínseca a este momento.
Caranguejo é a casa da Lua, um planeta de mudanças, de oscilações, de instabilidade e de inconstância. A Lua é andarilha, caminheira, não pára. Umas vezes é cheia, outras vezes vazia. Umas vezes é a mãe que alimenta e nutre, outras vezes é o bebé carente que precisa de colo e de cuidado.
Este eclipse sublinha o momento de viragem que vivemos. Recorda-nos que todos os momentos charneira são plenos de potência e simultaneamente frágeis e quebradiços.
Os próximos meses, que estarão sob a influência desta estação de eclipses, não serão fáceis nem tranquilos. Mas são o início do nascimento de uma nova forma de funcionarmos uns com os outros, na grande família humana.
O Sol, que normalmente é quem empresta a sua luz para que o mundo seja mundo, está agora enfraquecido e a Lua recebe-o no seu colo e acolhe a sua debilidade e o seu cansaço.
A Lua cuida porque é da sua natureza cuidar. Sol e Lua não formam aspectos de relevo a outros planetas e acabam por ficar entregues ao reino lunar, que, mesmo com as melhores intenções, é flutuante e nem sempre confiável.
Poucos dias antes, Mercúrio, que também segue por Caranguejo, entrou em movimento retrógrado. Uns dias depois será Neptuno que inverte a sua marcha. Logo a seguir é a vez de Vénus dar por finda a sua viagem invertida para regressar ao seu andamento directo.
Tantos planetas a mudar de direcção apenas para sublinhar as alterações gigantes que estamos a viver. Como se estivéssemos em cima de uma falha geológica no momento em que duas placas tectónicas se movimentam. De que lado está a segurança? Para onde podemos escapar?
Caranguejo tem implícita a energia de um nascimento, mas todos os nascimentos são um processo. É necessário atravessar um espaço em que deixamos de ser o que éramos, mas onde ainda não somos o que iremos ser. Um espaço onde não somos nada, mas onde temos a promessa de poder vir a ser tudo. Um espaço escuro, estreito, desconfortável, onde parece que não cabemos e de onde queremos fugir.
Para a mãe são as dores das contracções, para o bebé é sentir-se empurrado pelas mesmas contracções para o canal de parto.
Durante os próximos meses, até perto do fim do ano, pode sentir que o que está a viver não é um início, mas um fim. É natural, estamos a começar o processo.
Vai sentir-se mais ligada aos instintos, mais vulnerável e mais reactiva. Pergunte-se: estou a ser suficientemente paciente comigo e com os outros? Consigo cuidar de mim e proteger-me do que me agride e me ofende? Faz sentido resistir à mudança? Ou posso entregar-me a ela, mesmo sem saber o que me espera?
Estamos a assistir colectivamente ao nascimento de uma nova organização social. Mas esta transformação não é nem rápida nem indolor.
A nível pessoal, a casa onde se encontra Caranguejo no seu mapa natal indica-lhe onde está a acontecer um reset na sua vida.
Mesmo que não perceba para onde vai, mesmo que não veja uma saída, confie no processo. Tome consciência do que a faz sentir-se em casa, reconheça os afectos que a seguram e foque-se no presente. Lembre-se, está a vivenciar um parto!
Bárbara Bonvalot começou a estudar Astrologia em 2005 e inicia o seu percurso como astróloga profissional em 2009. Actualmente é consultora e formadora de Astrologia, membro da AFAN (Association for Astrological Networking) e da ASPAS (Associação Portuguesa de Astrologia). Entende a Astrologia como uma linguagem que nos leva a um conhecimento profundo de nós mesmos, dos outros e da própria vida.