6 dicas para lidar com as birras e frustrações das crianças durante o confinamento
Mariana Saraiva e Prata, psicóloga no Centro da Criança e do Adolescente do Hospital CUF Porto, partilha algumas estratégias para os pais que voltaram as estar em casa com os filhos. Aprenda a lidar com as birras e com o mal-estar dos miúdos.
Encontramo-nos confinadas, mas desta vez já não se trata de uma novidade. E é precisamente por não ser uma experiência nova que traz consigo algumas mudanças relativamente ao primeiro confinamento. Por um lado, o medo do desconhecido está mais atenuado, pois já sabemos como é viver confinadas e conhecemos melhor aquilo que funcionou em cada família. Mas por outro, estamos mais cansadas e frustradas pelo prolongar da situação.
Os pais sentem-se menos pacientes. É o teletrabalho ou o trabalho presencial, o acompanhar os mais novos nas aulas online, as tarefas domésticas e mesmo o verem-se privados dos seus lazeres e convívios. E as crianças, tal como os adultos, ressentem-se com esta alteração nas suas rotinas.
Em idade pré-escolar e escolar, aquilo que as organiza são precisamente as rotinas, das quais fazem parte a ida à escola, a socialização com os pares, o contacto com a família. Mas vivemos tempos em que tiveram de reformular a forma como fazem tudo isso. Deste modo, é natural que possam surgir manifestações de mal-estar, como as birras, a dificuldade em lidar com a raiva, a frustração, o medo e, por vezes, com a tristeza.
Então, como poderão os pais lidar com estas situações no dia a dia? Veja estas sugestões.
6 dicas para lidar com as birras e frustrações dos miúdos
1. Compreenda e empatize com as emoções do seu filho
Se para si está a ser difícil viver estes tempos, para o seu filho, cujo entendimento e capacidade para gerir as emoções estão menos desenvolvidos, ainda mais difícil poderá estar a ser.
Muitas vezes, as crianças mais novas manifestam o seu mal-estar através das birras ou dos medos. Mas sobretudo com as birras, pode ser mais difícil de empatizar.
Lembre-se que estas são sempre as melhores forma que o seu filho encontrou para lidar com a situação. Converse com ele, mantendo o contacto ocular e a proximidade (ex: baixe-se ao seu nível) e pergunte-lhe “O que te deixou zangado?”. Assegure-se que o seu filho se sente aceite mesmo quando manifesta emoções mais desagradáveis.
2. Preste atenção diariamente às emoções do seu filho
Em família, podem encontrar um momento do dia em que partilham aquilo que gostaram mais e menos nos seus dias e como se estão a sentir.
Podem chamar-lhe o “Jogo das emoções”. Falar sobre as emoções ajuda a geri-las, e partilhá-las, sentindo-se ouvido e aceite, pode ajudar a lidar melhor com o confinamento.
3. Ajude o seu filho a gerir os momentos de frustração
É natural uma criança manifestar alguma dificuldade em lidar com a frustração e, neste confinamento, como as famílias passam muito tempo juntas, os momentos em que surgem essas frustrações vão naturalmente aumentar.
Depois de o ouvir e empatizar com a sua emoção, ajude-o a autoregular-se (por exemplo, realizando a respiração consciente ou desviando a sua atenção para algo de que goste).
4. Seja flexível mas estabeleça limites para o tempo de ecrãs
Vivemos rodeadas de ecrãs e o seu uso pelas crianças, não é exceção: são as aulas online no computador, os desenhos animados na televisão, os jogos nos telemóveis e tablets. A Academia Americana de Pediatria fixou um limite de tempo de utilização dos mesmos, em função da faixa etária de cada criança. Caso contrário, poderá gerar dependência.
Neste confinamento, tente ser flexível, ou seja, ter consciência que o facto de estar mais tempo em casa vai naturalmente gerar mais momentos de ecrã. Para muitas crianças, os jogos online são mesmo uma forma de se manterem próximos dos seus colegas. Estabeleça um limite de tempo, em conjunto com o seu filho, para o uso de ecrãs como lazer – poderá exceder o limite estipulado normalmente, mas que tem de ser cumprido.
5. Crie momentos para o seu filho praticar exercício físico
As crianças precisam de correr, saltar, libertar a tensão após um dia de aulas. Precisam dos recreios, para libertar energias. Por isso, crie um momento todos os dia, de preferência ao ar livre, para que o seu filho possa fazê-lo. Verá que a seguir ele estará mais calmo e focado para tudo o que tiver de realizar.
6. Mantenha ativas as redes de contacto/apoio da família
Continue a falar diariamente com as pessoas que faziam parte do dia a dia do seu filho. Mesmo que à distância, se a presença dessas pessoas se fizer sentir, as saudades ficarão mais atenuadas. Façam videochamadas ou gravem vídeos para enviar à família e amigos. Manter os contactos sociais é essencial.
Esteja atento à forma como o seu filho manifesta as suas emoções. Não hesite em procurar a ajuda de um profissional de saúde especializado se notar alguma alteração no seu humor ou comportamento, ao nível do apetite, do sono, das aprendizagens ou dos relacionamentos. A teleconsulta é também um meio seguro e disponível a que pode recorrer.