Brincar com os miúdos ajuda a criar empatia e estimula a criatividade
Durante o confinamento, foram muitos os pais a aperceberem-se de como as brincadeiras em família estreitam laços afetivos e fazem com que os filhos desenvolvam aptidões tão importantes como a empatia e a criatividade.
Até ao momento em que a Covid-19 se instalou e obrigou grande parte da população mundial a ficar fechada em casa, muitos pais não conseguiam encontrar nas suas rotinas tempo para brincar com os filhos.
Mas, com o confinamento, novas formas de interação entre as famílias nasceram. “Os pais puderam estar verdadeiramente presentes no dia a dia dos filhos e não apenas nos momentos das rotinas (levantar, vestir, comer, banho, etc.).
Assim, conseguiram aproveitar esse tempo para criar momentos juntos, puderam fazer em conjunto algo que é uma necessidade básica de todas as crianças, brincar”, explica o pediatra Hugo Rodrigues, que defende ainda que, em grande parte das famílias, “se passou o que deveria acontecer sempre, que foi os pais descobrirem que, mais do que uma necessidade das crianças, essa é também uma necessidade sua”.
Houve obstáculos, até porque nem sempre é fácil saber como brincar, mas esse foi um grande desafio superado pela maioria das famílias.
Organizar o dia a dia
Nos primeiros meses, o cenário atípico de teletrabalho foi um fator de stresse e ansiedade, e aquilo que era ‘normal’ e rotineiro sofreu mudanças radicais.
“Como lidar com tudo isto? Como gerir trabalho, refeições, rotinas de higiene e tempo dedicado aos filhos?” – estas eram questões presentes na cabeça de muitos pais, mas cedo se aperceberam que, depois ultrapassarem o desafio de organizar todas as áreas da vida, foram capazes de “criar momentos de atenção genuína aos filhos fora do horário de trabalho e foi muito mais fácil conciliar as diferentes necessidades do dia a dia do que nas situações em que isso não aconteceu”, defende Hugo Rodrigues.
E como é que os pais podem definir um horário de brincadeira com os filhos?
Esses momentos “devem ser prioridade na organização do dia a dia, tal como comer ou tomar banho. Entendo que nem sempre seja fácil dispor de muito tempo, mas é sempre possível dar qualidade ao tempo que se tem, por pouco que seja. Assim, nessas alturas, os pais têm de estar genuinamente com os filhos, ou seja, sem nenhum tipo de distrações, nomeadamente os ecrãs (televisão, telemóvel, tablet, computador…)”, aconselha o pediatra.
Brincar ao faz de conta
Se é uma pessoa atenta e aprendeu realmente a incluir momentos de brincadeira na vida familiar, já se deve ter apercebido da cada vez maior oferta de brinquedos e jogos que simulam o quotidiano dos adultos, momentos ‘reais’ que promovem a interação entre pais e filhos.
É o caso dos colecionáveis Lidl Shop, uma verdadeira ‘febre’ entre miúdos e graúdos que garante momentos de diversão, não só em casa, como nas idas ao supermercado.
Para o pediatra Hugo Rodrigues, os brinquedos de faz de conta e de imitação da vida real, o jogo simbólico, como o próprio lhe chama, “são extremamente importantes para o desenvolvimento infantil, uma vez que permitem à criança controlar a realidade, porque as brincadeiras são da responsabilidade dela, ou seja, é ela a ditar as regras e a decidir como é que tudo se vai desenrolar; desenvolvem a criatividade; permitem-lhe construir um mundo de acordo com a sua imaginação; estimulam a capacidade de resolução de problemas e incentivam a socialização”.
Afinal, o principal modelo das crianças são os pais, pelo que brincar em conjunto vai ajudá-los a perceber como é que os filhos os veem e permitir ajustar e fortalecer a sua relação.
Estimular a empatia
A Barbie, juntamente com uma equipa de neurocientistas da Universidade de Cardiff , no País de Gales, lançou os resultados de um novo estudo científico – Exploring the Bene ts of Doll Play through Neuroscience (Explorar os Benefícios de Brincar com Bonecas através da Neurociência, em português) – que comprovam que a atividade em questão ativa regiões cerebrais que permitem às crianças desenvolver a empatia e as capacidades de processamento de informações sociais mesmo quando brincam sozinhas.
Através da monitorização da atividade cerebral de crianças, entre os 4 e os 8 anos, enquanto brincavam com uma variedade de bonecas, a equipa da professora universitária Sarah Gerson descobriu que o sulco temporal superior posterior (PSTS) – uma região do cérebro associada ao processamento de informações sociais, como a empatia – foi ativado.
“Esta é uma descoberta inovadora. Utilizamos esta zona do cérebro quando pensamos noutras pessoas, especialmente quando refletimos sobre os seus pensamentos ou sentimentos. As bonecas incentivam as crianças a criarem os seus próprios mundos imaginários, em vez de as estimularem a resolver problemas e a encontrar soluções. Estes brinquedos estimulam as crianças a pensar sobre outras pessoas e sobre o modo como interagem umas com as outras. O facto de termos verificado que o PSTS é ativado durante esta atividade comprova que brincar com bonecas contribui para o desenvolvimento de competências sociais de que as crianças precisarão mais tarde na sua vida”, revelou Sarah Gerson.
“Ao recriarem o mundo real nos seus mundos imaginários, as crianças estão a compreendê-lo e a assimilá-lo da forma como o apreendem. Ao simular determinadas situações, estão a desenvolver a imaginação, a fantasia e a criatividade, competências importantíssimas para o desenvolvimento infantil”, acrescenta Vera Ribeiro da Cunha, psicóloga educacional.
Para entender a relevância das descobertas da neurociência, a Barbie promoveu, de forma independente, uma pesquisa direcionada a mais de 15.000 pais de crianças, em 22 países.
Os resultados mostraram que, em Portugal, 47,6% dos pais afirma que a temática da inteligência emocional ganhou uma nova relevância no atual contexto pandémico, sendo que 59,8% se mostraram preocupados com o modo como a Covid-19 pode afetar os filhos e a forma como interagem com os outros.
Manual de instruções para pais
Para os pais que acham que não sabem brincar, o pediatra Hugo Rodrigues deixa alguns conselhos:
- “Não pense muito no que vai fazer, deixe a criança ir decidindo e ‘vá atrás’.”
- “Preocupe-se apenas em divertir o seu filho e em divertir-se também, sem pensar no que pode ensinar com cada brincadeira (brincar não são aulas!).”
- “Brinque muito porque, com a prática, vai sendo cada vez mais capaz.”
- “Organize o seu dia, dando prioridade aos momentos de brincadeira com o seu filho, de forma a que, nessas alturas, não esteja preocupado com outros assuntos.”
- “Seja genuíno, porque aquilo de que o seu filho mais precisa é mesmo… de si!”