Horóscopo

João e Maria: Touro

Descubra o conto de fadas que melhor a caracteriza, de acordo com o seu signo. As histórias de infância podem afinal dizer mais sobre nós do que imaginamos. Conheça o conto do Touro.

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João e Maria: Touro João e Maria: Touro
Bárbara Bonvalot, astróloga
Escrito por
Abr. 21, 2020

A comida, a sustentabilidade e os recursos são as questões centrais deste conto e reflectem os temas de Touro. Este signo, o primeiro do elemento terra, tem como propósito materializar e dar suporte real e concreto ao nosso processo de individuação, iniciado em Carneiro.

Ao longo desta narrativa acompanhamos João e Maria na descoberta da mais estável e duradoura riqueza, os seus próprios recursos internos.

Como tantas outras histórias que nos chegam através da tradição oral, também esta tem várias versões, incluindo algumas adaptações modernas, sendo a mais conhecida a dos irmãos Grimm, editada pela primeira vez em 1812 e com várias edições posteriores revistas pelos autores até à versão final de 1857.

João e Maria

João e Maria são dois irmãos que vivem com os pais à beira de uma floresta. O pai é um lenhador muito pobre e chegou a um ponto em que já não conseguia trazer pão para casa.

A sua mulher (às vezes a mãe biológica das crianças, mas transformada em madrasta nas últimas versões dos Grimm) convence-o a abandonar as crianças na floresta com o argumento de que mais vale entregar as crianças a uma morte que já é certa do que morrerem todos os quatro de fome.

Na primeira tentativa de abandono, João assinala o caminho de casa com pedras brancas que, à noite e com o brilho da lua, ajudam as crianças a voltar aos pais. Na segunda tentativa, o irmão usa migalhas de pão para marcar o regresso, mas estas são comidas por pássaros e eles ficam perdidos na floresta.

A história começa com a negação do valor mais básico de Touro, a alimentação, o pão nosso de todos os dias.

Enquanto esta necessidade não estiver preenchida não podemos sequer começar a pensar em estabilidade ou conforto. Mas ainda assim, depois de abandonadas, as crianças desejam regressar ao lar que já só tem para lhes oferecer desalento e frieza.

Touro é um signo do modo fixo e por isso podemos esperar dele a estabilidade e a constância necessárias para que a semente de Carneiro floresça e prospere. Por outro lado, pode tender à preguiça e à inércia e isso faz com que às vezes permaneça em situações que não lhe trazem crescimento nem prosperidade apenas por hábito ou para alimentar uma ilusão de segurança.

Claro que é confortável e prático termos acesso a tantas comodidades e produtos, mas até que ponto desfrutamos realmente de tudo o que temos?
Bárbara Bonvalot Bárbara Bonvalot

Ao terceiro dia na floresta, os irmãos encontram um pássaro branco que os leva até uma casinha toda feita de pão e bolo. As crianças famintas não poderiam imaginar nada mais apetitoso e começam a mordiscar as paredes e o telhado.

Lá de dentro sai uma velhinha que os convida a entrar e que lhes promete que nada de mal lhes acontecerá. Mas a velhinha revela-se uma bruxa, que prende João para mais tarde o comer e faz de Maria sua escrava, obrigando-a a fazer todas as tarefas da casa.

Se no início do conto temos a negação do alimento, que obriga as crianças a separarem-se dos pais, esta segunda parte da história descreve-nos o oposto, a indulgência e o hedonismo.

Os irmãos não voltam para casa dos pais, mas encontram-se novamente numa situação onde ainda dependem de alguém, onde ainda estão à mercê de outrem. E aquilo que no início parece ser a solução de todos os problemas para duas crianças à beira de morrer de fome, acaba por ser na verdade uma prisão.

Vénus, o planeta do prazer e dos sentidos, é muito adequadamente o regente de Touro, mas Vénus também gosta de facilidade e pode ser bastante auto-indulgente.

Uma expressão que todos conhecemos desta energia é a nossa sociedade de consumo. Claro que é confortável e prático termos acesso a tantas comodidades e produtos, mas até que ponto desfrutamos realmente de tudo o que temos sem nos tornarmos seus escravos e sem nos deixarmos consumir por isso?

Se não formos capazes de reconhecer o nosso valor, os nossos dons e os nossos próprios recursos, acabamos por regredir e por voltar a um estado de inconsciência e de completa dependência
Bárbara Bonvalot Bárbara Bonvalot

A bruxa vai alimentando João na esperança de o engordar. Todos os dias ela inspeciona o seu dedo para saber se a criança está pronta para ir para o forno e todos os dias João a engana apresentando-lhe um osso no lugar do seu dedo.

A forma como o rapaz se lembra de enganar a malvada mulher, e assim adiar o seu destino terrível, é o primeiro passo na descoberta dos seus próprios recursos internos.

A certa altura, a velha, cansada de esperar, decide que, gordo ou magro, vai finalmente cozinhar o rapaz. A paciência é uma das virtudes de Touro e a precipitação da bruxa é a chave para a libertação das crianças.

Ela pede a Maria que veja se o forno está quente o suficiente e esta é a oportunidade para a irmã mais nova mostrar o que vale.

Maria faz-se de tonta e diz que não sabe como ver a temperatura do forno. A bruxa, para exemplificar, aproxima-se do forno e a menina empurra-a lá para dentro e fecha a porta logo de seguida, dando à velha o mesmo destino que ela planeava para as crianças.

A Lua está exaltada em Touro, aqui ela sente-se confortável e preenchida, e o forno simboliza precisamente a Lua, o útero, um estado de aconchego e protecção, mas que se torna nocivo e até fatal, porque não é suposto ficarmos ali para sempre.

Se não formos capazes de reconhecer o nosso valor, os nossos dons e os nossos próprios recursos, acabamos por regredir e por voltar a um estado de inconsciência e de completa dependência.

Por isso, é especialmente interessante o desenvolvimento da personagem de Maria neste conto. No início da narrativa ela espera do irmão mais velho a protecção e a orientação que os pais falham em oferecer, mas no fim acaba por tomar as suas próprias decisões e por ser o elemento-chave para a resolução de todo o conflito.

O propósito de Touro é dar consistência e sustentação à vida, apreciá-la através da matéria e dos cinco sentidos, desfrutá-la e valorizá-la
Bárbara Bonvalot Bárbara Bonvalot

Depois de matarem a bruxa, os irmãos descobrem que ela guardava um enorme tesouro de pérolas e pedras preciosas. Eles carregam o que podem e regressam a casa e agora, que descobriram as suas próprias capacidades e cumpriram o seu processo de crescimento, encontram sem dificuldade o caminho de volta.

Ao chegarem encontram o pai muito triste com o que lhes tinham feito e ficam a saber que a mãe tinha morrido. É inevitável a associação da mãe, que nega o alimento aos filhos, com a bruxa, que os entope de comida.

A partir do momento em que as crianças conhecem o que valem, desaparece tudo o que as impedia de crescer e de encontrar o seu chão e a sua tranquilidade.

O propósito de Touro é dar consistência e sustentação à vida, apreciá-la através da matéria e dos cinco sentidos, desfrutá-la e valorizá-la.

Ao fazê-lo encontramos a nossa própria sustentabilidade, não apenas lá fora, nos outros e nas coisas materiais de que nos rodeamos para validar a nossa existência, mas dentro de nós, na serenidade que existe ao reconhecer os nossos recursos internos, esses sim, a nossa verdadeira riqueza e a nossa verdadeira estabilidade.

Bárbara Bonvalot começou a estudar Astrologia em 2005 e inicia o seu percurso como astróloga profissional em 2009. Actualmente é consultora e formadora de Astrologia, membro da AFAN (Association for Astrological Networking) e da ASPAS (Associação Portuguesa de Astrologia). Entende a Astrologia como uma linguagem que nos leva a um conhecimento profundo de nós mesmos, dos outros e da própria vida.

*artigo escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico.

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