A amamentação é um processo fundamental no crescimento de qualquer bebé. No entanto, pode ser difícil perceber o que é melhor para o seu corpo e para o seu filho, visto que existem inúmeros fatores a ter em atenção, como problemas de saúde, o regresso ao trabalho ou produção de leite materno.
Na realidade, nenhuma de nós nasceu ensinada e os bebés (ainda) não vêm com manual de instruções. Cada um é como é, e é o papel da mãe fazer o melhor que sabe, quer seja dar peito ou biberão, ou uma junção dos dois.
Mas, para tal, é preciso conhecer as suas opções e o que cada uma implica, bem como pode fazer uma adaptação tranquila.
A Saber Viver falou com Ana Rita Cruz, enfermeira e especialista em Saúde Materna e Obstetrícia, do projeto Mamãs e Bebés e da página A Enfermeira da Mamã, para descobrir a importância da amamentação e como pode passar da mesma para o biberão de forma suave e serena.
Compreender a amamentação
Expectativa vs. realidade
Ana Rita Cruz começa por explicar que, ao falar de maternidade, não se pode utilizar a palavra perfeição, mas sim felicidade. “Os bebés não querem mães perfeitas, querem mães felizes”, afirma.
A pressão para ter uma gravidez ideal, um parto perfeito e uma recuperação rápida, em conjunto com uma montanha-russa de emoções e hormonas, pode levar à exaustão mental e física, daí ser essencial ter expectativas reais e não ceder a comparações.
A enfermeira questiona ainda o porquê da associação do “sucesso da amamentação com uma maternidade feliz e plena”, visto que esta “é, e continuará a ser, o maior desafio de todos os pais assim que o bebé nasce”.
Na verdade, e apesar da amamentação ser um processo natural, “tem que ser aprendida, exige que a mulher esteja munida de informação, apoio e acompanhamento, para ultrapassar alguns obstáculos”, já que “não se restringe ao simples facto de conseguir uma boa pega e sução eficaz”, confirma a especialista.
“Sem dúvida que o aleitamento materno é o melhor para o bebé, contudo a amamentação não pode ser uma obrigação, mas sim uma opção“, acrescenta.
Se for o caso, é importante que a mulher perceba como funciona a mesma ainda durante a gravidez, “para que se possa preparar devidamente”. Depois de o fazer, conseguirá “fazer uma escolha livre, informada e viver a sua própria experiência, distante de tudo o que possa perturbar o processo”.
É importante então que a amamentação “ocorra de uma forma tranquila, sem ansiedade, sem pressão, sem críticas ou julgamentos. Tudo isto só é possível se a mãe se sentir acompanhada, apoiada e compreendida”, frisa a enfermeira.
Dificuldades
Ana Rita Cruz acredita que “temos que abrir mais os nossos horizontes e não sermos redutores ao ponto de não haver margem para compreender cada caso individualmente”, visto que “há bebés muito desafiantes, tal como há situações merecedoras de um olhar específico“.
É o caso de “mulheres com condições médicas particulares que as impossibilita de amamentar”, acrescenta.
Benefícios
A especialista salienta que “a amamentação pode e deve ser uma experiência positiva, vivida e partilhada em família, não sendo apenas e só função exclusiva da mãe“.
Partilha ainda alguns dos benefícios da amamentação para o bebé:
- Leite materno é um superalimento, capaz de suprir todas as necessidades de um bebé nos primeiros seis meses de vida;
- Do ponto de vista nutricional, é o mais adequado na sua composição. É dinâmico e adapta-se constantemente às necessidades do bebé, apresentando características especiais;
- Fácil digestão;
- Protege contra inúmeras doenças enquanto reforça o sistema imunitário;
- Previne infeções;
- Contribui para uma menor probabilidade de desenvolver alergias no futuro, obesidade, diabetes, entre outras doenças;
- Promove um melhor crescimento e desenvolvimento.
Guia para passar da amamentação para o biberão
Altura indicada
Na verdade, não existe altura certa para introduzir o biberão e começar a extração de leite materno.
De acordo com a especialista “se o bebé for saudável e a amamentação estiver a correr bem, não é preciso ter pressa em oferecer leite extraído”, aliás, a extração vai depender de quando precisar de utilizar o biberão.
A enfermeira diz ainda que não é preciso existir essa preocupação no primeiro mês de vida, já que “mãe e bebé estão a trabalhar em conjunto para iniciar e desenvolver a produção de leite materno e para o mesmo aprender a mamar de forma eficaz”.
Amamentação e o regresso ao trabalho
Voltar à rotina pode ser um desafio depois de ter um filho. Este período de ajuste é particularmente stressante, no entanto, Ana Rita Cruz confirma que “não é necessário parar de amamentar porque vai regressar ao trabalho“.
“É sim preciso perceber como manter a produção de leite materno, como extrair, armazenar, transportar e, posteriormente, oferecer ao bebé”, acrescenta.
Para tornar o processo de transição do peito para o biberão mais fácil, a enfermeira aconselha ainda a começar a usar o mesmo pelo menos duas semanas antes de voltar ao trabalho.
Desta forma, pode “resolver eventuais dificuldades atempadamente” já que “o seu bebé pode demorar algum tempo a habituar-se”, afirma.
Destaca ainda que é provável que o bebé não se alimente tão bem na ausência da mãe e que desperte com mais frequência, porém, estas ocorrências fazem parte da adaptação.
Dicas para introdução ao biberão
A especialista alerta para a introdução precoce ao biberão, que pode deixar o bebé confuso e agitado, visto que “introduzir o biberão sem uma necessidade ou propósito específico pode interferir com a amamentação”.
Frisa também que é preciso ter em atenção que cada bebé é diferente e que “é muito importante respeitar e dar tempo a este processo de adaptação para que a amamentação seja bem sucedida”.
Partilhou ainda algumas dicas que considera fundamentais para esta transição. Ora veja:
- Aguardar que o bebé tenha fome;
- Pedir a alguém que dê o primeiro biberão ao bebé, para que este não fiquei confuso ou frustrado, já que está habituado ao peito;
- Tentar manter a calma, sem ansiedade e ter muita paciência;
- Não esperar pelo dia em que vai ter que se ausentar por um curto período de tempo ou para o primeiro dia de regresso ao trabalho;
- Começar com pequenas quantidades de leite extraído e ir aumentando gradualmente;
- A extração do leite materno pode acontecer pela utilização de um copo coletor durante a amamentação ou pela utilização de bomba extratora de leite;
- A extração só é facilitada se a mãe estiver relaxada, tranquila, próxima do seu bebé ou, em alternativa, a pensar nele.
O foco deve estar na felicidade
Por fim, deve sempre lembrar-se que cada caso é um caso e que a felicidade e a paciência são sempre a solução, principalmente em questões de amamentação e transição para o biberão, em que a sua paciência pode ser testada.
Não há alturas certas nem métodos certos, daí ser essencial procurar os que melhor se adequam a si e ao seu bebé.
De qualquer forma, deve preparar-se antecipadamente, pois “quanto mais antecedência tiver para prepara a transição, mais suave ela será, pois será gradual e haverá tempo para acontecer de forma tranquila”, aconselha Ana Rita Cruz.