Os últimos três meses do ano letivo anterior foram passados, pela a maioria dos alunos e professores portugueses, com aulas à distância devido à pandemia, mas setembro marca, para já, o regresso às aulas presenciais para todos os anos de escolaridade.
No entanto, este retorno à escola tem contornos bem distintos dos de anos anteriores, tudo por causa das incertezas impostas pela Covid-19.
Como nos diz Catarina Barradas, professora do primeiro ciclo do ensino básico, as escolas têm um plano A, B e C, sendo que “o primeiro são as aulas presenciais; o segundo, o ensino à distância; o terceiro é um regime de ensino misto, com aulas presenciais e por videoconferência”.
Tudo indica que o arranque seja presencial, “mas temos de ter todas estas situações salvaguardadas”, realça a professora.
De um momento para o outro, em março, professores, alunos e pais tiveram de aprender a trabalhar com ferramentas até então desconhecidas para a maioria que permitiram ter aulas por videoconferência.
Catarina Barradas nunca tinha trabalhado com essas plataformas, mas a necessidade aguça o engenho e as formações que, entretanto, surgiram ajudaram nessa tarefa.
“As aulas síncronas eram dadas pelo Zoom, depois, deixava tempo para a telescola e ainda criei uma turma no Google Classroom, na qual colocava todos os trabalhos que fazíamos, testes, correções e onde os alunos devolviam trabalhos e testes e tínhamos um chat com alunos e pais”, conta.
Além disso, disponibilizou o seu número de telemóvel e fez videochamadas sempre que os alunos precisavam. Certo é que agora Catarina Barradas sente a comunidade escolar mais preparada para qualquer situação, sendo que o plano C será o mais complexo em termos de planeamento.
“Andar dentro e fora da escola é mais complicado não só para nós professores, mas também para os pais”, diz.
As regras da DGS
Mas regressemos ao novo ano letivo. A Direção-Geral da Saúde já partilhou com os agrupamentos escolares as novas regras de convivência nas escolas.
Pede que, sempre que possível, se garanta um distanciamento físico entre os alunos e alunos e docentes de, pelo menos, um metro, sem comprometer o normal funcionamento das atividades letivas. Mas as regras não se ficam por aqui:
- A partir do 2.º ciclo, os alunos são obrigados a usar máscara;
- As mãos devem ser desinfetadas à entrada da escola, gesto que deve ser repetido ao longo da permanência no estabelecimento de ensino e este deve ter material e produtos de limpeza adequados.
- Os horários das aulas (a regra é o desdobramento de horário, só de manhã ou só à tarde), intervalos (estes devem ter a menor duração possível) e períodos de refeições devem ser organizados de forma a evitar o contacto entre turmas diferentes.
- No pré-escolar, as crianças e os profissionais devem trocar o calçado à entrada. Deve ainda garantir-se a existência de material individual necessário para cada atividade ou a desinfeção do mesmo entre utilizações.
Por tudo isto, como diz Sandra Helena, psicóloga infantojuvenil da Clínica Psinove, “o regresso à escola neste próximo ano letivo é necessariamente diferente, mas parece-me muito ansiado por tantos, são muitos meses com contactos mais escassos com os amigos na maior parte dos casos. A tecnologia ajudou a firmar algumas relações, mas não do mesmo modo. O crescimento da criança e do jovem, que acontece também na relação com o outro, precisa
de contacto físico.”
E quem não quer ir?
A vontade de voltar à escola pode não ser sentida por todos, alerta a psicóloga: “Os alunos com dificuldades sociais ou muito desligados do projeto escolar aproveitaram este tempo para não lidarem com situações que os faziam sofrer. Os alunos vítimas de bullying estiveram mais tranquilos e o início escolar pode significar o novo confronto com os agressores”.
Além disto, o novo coronavírus veio trazer novos desafios e “os maiores ou menores receios vão estar muito ligados àquilo que foi o modelo de proteção partilhado e construído em família, logo vai divergir muito de caso para caso”, explica Sandra Helena.
As regras nas escolas são parte do grande desafio para as crianças e jovens. A distância física que se pede neste momento é uma instrução que impede a intenção tão natural da criança de socializar, quando constantemente verbalizamos a importância de brincar e estar com o amigo. O uso de máscara pelos adultos e por alunos com mais idade não vai facilitar a relação, devido ao constrangimento/impedimento de uma parte da comunicação não verbal”, realça a psicóloga infantojuvenil.
Catarina Barradas concorda: “A expressão facial mostra-nos se os alunos estão felizes, se estão a perceber a matéria, se precisam de ajuda, se estão bem de saúde… e com a máscara torna-se mais complicado ter essas perceções”.
Objetivos realistas
Com tanta dúvida sobre como decorrerá o ano letivo, será oportuno estabelecer objetivos? Para Sandra Helena, antes de tudo, “é muito importante conhecer a criança ou o jovem para estabelecer metas/objetivos realistas, ou seja, de acordo com o que é possível expectar; esperar demasiado causa desequilíbrios familiares, pois a área escolar é carregada de expectativas da família”.
Mas sim, é “essencial, no início do ano letivo, a dialogar com o filho, compreender as possibilidades desse novo ano e que medidas podem ser tomadas para que o ano escolar seja mais feliz em todos os aspetos, desde as rotinas às condições de espaço e entreajuda, atividades de lazer… “.
Ísis Antunes, coach de parentalidade consciente, acredita que é importante fazer um planeamento, contudo, “estes tempos desafiantes têm-nos dito que não vale a pena ter as coisas completamente estruturadas. Planear sim, mas com flexibilidade para nos adpatarmos aos imprevistos. Em vez de nos focarmos no problema, temos de nos focar na solução e transmitir essa mensagem aos nossos filhos para que sejam mais resilientes e resistentes.”