Nunca se falou tanto em felicidade como hoje e investir nela é muito importante para nos sentirmos bem connosco próprios, sermos mais saudáveis e melhorarmos as relações com os outros. No entanto, precisamos de estar cientes de que ninguém é feliz sempre e é o balanço entre momentos bons e maus que nos faz aproveitar melhor os primeiros e sentir felicidade.
Além disso, ser feliz na vida pessoal e laboral é igualmente importante. Não há receitas, nem uma só forma de ser feliz, porque todos somos diferentes, mas há algumas linhas gerais que podem ajudar a alcançar a felicidade.
Lembre-se que, apesar de a felicidade ser vulnerável aos acontecimentos que ocorrem, está muito dependente do nosso modo de pensar e do que fazemos, ou seja, temos algum controlo sobre a mesma e a forma como escolhemos viver também a determina.
Para saber mais sobre este tema, estivemos à conversa com António Pedro Pinto, cofundador e CEO do Happiness Camp, que se realizou no Porto a 14 de setembro, e duas das oradoras desta que é a maior conferência sobre felicidade corporativa da Europa, Julia Halilovic, coach de bem-estar e facilitadora na Happiness Bussiness School, e Raquel Soares, personal brand strategist e fundadora da Love People.
Olhámos ainda para alguns estudos e livros cujo tema é a felicidade, tudo em prol da sua.
A felicidade é um trabalho constante
Para a coach de bem-estar Julia Halilovic, a felicidade não é algo que se atinja, mas sim um trabalho contínuo: “Ser feliz é um trabalho interior e um sentimento que vem e vai. Também aprendemos com as coisas negativas e estas podem ajudar-nos a seguir em frente.”
No livro Essa Vozinha na Sua Cabeça (Lua de Papel), Mo Gawdat, autor do bestseller Equação da Felicidade, garante que a infelicidade, mesmo que tenha raízes em acontecimentos reais, só se enraíza por força dos pensamentos ruminantes e podemos pará-los.
Aprender a ser feliz
Alguns estudos indicam que cada um de nós nasce como uma disposição natural maior ou menor para a positividade, mas podemos aprender a ser felizes. Mo Gawdat, na obra anteriormente citada, garante que a base dessa aprendizagem é fazer da felicidade uma prioridade.
“Cada pessoa tem a possibilidade de encontrar a sua própria felicidade, porque cada indivíduo necessita de algo diferente para ser feliz. Como não há uma receita única, cada um deve aprender a ser feliz à sua maneira”, afirma Julia Halilovic.
António Pedro Pinto lembra que “a felicidade é consequência de dois grandes aspetos: relações interpessoais e o propósito de cada um de nós”.
Conselhos para ser feliz
O primeiro aspeto a ter em consideração, de acordo com Julia Halilovic, é que ser mais feliz é uma jornada longa.
Depois, continua a coach, “é perceber o que se quer, pois tendemos a esquecermo-nos do que queremos realmente e começamos a querer o que os outros esperam de nós”.
Por fim, acrescenta, “é importante perceber que todas as pessoas merecem ser felizes e que cada um tem os seus recursos para encontrar a felicidade, porque somos seres únicos”.
A importância da socialização
Investigações várias mostram que os tempos mais felizes são passados junto das pessoas de quem gostamos, portanto, investir nas nossas relações é um caminho para sermos mais felizes.
Já Abraham Maslow colocou, na sua pirâmide das necessidades, o amor nos seus vários tipos (amizade, família, romance…) como a necessidade psicológica mais importante, só ultrapassada pelas necessidades básicas: alimentação, água e abrigo.
No livro Uma Boa Vida (Lua de Papel), os professores catedráticos Robert Waldinger e Marc Schulz, atuais diretores da maior investigação sobre felicidade alguma vez feita – Estudo de Harvard Sobre o Desenvolvimento Adulto – salientam que é a qualidade das nossas relações pessoais que alimenta a nossa felicidade e saúde.
“Muitas vezes, as pessoas complicam a felicidade e pensam que não são felizes porque não têm isto ou aquilo, mas o caminho é pensar naquilo que temos agora e nas pessoas a quem queremos dar o nosso amor e queremos fazer felizes”, refere Raquel Soares.
O dinheiro traz felicidade, mas…
Um estudo realizado nas universidades da Pensilvânia e de Princeton e publicado, em março último, na Academia Nacional das Ciências concluiu que ter mais dinheiro é associado a um nível maior de felicidade.
Mas há um teto máximo: 92 mil euros por ano; após esse valor a felicidade estabiliza. Os investigadores afirmam que o dinheiro não é o segredo da felicidade, mas ajuda.
Contudo, garantem também que é apenas um dos fatores para o nosso bem-estar emotivo e que há pessoas muito ricas que são infelizes e nenhum dinheiro do mundo as ajuda a ultrapassar isso.
A infelicidade também conta
Para Julia Halilovic, sem chuva não há arco-íris. “A vida é uma montanha-russa e quão aborrecido seria se estivéssemos sempre em linha reta? Olhemos para a Natureza: não seria chato se só tivéssemos uma estação? Nós precisamos de mudanças, do melhor e do pior, porque é assim que aprendemos. Se estivéssemos sempre felizes, a vida era monótona”, assegura.
Aqui, entra a adaptação hedónica, como recorda António Pedro Pinto: “Nós adaptamo-nos às coisas com o passar do tempo e esquecemos o prazer que nos proporcionavam”. Raquel Soares acrescenta que “a felicidade plena é uma utopia, mas é possível desenvolver ferramentas para ultrapassar os problemas”.
Felicidade cooperativa
Ser feliz no trabalho é muito importante e, como nos diz António Pedro Pinto, os millenials e a geração Z estão mais atentos a esse facto e escolhem um trabalho não só pelo salário, mas também por responder ao propósito que os move e que lhes possibilite ter um equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho.
“A felicidade no trabalho foi subestimada durante muitos anos. Os meus pais e avós diziam-me que o trabalho não tinha de nos fazer felizes, mas sim fazer-nos ganhar dinheiro. Mas passamos 80% do nosso tempo a trabalhar, logo, o que fazemos profissionalmente deveria fazer-nos felizes. Se tivermos paz no trabalho acredito realmente que nos podemos dirigir para onde quisermos”, afirma Julia Halilovic.
Para o cofundador do Hapiness Camp, “a felicidade corporativa é um tema que faz cada vez mais sentido, até porque a OMS já alertou para o facto de a depressão e o burnout se tornarem, até 2030, a segunda maior causa de incapacidade a seguir às doenças cardiovasculares. Portugal é o país da Europa onde há maior risco de burnout”.
Os grandes culpados da infelicidade
Daquilo que assiste no seu trabalho como coach, Julia Halilovic aponta três grandes fontes de infelicidade:
1. Trabalho: “É a maior fonte de infelicidade das pessoas que vêm ter comigo para fazer coaching.”
2. Expectativas irreais: “Sejam impostas por nós próprios ou pela sociedade, as expectativas fazem-nos ser muito críticos, pensar demasiado e pressionam-nos. As mulheres são as que mais sentem essa pressão.”
3. Saúde: “A covid fez-nos perceber o quão é importante a saúde, mas só pensamos nela quando ficamos doentes e a doença é uma grande fonte de infelicidade.”
Trabalhar a felicidade laboral
Para Julia Halilovic, “depende sempre da empresa e da situação em que se está”, mas, garante que todas as pessoas podem, independentemente da sua posição, ser um agente da sua felicidade e tentar trazer alguma para o local de trabalho, sugerindo programas, tentando falar com os outros e estando mais conscientes.
A coach de bem-estar diz que é preciso partilhar mais os sentimentos quando nos encontramos em dificuldades. Tenho instigado isso em startups com as quais trabalho.
No que diz respeito às empresas, António Pedro Pinto assegura que as empresas estão mais alerta, mas muitas ainda não percebem como podem trabalhar a felicidade cooperativa.
“Quando falamos com os departamentos de Recursos Humanos, a primeira coisa que nos dizem é que não têm recursos, mas uma das mensagens que o Hapinness Camp quis passar foi que, por mais que haja pouco recursos, há sempre pequenas coisas que podem ter um impacto gigante na felicidade colaboradores”, explica.
Desenvolver uma marca pessoal
Raquel Soares ajuda as pessoas a desenvolverem a sua marca pessoal, um processo que também contribui para a felicidade.
“O maior ganho de alguém que inicia um processo de desenvolvimento da sua marca pessoal é encontrar-se. A marca pessoal já lá está, não vamos criar nada, apenas vamos usá-la de forma consciente e alinhados com a nossa essência, aprendendo a comunicá-lo, tanto na vida profissional, como pessoal”, sublinha a especialista.
Muitos dos que a procuram estão em fase de mudança de carreira.
Ela própria passou por isso: “Trabalhei em várias empresas na gestão de recursos humanos e tive de assumir que era miseravelmente infeliz, porque não me identificava com a forma como se fazia a gestão de recursos humanos, não queria chegar ao final do mês e ver as pessoas apenas como um número. Foi aí que resolvi criar a minha própria empresa, a Love People, há já 10 anos.”