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“Queremos pôr as pessoas a pensar no seu bem-estar”

“Queremos pôr as pessoas a pensar no seu bem-estar”

A atriz Vera Kolodzig e a produtora Inês Ramada Curto uniram esforços e acabam de lançar uma plataforma de cursos online, a Kológica, para desafiar as pessoas a porem-se em primeiro plano e a cuidar de si.

Por Nov. 27. 2021

Duas amigas, a mesma visão holística da vida. Falamos de Vera Kolodzig, atriz, e Inês Ramada Curto, produtora, que, após terem apostado no seu desenvolvimento pessoal, decidiram criar uma plataforma de cursos de bem-estar online que facilitasse esse caminho a outras pessoas.

Chama-se Kológica, e foi buscar o nome ao podcast que Vera Kolodzig iniciou em 2020. Os cursos (podem durar entre três e seis horas, divididas em pequenos vídeos de dez a 15 minutos) e as sessões (uma espécie de palestra, com a 45 a 60 minutos) são todos gravados, para que as pessoas possam fazê-los ao seu ritmo.

Rute Caldeira, professora de meditação e instrutora de ioga, Nuno Queiroz Ribeiro, chef especialista em alimentação saudável, e Vera Machaz, psicóloga, são alguns dos formadores da plataforma e as fundadoras garantem que “o ângulo dos cursos e das sessões terá sempre a curadoria Kológica”.

Estão divididos em cinco categorias, a saber: autoconhecimento, corpo, alimentação, ambiente e relacionamentos. O objetivo é “criar uma comunidade que se preocupa com o seu bem-estar e inspirar os outros a seguir esse caminho”, dizem.

De onde partiu a ideia do podcast Kológica?

Vera Kolodzig: Eu ouvia muitos podcasts de desenvolvimento pessoal e dei por mim a conseguir aplicar no dia a dia o que lá aprendia e costumava falar sobre isso nos jantares de amigas. A Inês era uma dessas amigas e quando, no final de 2019, lhe disse que estava a pensar lançar um podcast, ela incentivou-me.

Fiquei a pensar na ideia e, na altura, estava a fazer a peça Os Monólogos da Vagina com a Carla Andrino, que, além de atriz, é psicóloga e é alguém que me inspira muito, e disse-lhe que gostava de a entrevistar. Comecei a gravar em casa dela, porque o marido é compositor e tem um estúdio.

Na minha cabeça, ressoava também a frase que o meu pai dizia repetidamente – “a vida é curta, não vale a pena chatearmo-nos” – e que, quando era adolescente, não entendia bem, mas que, agora, me faz todo o sentido e é uma mensagem que queria passar. Não podemos perder tempo com coisas que nos consomem.

E daí, como passaram para a plataforma de e-elearning?

Inês Ramada Curto: Depois do podcast, começámos a ter várias ideias. Depois de ter visto o documentário The Goop Lab With Gwyneth Paltrow, li um artigo sobre a visão holística da vida e comecei a pensar que não tínhamos cá nenhuma Gwyneth e que a Vera encaixava bem nesse papel. Muitas das terapias que surgem no documentário estão muito distantes de nós, mas temos outras e fazia todo o sentido reunirmos o melhor que se faz por cá e que nos permite ter uma visão holística da saúde e que são ferramentas para o dia a dia.

V.K.: Ao mesmo tempo, estava a receber um feedback superpositivo dos ouvintes do podcast, que começaram a pedir-me contactos das pessoas que entrevistava e ponderei fazermos uma base de contactos. Entretanto, fui convidada para dar formações e pensei que, em vez de um programa de televisão ou uma base de dados, faria mais sentido termos uma plataforma de cursos online e cá estamos.

Com esta minha aposta no desenvolvimento pessoal, percebi que a minha felicidade não depende da personagem ou do trabalho que estou a fazer, mas da forma como os encaro.

E porquê online? Por causa da pandemia?

I.R.C.: Fomos atrás de uma tendência, potenciada, é verdade, pela pandemia, que permite que as pessoas possam fazer cursos e formações ao seu ritmo, no horário que lhes é mais conveniente, sem perderem tempo em deslocações. O nosso intuito é que as pessoas possam fazer uma evolução e transformação à sua velocidade.

V.K.: Isto também vem muito da minha experiência pessoal. Em 2020, aproveitei o tempo em que estive em casa para fazer uma série de cursos online, que foram muito enriquecedores. Fiz um curso de coach, outro de saúde integral e ainda de comunicação não violenta e constatei o potencial do online, que é, simultaneamente, mais ecológico.

Quais são as áreas que podemos encontrar na Kológica?

I.R.C.: Organizámos os conteúdos em cinco categorias: autoconhecimento, corpo, alimentação, ambiente e relacionamentos. Mas isso não significa que, no futuro, não possamos ter mais. O mundo está em mudança e vamos estar atentas ao que o negócio vai pedindo.

A certeza que temos é que, sim, isto é um negócio, mas tem uma base de felicidade e de dedicação muito grande nossa. Tem muito do nosso ADN. Para muitas pessoas, a felicidade é ganhar; para mim, é isto, ou seja, ver um projeto nosso a nascer e, depois, a evoluir.

V.K.: A felicidade é muito mais dar do que ganhar.

No futuro, estão a pensar ter cursos presenciais?

V.K.: Não descartamos a hipótese de sessões ao vivo e de funcionarmos de forma híbrida. Para já vamos começar assim, mas com abertura para crescermos com o mundo.

I.R.C.: Já temos outros passos definidos, tais como fins de semana terapêuticos, ter outros conteúdos de vídeo que não sejam os cursos ou as sessões e também cursos transmitidos em direto.

Como escolheram os formadores e os cursos?

I.R.C.: Fomos buscar formadores que são a nossa referência em determinadas áreas e tentamos que os cursos tenham um ângulo diferenciador, ou seja, tudo tem a nossa curadoria.

Essa é uma das melhores coisas que a pandemia nos trouxe. Apesar de todos os desafios que muita gente teve, as pessoas tiveram de olhar para dentro e perceber o quão importante é fazê-lo e é isso que queremos proporcionar na Kológica – Vera Kolodzig, atriz

Vera, há pouco, disse que tem dado alguns cursos, também vai fazê-lo na Kológica?

V.K.: Estou a cozinhar isso… Mas para já vamos começar com os seguintes cursos: Prazer feminino, com Tamar; Divórcio positivo, com Marta Moncacha; Alimentação saudável para crianças, com Inês Cerdeira Abreu; Ferramentas para o bem-estar emocional, com Vera Machaz; Pequenos passos para uma vida mais sustentável, com Ana Varela; Yoga para a ansiedade, com Leonor Rosado; e Mitos e verdades sobre o açúcar com o chef Nuno Queiroz Ribeiro.

Vê-se a deixar a representação para se dedicar a este projeto?

V.K.: A Inês não me deixa [risos].

I.R.C.: A Vera é uma ótima atriz, um talento, seria um desperdício dedicar-se só à Kológica. No que depender de mim, isso não acontece [risos].

V.K.: Estou a conseguir complementar as duas coisas e gosto muito de ser atriz. Com esta minha aposta no desenvolvimento pessoal, percebi que a minha felicidade não depende da personagem ou do trabalho que estou a fazer, mas da forma como os encaro.

Além disso, eu e a Inês completamo-nos muito bem na Kológica. Com o seu feedback de produção de anos, tem um lado de organização e de estratégia que me falta a mim. Estou mais no lado mais emocional e criativo do projeto e de contacto com os formadores.

Sentem que pessoas estão, agora, mais preocupadas com o seu bem-estar e desenvolvimento pessoal?

V.K.: Essa é uma das melhores coisas que a pandemia nos trouxe. Apesar de todos os desafios que muita gente teve, as pessoas tiveram de olhar para dentro e perceber o quão importante é fazê-lo e é isso que queremos proporcionar na Kológica. Queremos pôr as pessoas a pensar no seu bem-estar.

Fala-se muito de voltar ao normal, mas acho que já não vamos regressar ao normal. Passámos a valorizar o tempo, a necessidade de aprendermos e de nos dedicarmos mais a nós próprios para vivermos melhor.

I.R.C.: Estamos a viver o novo normal e na Kológica temos todas as ferramentas para pôr as pessoas a refletir e evoluir sobre o seu bem- -estar e sobre o que precisam de trabalhar.

O meu maior luxo é ser dona do meu tempo, ou seja, é ter tempo e geri-lo da melhor forma, o que me dá uma grande paz interior.

Quando é que começaram a preocupar-se mais seriamente com o vosso bem-estar e a procurar uma visão da vida mais holística?

I.R.C.: Foi aos 34 anos. Até aí, estava habituada a ter muitas capas para agradar a todos, estava sempre tudo bem, andava sempre com um sorriso na cara e era fácil viver assim.

Nessa altura, as pessoas começaram a dizer-me que deveria ser eu própria e eu nem sabia bem o que isso significava, mas interiorizei a ideia e comecei a fazer terapias e meditação mais a sério. Portanto, foi o caminho que encontrei para o meu desenvolvimento pessoal, que nasceu da necessidade de passar a ser eu própria e de ter opinião. Isso acabou por influenciar também o meu percurso profissional, porque passei trabalhar nos meus próprios sonhos e a ser CEO da minha própria vida.

V.K.: Eu já tinha muito isto, mas por ser muito ciosa da minha privacidade e da minha família, não falava sobre estes assuntos em público. Mas depois chegou uma altura em que pensei que poderia usar o meu alcance público de forma positiva.

Isto depois de ter passado por todo um processo de desenvolvimento pessoal, separei-me, fiz um processo de psicoterapia bioenergética muito longo, já tenho muito interesse em áreas de saúde natural há muito tempo, tento sempre optar por práticas terapêuticas não convencionais em vez de ir logo tomar medicamentos — primeiro, tento perceber o que o meu corpo diz. Por que não usar esta voz para falar sobre estes assuntos publicamente?

Partindo da vossa perceção de autocuidado, que conselhos dariam às nossas leitoras para cada uma apostar no seu?

V.K.: Posso usar a metáfora da máscara do avião, temos, primeiro, de pôr a nossa e só, depois, ajudar os outros. É importante parar, respirar e darmo-nos tempo.

I.R.C.: O meu maior luxo é ser dona do meu tempo, ou seja, é ter tempo e geri-lo da melhor forma, o que me dá uma grande paz interior. Portanto, aconselho que as pessoas pensem no seu tempo e na liberdade de o gerir de forma a ganharam esta paz interior, que lhes permita ter uma cabeça mais leve, criar memórias e viver em equilíbrio.

É isso que é saber viver para vocês?

I.R.C.: Sem dúvida. Saber viver é arranjar este equilíbrio entre a gestão de tempo e a paz interior.

V.K.: Saber viver para mim é saber agradecer. Antes do jantar, tenho um ritual com o meu lho de agradecer, pelo menos, uma coisa do nosso dia. Acho que agradecermos dá-nos a capacidade de olhar paras coisas de outra forma, porque mesmo os aspetos menos bons do nosso dia trazem-nos aprendizagens muito válidas.

A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº 257, novembro de 2021.
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