A adolescência é uma idade difícil para pais e filhos, mas nem tudo tem ser um problema. Há formas de lidar com os vários desafios que a idade impõe. “Faz parte de ser adolescente o andar um pouco perdido, de não saber bem o que se quer, mas eles precisam de regras e normas”, realça a psicóloga Isabel Gonzalez Duarte.
Na verdade, continua, “os adolescentes precisam de que a família os oriente. Estão à espera de serem confrontados pelos pais e precisam de uma barreira que os trave. Quando a sociedade não mostra essas barreiras, aí sim alguns comportamentos tornam-se problemáticos.”
Isabel Gonzalez Duarte acredita que “é fácil lidar com adolescentes. Eles explicam-se muito bem, os pais só têm de estar atentos”.
Quais são então, segundo a psicóloga, as melhores atitudes a ter perante alguns dos problemas desta fase?
As regras e a negociação na adolescência
“Não é na adolescência que se impõem regras, tem de ser antes. Os adolescentes não aceitam bem regras, sobretudo, se não estiverem bem interiorizadas até se chegar a essa etapa. As regras têm de ser negociadas desde pequenino. Na adolescência eles já se acham senhores de si próprios e isso dificulta tudo. ‘Queres uma coisa tens de dar algo em troca, queres sair, tens de tirar boas notas e arrumar o quarto’. É este tipo de negociação que tem de começar desde cedo.”
As saídas à noite
“Os adolescentes saem cada vez mais cedo e a horas muito tardias. É preciso ir permitindo as saídas, mas não é sempre. O ideal é deixá-lo sair à noite nas férias e não durante o tempo de aulas. Mas há um aspeto fundamental. Os pais têm de acompanhar essas saídas. Um pai leva, outro vai buscar, porque há muitos perigos. Na verdade, há quem ganhe dinheiro na noite à conta dos miúdos que andam um pouco sozinhos e perdidos. Quanto mais mesada têm, mais saem. Mais uma vez, é fundamental que os pais negoceiem com os filhos as saídas”.
Os consumos
“As saídas à noite estão muito associadas aos excessos, como o consumo de bebidas alcoólicas e de drogas, que estão cada vez mais à mão de semear dos jovens. O conselho que dou aos pais é estarem atentos e há uma regra fundamental, é que eles não falam quando os pais querem, mas quando não se está à espera e, nesses casos, é preciso estar atento e ouvir o que têm a dizer. Muitas vezes, não falam deles próprios, mas dão exemplo de situações que aconteceram com os amigos, mas indiretamente estão a falar deles. Os pais devem estar ainda atentos ao dinheiro gasto, roubos em casa e ao isolamento, que podem ser sinal de consumo de drogas e álcool.”
Os pais e a escola
“Os pais delegam a educação na escola e essa atitude é errada. Têm de estar atentos, ir ajudando nos estudos, ensinando métodos. O que acontece, com frequência, é que os pais arranjam explicações, academias e demitem-se desta função. Assim, a carga fica em cima do explicador sem exigirem nada dos filhos. Quando um pai proporciona aos filhos as condições para que eles tirem boas notas, têm de exigir trabalho e boas notas, ou pelo menos que consigam passar e não tirar negativas. Do que vou vendo no exercício da minha profissão, os melhores alunos, são aqueles que são acompanhados de perto pelos pais”.
Como lidar com a mentira
“Não nos podemos esquecer que os adolescentes são muito manipuladores. Falar com eles é a melhor forma de apanhar as mentiras. A minha experiência diz-me também que os adolescentes mais perturbados, acreditam nas próprias mentiras.”
O bullying
“Neste campo, podemos ter duas situações: os adolescentes poder ser as vítimas ou os agressores. No primeiro caso, os pais devem estar atentos ao comportamento dos filhos, o isolamento, o choro fácil e a irritação podem ser sinais de que estão a sofrer de bullying. Mais uma vez, a solução passa por conversar e estarem presentes e as escolas têm técnicos que podem ajudar a ultrapassar estas situações. A minha prática tem-me mostrado que, muitas vezes quem exerce bullying na escola, em casa é visto como o maior e os pais instigam indiretamente esse comportamento sem se aperceberem e ficam muito chocados quando lhes são revelados esses comportamentos desajustados. Os miúdos são hoje mais cruéis e mais agressivos e é preciso que percebam que não são melhores ou piores que os outros.”
A dependência da Internet e dos smartphones
“Os pais têm de estabelecer regras para que os adolescentes se desliguem do mundo virtual e às vezes a única solução é tirarem-lhes o smartphone. Muitos dos adolescentes nem sequer têm noção do que é ou não perigoso, não conseguem estar longe dos chats, alguns são viciados em jogos online com ou sem custos e tudo isto faz com que não se relacionem verdadeiramente uns com os outros, pelo menos fisicamente. Hoje em dia, os jovens estão sempre à procura de qualquer coisa, em vez de estarem concentrados a estudar ou a fazer um trabalho, porque na Internet é tudo imediato e eles lidam mal com a frustração, que leva a descargas e a comportamentos violentos”.
As tarefas domésticas
“A participação nas tarefas deve começar o quanto antes. Há coisas tão simples como ir deitar o lixo à rua, fazer a cama, pôr e levantar mesa, arrumar o quarto, tratar do animal doméstico que os adolescentes podem fazer. Isto facilita a vida familiar e que contribuem para se tornarem mais responsáveis.”
Falar de sexo
“Os pais devem educar para a sexualidade e não falar de promiscuidade e no sentido do pormenor. A melhor forma de abordar o tema é criar oportunidade. Não evite a conversa quando eles próprios puxarem pelo assunto.”
Os seus filhos já passaram pela fase da adolescência? Veja ainda como o mindfulness ajuda a educar os seus filhos.