A vida não é como nos filmes e, muito menos, as relações se parecem, no mundo real, com as que vimos n’O Diário da Nossa Paixão ou em qualquer outro romance baseado nos livros de Nicholas Sparks ou John Green.
Poderíamos afirmar que isso acontece graças aos problemas do dia a dia – que todos temos e simplesmente fazem parte do quotidiano. No entanto, não são apenas os stresses e complicações com o trabalho e a família ou amigos que nos impedem de ser uma Lily e Marshall, em How I Met Your Mother.
Também, muitas vezes sem nos apercebermos, agitamos bandeiras vermelhas em direção aos nossos companheiros, fruto dos exemplos que temos do amor ou traumas de relações passadas.
Até podemos estar neurologicamente preparados para construir laços afetivos, mas nunca como hoje houve tantos desafios à manutenção das relações.
“Nem sempre assim foi, mas, hoje, a felicidade é o que dá sentido à vida e isso é algo que nos torna mais exigentes. Só permanecemos juntos se houver amor, o que é muito desafiante, sobretudo tendo em conta que vivemos cada vez mais tempo”, diz Cláudia Morais.
Como ser feliz a dois
Para a terapeuta familiar, os verdadeiros segredos dos casais felizes são:
• Conseguir reinventar-se a cada fase da vida. “Todos mudamos ao longo dos anos. Nas palavras da antropóloga Helen Fisher: ‘A maior parte de nós vai ter duas ou três relações significativas na vida. Para alguns, vai ser com a mesma pessoa’”;
• Manter a curiosidade e abertura em relação a quem está ao nosso lado;
• Não colocar expectativas irrealistas sobre os parceiros. “Por vezes, queremos que este tenha os mesmos interesses que nós, nos faça sentir desejo, seja o nosso melhor amigo e ainda que nos dê segurança, mas também permaneça suficientemente excitante para manter a novidade. Não é realista.”
Em contrapartida, há comportamentos tóxicos que deve evitar para que mantenha acesa a chama do amor. Com a ajuda da psicóloga e terapeuta familiar, enumeramos alguns dos que ainda vai a tempo de mudar, pelo bem da sua relação (e saúde mental)..
O que pode deixar de fazer já
1. Manifestar desprezo ou indiferença
Embora sejam os gostos em comum que nos unem, ninguém é absolutamente igual. Portanto, não é de estranhar que, enquanto um prefere “x”, outro valoriza mais “y”. E está tudo bem nisso.
O problema está quando mostramos indiferença pelo outro.
“Muitas vezes, o alerta surge em aparentes banalidades: um dos parceiros chega a casa e fala sobre uma música que descobriu. O outro não desvia o olhar do telemóvel. No dia seguinte, partilhamos a música com os colegas de trabalho e, à hora de almoço, um deles aparece com o CD de que falámos. Sentimos uma facada no coração, fomos confrontados com um gesto atencioso de alguém que prestou a atenção que esperávamos do nosso parceiro”, remata.
Também pode ser manifestado, não verbalmente, através do revirar de olhos.
“Se o nosso parceiro fala de alguma coisa importante para ele e reviramos os olhos, estamos a dizer-lhe que não queremos saber. Isso faz mal. Precisamos de sentir que a pessoa que temos ao lado se importa, numa base diária”, diz Cláudia Morais.
Por isso, por mais que não nos interesse ou tenhamos curiosidade em relação ao assunto, devemos ouvir com atenção o que partilham connosco e procurar fazer questões sobre o tema.
2. Ser hipercríticos
A proximidade traz confiança e, por consequência, coragem para tentar corrigir hábitos nos outros que nos incomodam. Porém, essas afirmações têm um impacto, por vezes, negativo no outro.
Sente-se culpado, incapaz ou menos que os outros e, eventualmente, ressente-se, a longo prazo.
Esta hipercrítica traduz-se ainda na permanente ‘caça ao erro’, por oposição à pessoa que espera sempre o melhor do outro.
“Combinámos às 17h e o meu marido está atrasado. Será que penso ‘de certeza que apanhou trânsito’ ou ‘está outra vez atrasado, não me respeita!’? A resposta condiciona a forma como vamos agir quando ele chegar, se perguntamos o que aconteceu com curiosidade ou de forma ríspida. Se for este o caso, é normal que a resposta venha ríspida também, o que confirma a nossa expectativa: ‘não só chegou atrasado, como ainda me responde torto’”, refere a terapeuta.
3. Amuos
“Há pessoas que erguem uma barreira de frieza e, apesar de estarem fisicamente presentes, ficam indisponíveis, sendo frias. Há que identificar a origem disso, pode ser por resposta a um comportamento hipercrítico”.
4. Defensividade
“Se, no caso do atraso, dissermos ‘então, chegaste atrasado, fiquei aqui tanto tempo à espera…’ em tom de lamento e, em vez de pedir desculpa, o outro atirar com ‘então e tu, no outro dia ainda chegaste mais atrasada!’, está a sacudir a água do capote, sem assumir responsabilidade pela situação em vez de ser sensível aos nossos sentimentos”, explica Cláudia Morais.
“Sempre que dermos por nós, em qualquer disputa, a querer ter razão, é bom lembrar que é melhor ser feliz do que ter razão”, conclui a especialista.
Afinal, um casal deve ser uma equipa e não dois lados de uma guerra.
5. Sentir vergonha
Não vamos ser hipócritas: claro que não concordamos com tudo o que as pessoas de quem gostamos fazem ou dizem. Todavia, quando começamos a sentir vergonha nesses momentos, é sinal que uma bola demolidora se aproxima do casal.
Procure falar aberta e francamente com o seu parceiro, explicando a razão de se ter sentido desconfortável, mas sem nunca o insultar ou ofender. No entanto, se for recorrente, comece a analisar a relação e perceba se é algo que quer que faça parte do seu futuro ou não.
6. Ser sarcástico e ridicularizar
Há quem defenda que o humor não tem limites. No entanto, quando uma piada roça o insulto, diminui o outro. Não existem dúvidas quanto a isso.
É por esse motivo que, num par, o sarcasmo e o “gozo” devem ser utilizados com moderação, especialmente quando o alvo da troça é uma característica sobre a qual a pessoa se sinta desconfortável.