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Constelações familiares: como o passado da nossa família pode afetar-nos no presente

Constelações familiares: como o passado da nossa família pode afetar-nos no presente

No tema das constelações familiares, uma prática terapêutica que visa resolver conflitos familiares, surge ainda o conceito de consciência sistémica, que nos pode ajudar no nosso autoconhecimento. Maria Gorjão Henriques, psicóloga e terapeuta, explica tudo sobre este tema.

Por Mar. 26. 2022

Num mundo cada vez mais global, onde nunca nos damos conta da forma como todos estamos emaranhados numa teia sistémica que é denunciada todos os dias nos telejornais, seja através das crises económicas, seja através da saúde pública, como a pandemia provocada pelo covid-19 e as suas respetivas consequências e implicações diretas no mundo, nos países, nas cidades, nas famílias e em cada um de nós em particular, nunca foi tão claro para todos que a abordagem sistémica é a base dos acontecimentos da nossa vida e a força invisível que condiciona os nossos comportamentos.

Compreender a abordagem sistémica

Se olharmos para a história, também encontramos a repetição de padrões e de eventos que influenciam significativamente a memória de um povo, o seu comportamento e a sua forma de estar e viver.

O mesmo acontece com as famílias de origem quando recebemos dos nossos pais a primeira célula, nela também estão contidas todas as memórias emocionais do clã feminino e masculino, levando-nos a viver e a identificarmo-nos com um modo de vida, reações e comportamentos que nem sempre são o que na verdade queremos para nós.

Assim, esta abordagem tem como propósito, ampliar a consciência do ser humano para um novo olhar, para uma nova compreensão, para um novo paradigma de ação: do medo ao amor, da dualidade para a unidade, com o propósito de curar as feridas ainda abertas do passado.

E mais em particular, a consciência sistémica convida-nos ao desenvolvimento de um olhar mais alargado sobre as dinâmicas ocultas dos sistemas de que fazemos parte, desde o sistema familiar até aos sistemas mais alargados como o nosso País de origem ou o nosso continente.

Esta compreensão oferece um movimento de inclusão de diferentes áreas do conhecimento que resulta num entendimento das motivações e comportamentos tantas vezes adotados sem consciência, ao mesmo tempo que ampliamos o nosso olhar ganhando clareza na mensagem espiritual que está contida em cada evento das nossas vidas.

Cada dor, cada conflito, cada conquista, cada alegria dos membros deste sistema, vivos, mortos, abortados, excluídos ou esquecidos, são-nos transmitidos silenciosamente e subtilmente de geração em geração
Maria Gorjão Henriques, psicóloga e terapeuta

Este novo olhar do campo de visão sobre a nossa vida torna-nos mais responsáveis para connosco e para com a nossa interação com o exterior, proporcionando-nos um maior equilíbrio e bem-estar como seres humanos e uma forma de viver mais integrativa.

A consciência sistémica auxilia-se da abordagem fenomenológica desenvolvida através das constelações familiares criadas pelo alemão Bert Hellinger, que tem como objetivo descodificar e libertar-nos do sofrimento causado pelos desequilíbrios do sistema familiar.

Propósito desta abordagem

1. Desenterrar os “programas” que nos fazem viver situações repetidas e excessivas trazendo para a consciência as dinâmicas ocultas que atuam nas nossas vidas;

2. Ganhar consciência da nossa interligação com o clã e com as suas circunstâncias;

3. Compreender que a informação não se perde, apenas se transmite de pais para filhos com o objetivo de que alguém do clã possa ou consiga libertar e transformar o que foi vivido e guardado.

Segundo esta abordagem, cada dor, cada conflito, cada conquista, cada alegria dos membros deste sistema, vivos, mortos, abortados, excluídos ou esquecidos, são-nos transmitidos silenciosamente e subtilmente de geração em geração, provocando emaranhamentos no sistema familiar e causando dificuldades e destinos difíceis em alguns dos membros de gerações seguintes.

Estamos a chegar a um momento da evolução do ser humano onde finalmente encontramos significado e compreensão para tantos acontecimentos que provocam sofrimento durante gerações e gerações de famílias
Maria Gorjão Henriques, psicóloga e terapeuta

Com esta abordagem é feita, finalmente, a síntese e a inclusão de diferentes áreas do conhecimento relacionadas com a consciência, a espiritualidade e ciência, incluindo a física quântica, a neurociência, a epigenética, entre outros.

Dar a conhecer e sensibilizar as pessoas em geral para a importância de desenvolverem um olhar mais alargado sobre as dinâmicas dos sistemas em que estão integradas, para um melhor entendimento das suas motivações e comportamentos.

Estamos a chegar a um momento da evolução do ser humano onde finalmente encontramos significado e compreensão para tantos acontecimentos que provocam sofrimento durante gerações e gerações de famílias e que na verdade não são mais do que a tentativa de o sistema familiar dignificar e honrar os destinos difíceis do passado.

Na verdade, estamos todos ao serviço do todo! Unidos num só coração.

Maria Gorjão Henriques, psicóloga, terapeuta, professora e facilitadora de constelações familiares, fundadora e CEO do Espaço Amar, fundadora e CEO da Consciência Sistémica em Portugal, Mentora e Organizadora do I e II Congresso Internacional de Consciência Sistémica.

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