Sempre que pensamos em alguma coisa, o nosso cérebro muda a nossa memória, mesmo que não nos apercebamos disso. Uma equipa de investigadores da Universidade de Boston, nos Estados Unidos da América, afirma que esse mecanismo é quase como adicionar um filtro de fotografias do Instagram, o que faz com que se perca e ganhe informação.
Steve Ramirez, neurocientista e líder da investigação, diz que “estamos inadvertidamente a aplicar filtros às nossas experiências passadas”, o que pode ser o ponto de partida para descobrir novas maneiras de tratar distúrbios relacionados com a memória, tais como a depressão e os transtornos de stresse pós-traumático.
As memórias são mais reconstrutivas do que uma gravação do passado
Lembranças reconstrutivas
A memória tem uma natureza maleável e, segundo o também professor de Ciências Psicológicas e Cerebrais na Universidade de Boston, é mais reconstrutiva do que uma gravação do passado, como habitualmente se pensa.
Partindo deste pressuposto, o neurocientista acredita que essa maleabilidade pode ser usada para ultrapassar estados depressivos e traumas.
Mas como é que se processa? De acordo com o estudo publicado na revista Nature Communications, isso será possível com a estimulação artificial de memórias felizes e estas farão com que as negativas diminuam.
Para os investigadores, o primeiro aspeto a considerar foi perceberem em que parte do cérebro existem memórias positivas e negativas e como distinguir entre as duas.
Depois, descobriram que a ativação artificial de uma experiência positiva consegue reescrever permanentemente
uma experiência negativa, diminuindo a intensidade emocional desta última.
Medicina do futuro
Os cientistas acreditam que, em casos mais graves, poderá ser possível estimular grandes áreas do hipocampo com ferramentas como estimulação magnética transcraniana ou estimulação cerebral profunda – um procedimento invasivo – para ajudar as pessoas a superar essas memórias más.
Ramirez refere que é necessário usar aspetos de recompensa e positividade para reescrever os componentes negativos passados.
O neurocientista defende que estudos como este são importantes para se continuar a explorar os métodos clínicos e benéficos de manipulação da memória e que podem ampliar ainda mais os limites da neurociência.
Além disso, espera ver os investigadores a experimentarem ideias inovadoras que podem transformar a medicina no futuro: “Queremos tratamentos que sejam muito mais eficazes do que as opções que estão atualmente disponíveis”, remata.