Constelações familiares: como o passado da nossa família pode afetar-nos no presente
No tema das constelações familiares, uma prática terapêutica que visa resolver conflitos familiares, surge ainda o conceito de consciência sistémica, que nos pode ajudar no nosso autoconhecimento. Maria Gorjão Henriques, psicóloga e terapeuta, explica tudo sobre este tema.
Num mundo cada vez mais global, onde nunca nos damos conta da forma como todos estamos emaranhados numa teia sistémica que é denunciada todos os dias nos telejornais, seja através das crises económicas, seja através da saúde pública, como a pandemia provocada pelo covid-19 e as suas respetivas consequências e implicações diretas no mundo, nos países, nas cidades, nas famílias e em cada um de nós em particular, nunca foi tão claro para todos que a abordagem sistémica é a base dos acontecimentos da nossa vida e a força invisível que condiciona os nossos comportamentos.
Compreender a abordagem sistémica
Se olharmos para a história, também encontramos a repetição de padrões e de eventos que influenciam significativamente a memória de um povo, o seu comportamento e a sua forma de estar e viver.
O mesmo acontece com as famílias de origem quando recebemos dos nossos pais a primeira célula, nela também estão contidas todas as memórias emocionais do clã feminino e masculino, levando-nos a viver e a identificarmo-nos com um modo de vida, reações e comportamentos que nem sempre são o que na verdade queremos para nós.
Assim, esta abordagem tem como propósito, ampliar a consciência do ser humano para um novo olhar, para uma nova compreensão, para um novo paradigma de ação: do medo ao amor, da dualidade para a unidade, com o propósito de curar as feridas ainda abertas do passado.
E mais em particular, a consciência sistémica convida-nos ao desenvolvimento de um olhar mais alargado sobre as dinâmicas ocultas dos sistemas de que fazemos parte, desde o sistema familiar até aos sistemas mais alargados como o nosso País de origem ou o nosso continente.
Esta compreensão oferece um movimento de inclusão de diferentes áreas do conhecimento que resulta num entendimento das motivações e comportamentos tantas vezes adotados sem consciência, ao mesmo tempo que ampliamos o nosso olhar ganhando clareza na mensagem espiritual que está contida em cada evento das nossas vidas.
Este novo olhar do campo de visão sobre a nossa vida torna-nos mais responsáveis para connosco e para com a nossa interação com o exterior, proporcionando-nos um maior equilíbrio e bem-estar como seres humanos e uma forma de viver mais integrativa.
A consciência sistémica auxilia-se da abordagem fenomenológica desenvolvida através das constelações familiares criadas pelo alemão Bert Hellinger, que tem como objetivo descodificar e libertar-nos do sofrimento causado pelos desequilíbrios do sistema familiar.
Propósito desta abordagem
1. Desenterrar os “programas” que nos fazem viver situações repetidas e excessivas trazendo para a consciência as dinâmicas ocultas que atuam nas nossas vidas;
2. Ganhar consciência da nossa interligação com o clã e com as suas circunstâncias;
3. Compreender que a informação não se perde, apenas se transmite de pais para filhos com o objetivo de que alguém do clã possa ou consiga libertar e transformar o que foi vivido e guardado.
Segundo esta abordagem, cada dor, cada conflito, cada conquista, cada alegria dos membros deste sistema, vivos, mortos, abortados, excluídos ou esquecidos, são-nos transmitidos silenciosamente e subtilmente de geração em geração, provocando emaranhamentos no sistema familiar e causando dificuldades e destinos difíceis em alguns dos membros de gerações seguintes.
Com esta abordagem é feita, finalmente, a síntese e a inclusão de diferentes áreas do conhecimento relacionadas com a consciência, a espiritualidade e ciência, incluindo a física quântica, a neurociência, a epigenética, entre outros.
Dar a conhecer e sensibilizar as pessoas em geral para a importância de desenvolverem um olhar mais alargado sobre as dinâmicas dos sistemas em que estão integradas, para um melhor entendimento das suas motivações e comportamentos.
Estamos a chegar a um momento da evolução do ser humano onde finalmente encontramos significado e compreensão para tantos acontecimentos que provocam sofrimento durante gerações e gerações de famílias e que na verdade não são mais do que a tentativa de o sistema familiar dignificar e honrar os destinos difíceis do passado.
Na verdade, estamos todos ao serviço do todo! Unidos num só coração.
Maria Gorjão Henriques, psicóloga, terapeuta, professora e facilitadora de constelações familiares, fundadora e CEO do Espaço Amar, fundadora e CEO da Consciência Sistémica em Portugal, Mentora e Organizadora do I e II Congresso Internacional de Consciência Sistémica.