Manifesto: O envelhecimento ativo
Envelhecer faz parte do ciclo da vida e dar-lhe as boas-vindas é fundamental para uma vida feliz. Vera Machaz, psicóloga e oradora, explica a importância de envelhecer em sintonia com as suas emoções.
*A OFF!CINA é um projeto de psicologia motivacional, que tem como principal objetivo fomentar as competências emocionais individuais, de forma a promover uma boa higiene emocional, a nível pessoal e no trabalho.
O que envelhece é o que não carece, é o que não nos serve, e o que não se ajusta connosco, é o que nos diminui e, por isso, que nos envelhece. O que nos tira anos de vida são aqueles que duvidam de nós ou nos põem à prova. Que nos amachucam, sem perceber que isso nos pode fazer desfalecer e, por isso, envelhecer.
O que envelhece é dizer mal, é arranjar problemas para fugir das soluções e encher o nosso peito de ilusões. O que envelhece é o que nos contamina: as expectativas que nos deixam à deriva num mar turvo e ondulado onde está a pressão, a opressão e a desilusão. Ficamos sem rumo, e quando olhamos para o lado, não conseguimos ver nada. É isso que envelhece.
O que envelhece é o que não permanece, o que não sabe ficar. Só a fé e a esperança num voo que dá ênfase ao poder da Natureza e dos nossos cinco sentidos, que nos levam para longe desse pântano que nos afasta de nós e dos outros. Por isso, a idade está na cabeça e o peso no coração.
O que envelhece é ter medo, é deixar a nossa identidade de lado para conquistarmos aquilo que nos parece ser capaz de nos levar mais longe. Mas a única pessoa que nos leva realmente mais longe, somos nós próprios.
Depois a receita é aproveitar para vivenciar e partilhar, e tantas outras coisas acabadas em “ar”, principalmente “amar”. Como dizia a nossa querida Mariama “só o amor importa”.
Só não envelhece quem se conhece, quem se reconhece, quem se disponibiliza, quem está presente, quem manda o passado e o futuro dar uma volta, porque o certo está nesta dádiva diária que todos temos, de acordarmos, de fazermos com o dia aquilo que escolhermos e de voltarmos a descansar para o dia seguinte.
Numa roda-viva imaginária, como aquelas que existem nas feiras populares, onde cada um de nós aceita à sua maneira, ao seu ritmo e sem comparações, aquilo que der e vier.
Não envelhece quem se alimenta, quem se nutre, quem compra serotonina para ir ao ginásio, ou a uma pista de dança, quando decidem contribuir naturalmente para a sua felicidade.
O ar que respiramos, a chama acesa de uma vela a arder de mãos juntas em oração, um golo valente num copo de água e quem sabe os pés descalços num relvado para sentirmos a potência que a Terra nos pode dar … não envelhece quem aprende a valorizar. Só envelhece quem escolhe estar velho.
Envelhecer é não ter medo de perder a cabeça para depois a voltar a encontrar. É substituir “porquê” por “para quê”, dar um adeus à síndrome do “está-se bem” e largar um bom sorriso nas boas-vindas ao melhor musical da nossa história que se chama “eu sou responsável”, e que conta com a banda sonora capaz de transformar as nossas angustias em gratidão. E assim contribuímos, sem birras, para a nossa evolução.
Quem parece novo por fora e está carregado por dentro, está pesado, mesmo que a balança o esconda. Fugir da nossa data de nascimento é viver amargurada, porque nós somos um só, seres especiais e únicos, como uma história para contar, uma infância para vivenciar, uma adolescência para nos orgulhar, uma fase adulta para nos alimentar e, no fim, descansar.
Temos em comum um lado feminino e masculino, que envelhece muito rápido, se não reconhecermos que todos os dias são dias de nascer de novo e que cada um de nós pode ganhar anos de vida quando se assume, se vê tal como é, sem máscaras, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, já agora todos os dias da nossa vida … porque antes de casarmos com alguém temos de nos comprometer connosco. De fora para dentro e de dentro para fora.
Com lágrimas e gargalhadas, com dores e sem desconforto, calados ou a cantar. Mas sem nunca deixarmos de amar. Se essa porta estiver aberta, não há velhice que lá possa entrar.
O que nos faz parecermos velhos é não sabermos dizer não. É não assumirmos erros e não aproveitarmos para crescer e para transformar cada bloqueio numa oportunidade de evolução.
Não envelhece quem não vende peixe podre. Quem se defende de provocações e quem cria limites físicos e emocionais para resistir à dor. A ideia não é sermos novos ou velhos. A ideia é sermos reais e naturais, capazes de honrar a nossa encarnação.
Envelhece quem vive agarrado ao que os outros querem. Envelhece quem não se liberta. Envelhece quem é prisioneiro dos outros. Quem dá as bananas aos macacos do nosso sótão, somos nós próprios.
Ser novo é todos os dias avaliar o combustível do nosso “carro” que dá vida às nossas emoções, frustrações, vitórias e acima de tudo soluções.
Ser novo é acordar sem peso e adormecer em paz, com aquilo que se diz e com aquilo que se faz!
Ser novo é dar espaço ao que vem e aproveitar o que a vida tem. Viver sem amarras, sem pressa, sem olhar para o lado, porque o caminho é em frente, e se fizermos marcha atrás, só se for para ganhar balanço.
Julgar envelhece. Culpar envelhece. Duvidar envelhece. E a vaidade é a pior de todas, prima direita do ego. Essa não só envelhece, como adormece. Adormece a nossa essência e cria milhares de caras e corpos iguais, que não estão vivos porque perderam a sua identidade.
E passeamos na rua cheia de narizes e rosetas, e olhares parecidos na perfeição, mas sem a força de uma expressão.
Tudo o que nos descentra do nosso propósito de amor e amar a vida, faz-nos ficar velhos. Fica velho quem não chora, quem não dança, quem não pinta, quem não escreve e quem não brinca.
Na OFF!CINA somos a favor de nutrição e cuidado. Mas aos 46 anos, tenho saudades do tempo da minha avó em que se comia pão com manteiga sem culpa, e ninguém nos chateava. Melhor que cuidar é mimar, e sim, um chocolate não nos aumenta o peso, tira-nos o peso… porque nos faz ficar mais alegres e porque nos alimenta o cérebro. Um bom prato de arroz dá-nos hidratos e por isso hidrata-nos.
Na OFF!CINA acreditamos na magia do 40, que fica entre o 8 e 80. Não é o que se faz. É como se faz. E sim, a culpa engorda, a necessidade de ter a galinha da vizinha e a constante preocupação com o disfarçar a idade, é a principal causa de rugas.
Quem perde expressão, perde intenção. Se ficarmos todos com a mesma cara, como é que nos podemos reconhecer? Se formos todos iguais, onde é que encaixam as diferenças? É impossível fazer um puzzle com as peças todas iguais. Para encaixarmos, temos de nos diferenciar.
E não há beleza mais bonita e especial do que aquela que mesmo que seja mexida, não se perde de si própria.
A magia de viver vem de uma varinha mágica que não é de todo parecida com a que está numa gaveta da nossa cozinha. É como a de uma fada que nos devolve a alegria de viver, sem pensar em envelhecer.
Vera Machaz é a criadora da OFF!CINA. Licenciada em Comunicação Empresarial e Psicologia, tem também uma pós-graduação e mestrado em Skills for Communication. Pretende promover de forma eficaz a agilidade emocional, treinando as pessoas para serem mais conscientes das suas emoções, desenvolvendo assim uma espécie de manutenção atenta ao bom funcionamento das mesmas. Descubra tudo aqui e no Instagram do projeto.