A esperteza e a agilidade mental do pequeno rapaz que não é maior que um polegar lembram-me o signo de Gémeos, sempre curioso, mas tão volátil e irrequieto.
Como tantos outros contos, o Polegarzinho tem várias versões. No entanto, mais do que apenas versões, esta personagem desdobra-se também em histórias diferentes e em algumas delas parece inclusivamente pedir temas “emprestados” a outros contos.
Por exemplo, no conto de Charles Perrault, publicado no livro Histórias da Mãe Gansa em 1697, Polegarzinho repete um tema abordado em João e Maria, as crianças abandonadas na floresta pelos pais, mas também o expediente de deixar o rasto, primeiro de pedras e depois de migalhas, para poder voltar a casa.
Os irmãos Grimm têm duas histórias protagonizadas pelo pequeno herói, O Polegarzinho e As Viagens do Pequeno Polegar, publicadas em várias edições de Os Contos de Grimm na primeira metade do séc. XIX. Nesta última o diminuto rapaz é filho de um alfaiate e parte pelo mundo em busca de aventuras, lembrando o conto O Alfaiatezinho Valente, dos mesmos autores.
Existe também um conto inglês, recuperado por Joseph Jacobs, que entretece esta personagem com a lenda do Rei Artur. Não esquecendo A Polegarzinha, de Hans Christian Andersen, no qual borboletas, andorinhas e outros seres alados, todos criaturas geminianas, têm um papel determinante no destino da protagonista.
Como Gémeos, o Polegarzinho é sempre descrito como esperto, ágil e versátil e com uma grande plasticidade para se adaptar a vários ambientes e contextos.
Este signo é do elemento Ar e do modo mutável, ele brinca com as ideias. Mercúrio, o seu regente, é o arquétipo do trickster, o ilusionista, que nos confunde e nos troca as voltas. E se tudo na vida é uma questão de perspectiva, então Gémeos quer experimentar todos os pontos de vista possíveis.
O Polegarzinho
O conto dos irmãos Grimm O Polegarzinho começa com um casal a expressar o desejo de ter um filho, mesmo que fosse pequenino, do tamanho de um polegar.
Gémeos é o primeiro signo de Ar e lembra-nos a importância da palavra. Se as nossas crenças criam a nossa realidade, a palavra é o início dessa materialização. Assim, o desejo é concedido, tal e qual como foi pedido, e o casal tem um menino que nunca cresce mais do que um polegar, a quem chamam Polegarzinho.
Gémeos pode parecer leve e inconsequente, mas as palavras têm força, elas trazem consigo a capacidade de nomear as coisas e assim dar-lhes existência, dentro e fora de nós.
Um dia, o pequeno rapaz decide ajudar o pai a levar a carroça para a floresta, mas o pai achou difícil o Polegarzinho conseguir cumprir essa tarefa, pois por ser tão diminuto ele não conseguiria segurar nas rédeas.
No entanto, no dia seguinte, a mãe selou o cavalo e pôs o minúsculo filho junto às orelhas do animal. Dando ordens precisas, o Polegarzinho conduz a carroça até ao seu pai, lembrando-nos outra vez do poder da palavra.
Em ambos os contos de Grimm o pequeno herói encontra alguns ladrões, contrariando-os numa das histórias e colaborando com eles na outra.
Os ladrões, regidos por Mercúrio, enquadram-se também na energia de Gémeos. Astutos e matreiros, eles são rápidos e ágeis, usando os seus dedos como um prestidigitador, e há ainda uma amoralidade, uma neutralidade de princípios, implícita na sua actividade de mudar as coisas de lugar e de proprietário.
Mas o conto de Perrault é o único que mostra um desenvolvimento do protagonista. Confesso que, quando estava a fazer pesquisa para escrever este artigo, me desagradou o dejá vu do início desta história. Mas, à medida que ia analisando os contos e escrevendo sobre a personagem, apercebi-me que este é o único conto no qual o Polegarzinho verdadeiramente cresce e se transforma.
Na narrativa de Charles Perrault, o Pequeno Polegar não só é diminuto em estatura, como é o mais novo de sete irmãos e, para compensar esta aparente desvantagem, ele vai tornar-se o mais ágil e o mais esperto. A comparação com os irmãos reforça a simbologia de Gémeos, além disso, um dos temas da casa 3, a casa com afinidade com Gémeos, é precisamente os irmãos.
Quando os meninos se vêm perdidos na floresta, levanta-se um vento forte e eles sentem muito medo. O vento é um elemento de instabilidade e de mudança, traz-nos nervosismo e inquietação. E assim é também a energia geminiana, impaciente e ansiosa, sempre a pular de um lado para o outro, sem nunca conseguir verdadeiramente parar e sossegar.
O Polegarzinho decide então subir a uma árvore e, avistando uma luz, guia os irmãos na sua direcção. Chegam então a uma casa onde são recebidos pela mulher de um gigante, que os avisa que o marido os comeria se os encontrasse.
Depois de algumas peripécias, que incluem uma troca de papéis entre os sete irmãos e as sete filhas do gigante, o Polegarzinho e os irmãos acabam por fugir, mas o gigante segue-os com a ajuda das botas das sete léguas, umas botas mágicas, que o faziam caminhar muito depressa.
As deslocações e as pequenas viagens também estão sob a alçada de Gémeos, de Mercúrio. A inquietude e agitação destas pessoas, fazem com estejam sempre em movimento, mas acabam por nunca se afastar muito do ambiente que já conhecem.
Para pôr cobro à perseguição, o Pequeno Polegar aproveita um momento em que o gigante dorme e, sem o acordar, tira-lhe as botas com muita ligeireza (já falei dos ladrões e das suas habilidades em cima) e calça-as ele próprio.
Com estas botas mágicas ele põe-se ao serviço de um rei como seu mensageiro e faz grande fortuna nesse ofício, regressando depois a casa, onde ele e a sua família nunca mais passaram necessidades.
Mercúrio era ele próprio o mensageiro dos deuses e essa é a principal função de Gémeos, comunicar, espalhar informação e fazer ligações.
Os diversos Polegarzinhos dos irmãos Grimm demonstram pouca ou nenhuma aprendizagem ao longo das respectivas histórias e ambos ilustram alguns dos aspectos menos positivos de Gémeos, a superficialidade, a inconstância e o disparate.
Já o pequeno herói de Perrault começa como o mais novo, o mais pequeno e, aparentemente, o mais ignorante dos irmãos e revela-se durante a narrativa como o mais astuto, o mais inteligente e o mais engenhoso, alcaçando o sucesso e partilhando-o com os seus irmãos e pais.
Ultrapassando o lado leviano e inconsequente, o nervosismo e a agitação, Gémeos encontra o seu propósito, trocar ideias e disseminar a informação, mas agindo com a neutralidade, o desprendimento e a leveza de uma brisa, que não se esquece de brincar com as folhas que encontra pelo caminho.
Bárbara Bonvalot começou a estudar Astrologia em 2005 e inicia o seu percurso como astróloga profissional em 2009. Actualmente é consultora e formadora de Astrologia, membro da AFAN (Association for Astrological Networking) e da ASPAS (Associação Portuguesa de Astrologia). Entende a Astrologia como uma linguagem que nos leva a um conhecimento profundo de nós mesmos, dos outros e da própria vida.