Mudar pode parecer um objetivo claro, mas nem sempre é. Muitas vezes, as pessoas procuram a psicoterapia porque não conseguem mudar sozinhas mas, na realidade, quando aprofundamos motivações, recursos, compromisso, percebemos que a mudança é apenas uma idealização na qual os problemas se esfumam e transformam numa vida leve e fácil.
É preciso desconstruir a mudança e perceber que, para mudar, é preciso de facto muita energia e compromisso.
Enquanto seres humanos, o nosso cérebro está preparado para a homeostase, para o equilíbrio. Qualquer mudança exige um esforço e um dispêndio de energia para que se alcance um novo equilíbrio. Este é um dos motivos pelos quais a mudança é tão exigente.
O desconhecido é outro aspeto característico da mudança. Já sabemos qual é a nossa realidade, muitas vezes esta é desconfortável ou insatisfatória, mas o receio da mudança é tão grande que acabamos por ficar limitadas ao que já conhecemos.
Como mudar?
1. Percebe porque realmente queres mudar
Mudar pode ter várias motivações, uma delas é a promessa de resolução de todos os problemas.
“Quando começar a fazer exercício/comer melhor/ver menos televisão vou ser mais feliz”, “ Quando mudar de trabalho/de rotina/de relação vou ser uma pessoa mais realizada”. São promessas que escondem desafios.
A mudança, apesar de prometer felicidade, realização, nem sempre é um mar de rosas. Implica sacrifício, compromisso, energia e aceitar consequências menos desejadas.
É importante ter bem definido qual o nosso motivo para a mudança. Ele tem de ser suficientemente forte para nos fazer mobilizar toda a energia necessária.
2. Aceita e compreende que a mudança não tem só ganhos
Com frequência, pensamos em tudo o que vamos ganhar com as mudanças, mas esquecemo-nos daquilo que teremos de conceder para que essa mudança aconteça.
Contudo, e inconscientemente, as dificuldades que nos fazem adiar a mudança são o nosso pano de fundo e estão mais presentes do que gostaríamos, seja sob a forma de pensamentos automáticos muitas vezes negativos, ou de sentimentos e emoções desconfortáveis como o medo, a vergonha ou ate mesmo a culpa.
Pensamentos como “Não vou ser capaz de levar isto até ao fim”, “Não consigo aceitar perder X”, “Não tenho recursos para mudar”…todos eles são formas de boicote, porque no fundo, a promessa de mudança alimenta-se muito do idealizado e muito pouco da organização para que ela de facto aconteça.
3. Prepara a mudança
Um dos erros que muitos cometemos é o chamado 8 ou 80. Ou adiamos a mudança, ou acreditamos que ela só vai acontecer se for radical.
Até pode resultar para alguns, mas para a maiorias das pessoas, a mudança é mais provável que aconteça se for ponderada, planeada. É preciso pensar nos prós e contras, nos ganhos secundários que nos afastam da mudança, nas implicações/consequências dessa mudança.
Termos um plano de ação e prepararmo-nos para que ela aconteça é essencial.
4. Um passo de cada vez
As mudanças não precisam de ser radicais. Até porque, como expliquei inicialmente, é de facto muito exigente mudarmos paradigmas que estão estabelecidos há muito tempo. Os tais equilíbrios que falei, dão estrutura, e se forem rompidos abruptamente podem ser altamente desorganizadores e levar a mudanças inconsistentes.
Dar um passo de cada vez em direção à mudança significa implementar pequenos movimentos em direção a esse objetivo, que farão com que lide com os desafios a seu tempo, integrando-os na sua vida e identidade.
Pequenos passos levam a mudanças consistentes, duradouras e até definitivas.
5. Integrar a mudança na identidade
A mudança é facilitada pelo nosso discurso, sendo que o nosso discurso reflete a estória que contamos a nós mesmas e, por consequência, a nossa realidade interna.
Em vez de dizermos “eu quero ser uma pessoa que come de forma saudável”, assumirmos “sou uma pessoa que come de forma saudável” aumenta o compromisso. Se o objetivo é esse, mesmo que ainda só tenhamos conseguido dar alguns passos nesse sentido, mudar o discurso ajuda a mudar a nossa realidade e a comprometermo-nos com os nossos valores.
A mudança como processo de evolução e transformação
Mudar pode ser desafiante, até assustador, contudo, é um processo necessário e constante na vida se quisermos evoluir e fazer corresponder valores, pensamentos, sentimentos e ações.
Aceitar que a mudança envolve um processo, e que este é composto por desequilíbrios e reequilíbrios, ajudará a compreender a necessidade de compromisso e energia que a mudança acarreta.
Além disso, a mudança é o único processo através do qual nos tornamos mais nós próprios. Se pensarmos, a nossa realidade muda permanentemente. Se não nos ajustarmos iremos sentirmo-nos incongruentes, desorganizadas, desadequadas.
E a si? O que a afasta da mudança? Um psicólogo pode ajudar!
Catarina Canelas Martins, psicóloga clínica e terapeuta Emdr, tem desenvolvido o seu trabalho nos últimos anos com famílias e adultos na Clínica de Psicologia e Coaching Learn2Be. Apaixona-a tudo o que envolva o bem-estar emocional e psicológico pois acredita que sem essa estabilidade e equilíbrio não é possível vivermos no nosso máximo potencial. Siga-a nas redes sociais Facebook e Instagram.