A respiração foi uma das minhas grandes descobertas. Na verdade, foi mesmo por aqui que me iniciei, sem saber, na meditação – primeiro, aprendi umas técnicas específicas de respiração e, depois, conheci naturalmente este mundo onde o tempo para e a paz existem.
A verdade é que comecei a meditar sem saber que estava a meditar. Só mais tarde descobri que estava a aplicar uma verdadeira medicina na minha vida. E por aqui já vês que a meditação não precisa de regras para ser experienciada – ela apenas precisa do coração e de entrega.
A respiração foi uma grande descoberta, porque foi a partir dela que aprendi a parar. Mas a parar com prazer, a sentir o ar a entrar e a sair do meu corpo, a sentir a descompressão dos meus músculos, a sentir o libertar das tensões, o desacelerar mental…
“A respiração é também uma medicina”
A respiração, quando feita conscientemente, é também um milagroso calmante. Se as nossas escolas, hospitais, universidades e empresas pudessem aplicar técnicas de respiração antes do começo de qualquer tarefa, iríamos assistir a uma profunda mudança nos nossos comportamentos e na nossa saúde.
A respiração é fonte de vida, ela alimenta-nos, nutre-nos e mantém-nos literalmente vivos. E é até curioso pensar que a respiração é completamente imprescindível à vida humana, quando não lhe conferimos essa importância, nem esse valor… Na verdade, nem pensamos nela, porque tudo acontece de forma ‘automática’, inconsciente.
Temos a respiração como garantida e por isso esquecemo-nos da sua importância para a nossa saúde física, mental e espiritual.
A respiração é também uma medicina, ela tem o poder de te conectar rapidamente com o corpo, e ao mesmo tempo com a vida – sempre que respiras, estás a ligar-te à vida que acontece a cada milésimo de segundo dentro de ti; ao mesmo tempo, quando tornas essa respiração consciente, estás também a ligar-te à vida que acontece fora de ti.
Ficas mais presente, por isso, não te passa despercebido o som dos pássaros, do mar, do vento, das árvores. Não te passa despercebido, também, a voz e as partilhas daqueles que amas. Respirar, efetivamente, é saber viver – porque não vives de uma forma automática, passas, sim, a estar consciente e presente.
Lembra-te disto, torna esta frase um mantra: de cada vez que te tornas consciente da tua respiração, estás a tornar-te consciente da vida que acontece dentro e fora de ti.
Assim, desafio-te a meditar durante todo este mês, porque a melhor forma de conheceres o poder desta medicina é mesmo experienciando.
Meditação: a respiração que vai e vem
1. Procura o “teu espaço” para iniciares a meditação. Senta-te confortavelmente, tendo em atenção a tua coluna. A mesma deve estar direita para que o ar possa fluir pelos teus chacras (os vórtices por onde passa a energia).
Se estás dentro de um espaço fechado, podes optar por acender uma vela ou um incenso natural, de forma a sentires maior harmonia e tranquilidade. Sente que estás a preparar o teu templo para um momento de purificação e amor. Antes de começares a fazer o que quer que seja, primeiro, tem a certeza de que estás totalmente confortável.
2. Depois, fecha os teus olhos e observa o teu corpo, observa o estado da tua mente, sem qualquer julgamento. Faz um pequeno check up, percorrendo cada parte de ti – mente, emoções, corpo e espírito.
Oferece a ti mesmo o silêncio e permite-te ver tudo o que ele tem para te mostrar.
3. Mantendo os olhos fechados, liga-te à respiração… Foca-te no ponto entre as sobrancelhas (o terceiro olho) e na zona do umbigo. Mantendo o foco nesses dois centros energéticos, observa a respiração que sobe do umbigo para o centro da testa. Observa a respiração que desce do terceiro olho para o umbigo.
Inspira pelo nariz, enche o abdómen de ar e deixa que o mesmo suba até à testa. Esvazia o abdómen ao mesmo tempo que sentes o ar descer na direção do umbigo. Em silêncio, insiste nesta respiração que vai e vem, vai e vem, vai e vem…
4. O que vai acontecer é que te vais focar completamente no ar que sobe do umbigo para a testa. Inspira profunda e lentamente, acompanhando o seu trajeto. Sente esse ar subir pelo ventre, estômago, coração, esterno, garganta, rosto até chegar ao centro das sobrancelhas…
Depois, acompanha a descida do ar. Sente a viagem desse ar que flui levemente da tua testa para o teu umbigo. Expira lenta e profundamente e acompanha a descida desta energia vital que se espalha pelo corpo. Ela desce pelo rosto, pela garganta, tórax, esterno, coração, estômago, ventre até tocar no umbigo.
Sente este ar que vai e vem… Sem forçar, entrega-te à leveza de sentir esse ar que sobe e desce, que vai e vem, vai e vem, vai e vem…
5. Em silêncio, insiste nesta respiração, que deve acontecer sem esforço. Deixa-te ir. Deixa-te levar ao ponto de sentires o teu corpo tão leve quanto a do ar que percorre o teu ser. Deixa-te ir e juntamente com essa energia, vai e vem, vai e vem… Dentro de ti existe uma onda de energia que te embala, energiza e purifica. Deixa-te levar por essa onda e juntamente com a tua respiração, vai e vem, vai e vem, vai e vem…
6. Esquece agora a respiração, fica apenas. Deixa-te ficar, sem fazer absolutamente nada, entrega-te ao silêncio, fica no momento presente sabendo que ele é tudo o que tens e precisas agora…
Depois de te permitires alguns minutos de silêncio, faz um breve check up – como está agora o teu corpo? A tua mente? As tuas emoções? Observa-te e repara nos resultados.
7. Quando te sentires preparado, vais abrir os olhos. Se sentires necessidade, podes esticar os braços, as pernas, rodar o pescoço para dar ao teu corpo a informação de atividade e “despertar”.
Rute Caldeira é professora de meditação e ioga, palestrante, mestre em reiki, facilitadora de retiros espirituais, nacionais e internacionais, PNL practitioner e especialista em desenvolvimento espiritual. É autora dos livros Liberta-te de Pensamentos Tóxicos (2016), Simplifica a Tua Vida (2017) e O Poder da Meditação (2019). Pode acompanhá-la diariamente no Facebook, Instagram e Youtube.