João e Maria: Touro
Descubra o conto de fadas que melhor a caracteriza, de acordo com o seu signo. As histórias de infância podem afinal dizer mais sobre nós do que imaginamos. Conheça o conto do Touro.
A comida, a sustentabilidade e os recursos são as questões centrais deste conto e reflectem os temas de Touro. Este signo, o primeiro do elemento terra, tem como propósito materializar e dar suporte real e concreto ao nosso processo de individuação, iniciado em Carneiro.
Ao longo desta narrativa acompanhamos João e Maria na descoberta da mais estável e duradoura riqueza, os seus próprios recursos internos.
Como tantas outras histórias que nos chegam através da tradição oral, também esta tem várias versões, incluindo algumas adaptações modernas, sendo a mais conhecida a dos irmãos Grimm, editada pela primeira vez em 1812 e com várias edições posteriores revistas pelos autores até à versão final de 1857.
João e Maria
João e Maria são dois irmãos que vivem com os pais à beira de uma floresta. O pai é um lenhador muito pobre e chegou a um ponto em que já não conseguia trazer pão para casa.
A sua mulher (às vezes a mãe biológica das crianças, mas transformada em madrasta nas últimas versões dos Grimm) convence-o a abandonar as crianças na floresta com o argumento de que mais vale entregar as crianças a uma morte que já é certa do que morrerem todos os quatro de fome.
Na primeira tentativa de abandono, João assinala o caminho de casa com pedras brancas que, à noite e com o brilho da lua, ajudam as crianças a voltar aos pais. Na segunda tentativa, o irmão usa migalhas de pão para marcar o regresso, mas estas são comidas por pássaros e eles ficam perdidos na floresta.
A história começa com a negação do valor mais básico de Touro, a alimentação, o pão nosso de todos os dias.
Enquanto esta necessidade não estiver preenchida não podemos sequer começar a pensar em estabilidade ou conforto. Mas ainda assim, depois de abandonadas, as crianças desejam regressar ao lar que já só tem para lhes oferecer desalento e frieza.
Touro é um signo do modo fixo e por isso podemos esperar dele a estabilidade e a constância necessárias para que a semente de Carneiro floresça e prospere. Por outro lado, pode tender à preguiça e à inércia e isso faz com que às vezes permaneça em situações que não lhe trazem crescimento nem prosperidade apenas por hábito ou para alimentar uma ilusão de segurança.
Ao terceiro dia na floresta, os irmãos encontram um pássaro branco que os leva até uma casinha toda feita de pão e bolo. As crianças famintas não poderiam imaginar nada mais apetitoso e começam a mordiscar as paredes e o telhado.
Lá de dentro sai uma velhinha que os convida a entrar e que lhes promete que nada de mal lhes acontecerá. Mas a velhinha revela-se uma bruxa, que prende João para mais tarde o comer e faz de Maria sua escrava, obrigando-a a fazer todas as tarefas da casa.
Se no início do conto temos a negação do alimento, que obriga as crianças a separarem-se dos pais, esta segunda parte da história descreve-nos o oposto, a indulgência e o hedonismo.
Os irmãos não voltam para casa dos pais, mas encontram-se novamente numa situação onde ainda dependem de alguém, onde ainda estão à mercê de outrem. E aquilo que no início parece ser a solução de todos os problemas para duas crianças à beira de morrer de fome, acaba por ser na verdade uma prisão.
Vénus, o planeta do prazer e dos sentidos, é muito adequadamente o regente de Touro, mas Vénus também gosta de facilidade e pode ser bastante auto-indulgente.
Uma expressão que todos conhecemos desta energia é a nossa sociedade de consumo. Claro que é confortável e prático termos acesso a tantas comodidades e produtos, mas até que ponto desfrutamos realmente de tudo o que temos sem nos tornarmos seus escravos e sem nos deixarmos consumir por isso?
A bruxa vai alimentando João na esperança de o engordar. Todos os dias ela inspeciona o seu dedo para saber se a criança está pronta para ir para o forno e todos os dias João a engana apresentando-lhe um osso no lugar do seu dedo.
A forma como o rapaz se lembra de enganar a malvada mulher, e assim adiar o seu destino terrível, é o primeiro passo na descoberta dos seus próprios recursos internos.
A certa altura, a velha, cansada de esperar, decide que, gordo ou magro, vai finalmente cozinhar o rapaz. A paciência é uma das virtudes de Touro e a precipitação da bruxa é a chave para a libertação das crianças.
Ela pede a Maria que veja se o forno está quente o suficiente e esta é a oportunidade para a irmã mais nova mostrar o que vale.
Maria faz-se de tonta e diz que não sabe como ver a temperatura do forno. A bruxa, para exemplificar, aproxima-se do forno e a menina empurra-a lá para dentro e fecha a porta logo de seguida, dando à velha o mesmo destino que ela planeava para as crianças.
A Lua está exaltada em Touro, aqui ela sente-se confortável e preenchida, e o forno simboliza precisamente a Lua, o útero, um estado de aconchego e protecção, mas que se torna nocivo e até fatal, porque não é suposto ficarmos ali para sempre.
Se não formos capazes de reconhecer o nosso valor, os nossos dons e os nossos próprios recursos, acabamos por regredir e por voltar a um estado de inconsciência e de completa dependência.
Por isso, é especialmente interessante o desenvolvimento da personagem de Maria neste conto. No início da narrativa ela espera do irmão mais velho a protecção e a orientação que os pais falham em oferecer, mas no fim acaba por tomar as suas próprias decisões e por ser o elemento-chave para a resolução de todo o conflito.
Depois de matarem a bruxa, os irmãos descobrem que ela guardava um enorme tesouro de pérolas e pedras preciosas. Eles carregam o que podem e regressam a casa e agora, que descobriram as suas próprias capacidades e cumpriram o seu processo de crescimento, encontram sem dificuldade o caminho de volta.
Ao chegarem encontram o pai muito triste com o que lhes tinham feito e ficam a saber que a mãe tinha morrido. É inevitável a associação da mãe, que nega o alimento aos filhos, com a bruxa, que os entope de comida.
A partir do momento em que as crianças conhecem o que valem, desaparece tudo o que as impedia de crescer e de encontrar o seu chão e a sua tranquilidade.
O propósito de Touro é dar consistência e sustentação à vida, apreciá-la através da matéria e dos cinco sentidos, desfrutá-la e valorizá-la.
Ao fazê-lo encontramos a nossa própria sustentabilidade, não apenas lá fora, nos outros e nas coisas materiais de que nos rodeamos para validar a nossa existência, mas dentro de nós, na serenidade que existe ao reconhecer os nossos recursos internos, esses sim, a nossa verdadeira riqueza e a nossa verdadeira estabilidade.
Bárbara Bonvalot começou a estudar Astrologia em 2005 e inicia o seu percurso como astróloga profissional em 2009. Actualmente é consultora e formadora de Astrologia, membro da AFAN (Association for Astrological Networking) e da ASPAS (Associação Portuguesa de Astrologia). Entende a Astrologia como uma linguagem que nos leva a um conhecimento profundo de nós mesmos, dos outros e da própria vida.