Relações e família

Estará o casamento fora de moda?

É verdade que o casamento tem vindo a tornar-se menos prioritário nas últimas décadas, mas isso não significa que a Geração Z não queira casar-se. Fazem-no sim mais tarde e tem de ser com a pessoa certa…

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Estará o casamento fora de moda? Estará o casamento fora de moda?
© unsplash
Rita Caetano
Escrito por
Out. 25, 2022

As várias gerações trazem consigo tendências diferentes e quais serão as da Geração Z no que ao casamento diz respeito? Ainda não há respostas fechadas, mas já se notam algumas linhas condutoras do seu comportamento, sendo as mais visíveis o quererem fazer muitas coisas antes daquele e atingir a independência até darem esse passo, mas isso está longe de significar que não desejem casar-se, como veremos mais à frente.

Além disso, há que ter em conta que os mais velhos desta geração têm agora 25 anos e a idade média do primeiro casamento tem vindo a aumentar.

Se olharmos para os dados da Pordata e do INE, a média de idades do primeiro casamento em Portugal é de 34,3 anos para os homens e de 32,9 para as mulheres.

Na viragem do milénio, o sexo masculino casava-se em média aos 27,5 anos, e o feminino aos 25,7, ou seja, muita coisa tem mudado nas últimas décadas.

De acordo com o The Pew Research, 33% dos centennials espera casar-se um dia

Quem são

Antes de nos centrarmos no tema do casamento, convém fazer uma breve descrição de quem são os pós-millennials ou centennials, como também são conhecidos.

Perfazem já 30% da população mundial (serão cerca de dois mil milhões de pessoas) e, segundo The Pew Research Center, instituição norte-americana que estuda tendências, nasceram entre 1997 e 2010, portanto, é a primeira geração a crescer com Internet desde a mais tenra idade. Isso faz com que dominem as tecnologias como nenhuma outra e que a sua vida esteja muito marcada pelas mesmas.

São independentes, um em cada dois tem estudos superiores, são adeptos do imediatismo, mas também são pessoas de causas e consumidores mais exigentes.

Tudo isso influencia as suas relações amorosas, tal como todas as incertezas que a sociedade de hoje enfrenta, entre as quais as mudanças climáticas, a pandemia, as crises económicas, as guerras, às quais os centennials não passam incólumes, bem pelo contrário.

O desemprego, o emprego precário e o custo com a habitação também fazem com que esta geração fique mais tempo em casa dos pais, adiando quer a união de facto quer o casamento.

Por outro lado, antes de se comprometerem, querem viver a vida, viajar, trabalhar no estrangeiro…

 

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Acima de tudo a independência

Ninguém duvida de que as mudanças estruturais na sociedade tornaram o casamento menos prioritário em comparação com as gerações anteriores. Mas essa transformação já começou com a Geração X, acentuou-se com os millennials e, provavelmente, acontecerá o mesmo com a Geração Z.

Nos Estados Unidos da América, muitas vozes conservadoras fazem futurologia e receiam mesmo o fim do casamento, atribuindo a culpa às aplicações de encontros online, ao liberalismo e até à emancipação feminina.

Já os jovens apontam outras razões para não se casarem e isso é transversal a vários países, como demonstra o estudo Relationships: A Status Update, elaborado pelo Vice Media Group.

33% dos pós-millennials espera casar um dia, e 25% diz que ainda não encontrou a pessoa com as qualidades que procura

“Há uma correlação inevitável entre a relação que os jovens têm consigo mesmos e as relações que estabelecem com outras pessoas. Um profundo foco interno e a prática de autocuidado tornaram as gerações jovens muito independentes. Acreditam que o trabalho que fazem para cuidar de si mesmos melhora os seus relacionamentos, mas não precisam, nem querem ser dependentes de outros”, lê-se nesse relatório.

Mais, “Sabem que os relacionamentos requerem compromisso, mas não estão dispostos a comprometer quem são. Sabem que não podem negligenciar as suas paixões e valores pessoais por outra pessoa”.

Fica ainda patente que a Geração Z dá muito valor aos relacionamentos, a família e os amigos são o que mais valoriza na vida e não quer repetir os erros dos pais, pois muitos são filhos de pais divorciados.

Os valores que importam

Para a Gen Z, num relacionamento amoroso é fundamental:

1. Lealdade;
2. Humor;
3. Honestidade;
4. Paixão.

Fonte: Relationships: A Status Update, elaborado pela Vice Media Group

Vontade de se casar

Neste mesmo estudo, é dito que o casamento ainda é importante e não desapareceu, mas também é certo que existem outras maneiras legítimas de formar famílias e estar em relacionamentos.

Mas já em 2018, o The Pew Research Center realçou o facto de que, embora não estejam a casar-se, 33% dos pós-millennials espera fazê-lo um dia, e 25% diz que ainda não encontrou a pessoa com as qualidades que procura.

Em 2020, o relatório Knot’s Future of Relationships and Weddings Study, realizado pela The Knots, empresa de comunicação especializada em casamentos, foi ao encontro dessa mesma realidade.

80% dos inquiridos entre os 18 e 29 anos (estão incluídos também os mais novos entre os millennials) já pensaram no dia do casamento e, destes, a maioria via-se casado dentro de 2 a 5 anos.

Antes de se casarem, o seu grande desejo é serem financeiramente independentes e terem uma carreira estável. 75% admite querer viver em união de facto antes de se casar e, destes, metade diz mesmo que esse passo é obrigatório antes do casamento.

Mas este estudo tem mais dados interessantes. Por exemplo, a maioria dos inquiridos não espera conhecer a sua cara-metade nas apps online, mas através de amigos, em eventos sociais e na escola, tal como acredita que partilhar os mesmos valores familiares (69%) e visões de relacionamento (68%) com o seu futuro cônjuge é duas vezes mais importante do que partilhar a mesma raça, etnia ou opiniões políticas.

A tradição já não é o que era

Os casamentos da Geração Z prometem mudar o segmento, que viveu dias difíceis com pandemia nos últimos dois anos.

O relatório Knot’s Future of Relationships and Weddings Study aponta como grandes mudanças: vestidos e fatos pouco tradicionais, festas com menos pessoas, comida quilómetro zero e menos gastos com as fotografias, mas as que são tiradas têm de ser dignas do Instagram.

A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº 265, julho de 2022.

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