© Getty Images
Como viver o Natal durante uma pandemia mundial

Como viver o Natal durante uma pandemia mundial

A pandemia vai certamente exigir distanciamento social durante a época natalícia, por norma, período de grandes confraternizações. Mas a distância física não tem de significar afastamento efetivo e, aqui, a tecnologia constituirá uma ferramenta fundamental.

Por Dez. 17. 2020

Todos os anos, o Natal tem duas faces: a da confraternização, para quem está rodeado da família, e a da solidão, para quem está sozinho. Este ano, devido à pandemia da Covid-19, a solidão poderá ser ainda mais acentuada.

Certezas não há, mas o Centro Europeu para a Prevenção e Controlo das Doenças já deixou o aviso: será uma época natalícia atípica.

O risco de contágio fará com que as celebrações não sejam como nos anos anteriores que, em algumas famílias, chegavam a reunir dezenas de pessoas, e terão certamente de se cingir aos coabitantes.

Qual a melhor forma de enfrentar esse afastamento foi a pergunta que colocámos a Rita Salazar Dias, psicóloga clínica, numa altura em que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, 60% da população revela já ‘cansaço da pandemia’, “um sentimento de sobrecarga, por nos mantermos constantemente vigilantes, e de cansaço, por obedecermos a restrições e alterações na nossa vida”.

A Ordem dos Psicólogos portugueses alerta para o facto de essa fadiga poder provocar indiferença e, num documento que publicou sobre este tema, sublinha que não se pode baixar a guarda; todos temos de continuar a ser parte da solução.

Solidão que vem de trás

Rita Salazar Dias começa por realçar que “a questão da solidão não é um tema de agora, nem tão-pouco surgiu com a pandemia. Existem muitas pessoas que já se encontravam sós, mas camufladas ou disfarçadas com os contactos sociais que o dia a dia lhes vai exigindo. Naturalmente que o confinamento veio trazer à tona esta solidão”.

Num estudo realizado pela Kaspersky, empresa de cibersegurança, 41,8% dos inquiridos portugueses respondeu ter sentido o mesmo nível de solidão antes e durante a pandemia, uma percentagem muito próxima dos 42,6% que reportou que o sentimento de solidão foi mais intenso no confinamento.

Mas foquemo-nos no Natal, para o qual a psicóloga descreve vários cenários.

Para quem vive esta época com e para a família, um Natal mais isolado será vivido com alguma melancolia. “No entanto, embora a maioria da população viva esta época com otimismo e generosidade, para outra parte, o Natal, por variadíssimas razões, é vivido com alguma tristeza, e talvez para estes, um recolhimento obrigatório possa ser vivenciado com alguma paz”, afirma a psicóloga clínica. Isto porque, continua, poderão não sentir “a azáfama que antecede o Natal das pessoas que as rodeiam”.

Os mais afetados

Poderá ainda haver uma maior angústia nas famílias que tenham “algum familiar ou amigo infetado”, alerta Rita Salazar Dias, que lembra ainda que quem tenha perdido alguém devido ao coronavírus terá um Natal mais triste e vazio.

E quem terá maior dificuldade em lidar com um Natal diferente? “Os idosos, por terem maior dificuldade com as tecnologias, poderão ser os mais afetados. Os adolescentes, mais virados para o mundo cibernauta, talvez consigam, ainda assim, algum conforto por se sentirem acompanhados desta ferramenta”, responde a psicóloga clínica.

Todavia, não podemos pensar que este seja um tema que afeta só as faixas etárias mais elevadas. “Os mais novos também são afetados e podem sentir-se sozinhos, mesmo tendo todas as tecnologias ao seu dispor. Uma curiosidade que o estudo da Kaspersky revelou foi que a Geração Z (68%) foi a que mais se sentiu sozinha durante o confinamento, e o Natal poderá ser outro período crítico”, revela Rita Salazar Dias.

A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº 246, dezembro de 2020.
Mais sobre mente e emoções , Natal