Relações e família

E quando os miúdos perguntam como são feitos os bebés?

Conversar com uma criança sobre sexo pode ser assustador. Saiba como e quando abordar cada tópico, desde o sexo e puberdade até à identidade de género e consentimento.

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E quando os miúdos perguntam como são feitos os bebés? E quando os miúdos perguntam como são feitos os bebés?
© Shutterstock
Marta Rebelo da Silva
Escrito por
Mai. 27, 2021

É normal sentir-se estranha ou nervosa a abordar este tema, mas o mais importante é ser honesta. Segundo especialistas na matéria, há mais riscos em não explicar o suficiente aos miúdos do que em falar demais.

Para além de ser um assunto sensível, muitos pais não dominam a fórmula correta para abordar a questão.

Saiba como falar com os mais novos sobre os diferentes temas consoante a idades das crianças.

Crianças até aos 2 anos

“O que é sexo?” ou “como são feitos os bebés?” são perguntas que, mais cedo ou mais tarde, vão ser feitas e as crianças vão querer ver respondidas.

Em entrevista ao Today’s Parent, Cory Silverberg, educador sexual e autor do livro Sex Is A Funny Word, sugere que primeiro lhes pergunte onde e como ouviram essa palavra, para que a resposta seja o mais adequada possível.

“O processo de introduzir o tema sexo deve começar antes de ser uma questão verbal”, afirmou o especialista à mesma publicação. Isto significa que é importante incorporar os nomes próprios dos órgãos genitais às atividades quotidianas, como a hora do banho.

Desta forma, os nomes dados às partes íntimas são termos que todas as crianças devem dominar, até porque precisam dessas palavras para comunicar eventuais problemas de saúde ou lesões.

É essencial tornar esta questão normal e tratar esses termos como se das palavras “braço” ou “perna” se tratasse.

Se o seu filho tiver tendência para tocar nos órgãos genitais – o que é perfeitamente normal – use isso como uma oportunidade para explicar sinteticamente quando e onde é apropriado explorar os seus corpos.

É normal as crianças demonstrarem curiosidade acerca do corpo umas das outras

Crianças dos 2 até aos 5 anos

O principal foco para esta faixa etária é aprender sobre os limites e o que é ou não apropriado quando se trata de tocar ou ser tocado.

Explicar a uma criança que tem uma palavra a dizer sobre o seu próprio corpo ajuda a mantê-la segura. Salte os pormenores, mas deixe claro que outras pessoas nunca devem pedir ou tentar tocar nas suas partes íntimas.

Transmita aos seus filhos que devem ter confiança em si para lhe contar situações inadequadas a qualquer momento, independentemente de tudo.

Nesta idade é normal as crianças demonstrarem curiosidade acerca do corpo umas das outras. No entanto, deixe explícito que não é correto brincar com os órgãos genitais, já que são partes especiais do nosso corpo e não devem ser tocadas por outras pessoas.

Se o seu filho lhe perguntar como são feitos os bebés, a resposta deve ter em conta a maneira como acha que ele a vai entender. Isto é, a fase em que isto acontece e a resposta que lhe deve dar depende da própria criança e do entendimento que considera que ela vai ter.

Comece por perguntar o que ela sabe sobre o assunto e refute de acordo com a resposta dela. Se lhe for pedido mais detalhes, pode tentar explicar-lhe que quando a semente do pai e o ovo da mãe se encontram, o bebé cresce na barriga da mãe. É importante dizer sempre a verdade e não se recusar a falar.

Mais, não se esqueça de referir que a explicação que deu é apenas uma das maneiras pelas quais as famílias são feitas. Se o seu filho conviver com famílias irregulares ele irá, muito provavelmente, perceber isso de forma natural.

Adote uma linguagem inclusiva no seu discurso diário e faça-se acompanhar de bons livros (que não refiram apenas famílias nucleares heterossexuais).

Com cerca de seis anos, a criança já pode perceber como os nossos corpos mudam à medida que crescemos

Crianças dos 6 aos 8 anos

Nesta fase, faça com que os seus filhos entendam a importância de explorar os espaços digitais em segurança, mesmo que eles ainda não usem a Internet sem supervisão. Estabeleça regras em relação a falar com estranhos e partilhar fotos online.

Também pode abordar a questão do abuso sexual. É importante que as crianças conheçam essa realidade, de forma a protegerem-se ou a ajudarem um amigo que possa sofrer de abuso.

Pode ser nesta fase que terá de explicar a verdadeira mecânica do sexo. Não há nada de errado em falar disso mais cedo, se o seu filho lhe parecer pronto para tal, ou atrasar a conversa se achar que ele ainda não vai compreender. Inclua um livro na vossa conversa, pode facilitar  muito a tarefa.

Falar sobre sexo pode andar de mãos dadas com outro tópico igualmente importante: a puberdade. Com cerca de seis anos, a criança já pode perceber como os nossos corpos mudam à medida que crescemos.

Quando se trata de discutir a puberdade, educadores sexuais, pediatras e psicólogos recomendam, mais uma vez, incluir na conversa com o seu filho um bom livro. Consegue ser bastante útil e guiá-la nos aspetos mais técnicos – porquê e como é que sofremos mudanças não só físicas, mas também sociais e mentais.

Os jovens informados são os que têm relações sexuais mais tarde e com mais medidas preventivas

Crianças dos 9 aos 12 anos

Esta idade é recheada de mudanças e as crianças podem desenvolver inseguranças com o seu corpo. Os pais devem tentar perceber como é que os seus filhos se sentem em relação a isso.

Certifique-se que o seu filho tem as ideias claras no que toca ao risco que representa ter relações sexuais (tanto quanto à gravidez, quanto às doenças sexualmente transmissíveis) e outros tópicos como o respeito pelo outro e a violência no namoro. Argumente a favor das suas convicções, mas ajude-o, sobretudo, a pensar por si e nas consequências que os seus atos podem ter.

Está provado que os adolescentes fazem melhores escolhas quando conhecem os riscos. Os jovens informados são os que têm relações sexuais mais tarde e com mais medidas preventivas.

Uma vez que nesta faixa etária há, geralmente, mais liberdade online, é boa ideia conversar com regularidade sobre segurança na Internet e ditar as suas regras e valores digitais. Por exemplo, fale sobre como a partilha de fotos nuas ou sexualmente explícitas delas mesmas ou de colegas pode ser prejudicial e ilegal.

Pergunte ao seu filho, o que acha que significa ser respeitoso nas redes sociais. E quando assuntos importantes sobre sexting ou cyberbullying forem mostradas na televisão, aproveite e use-os como ponto de partida para perguntar ao seu filho como lidaria com uma situação semelhante.

Adolescentes

Ainda que pareça que eles – os adolescentes, os que estão na “idade do armário” – não querem ouvir nada, eles ouvem. Por isso, nunca é demais conversar sobre métodos contracetivos (já que muitos iniciam a sua vida sexual nesta fase) ou emoções (como a paixão, desilusão amorosa, traição).

É imprescindível discutir, regularmente, o consentimento nas relações sexuais. “É preciso pensar em como ajudá-los a protegerem-se contra a pressão e a violência no namoro”, afirma Cory Silverberg em entrevista ao Today’s Parent. A conversa deve, igualmente, incluir os tópicos bebidas alcoólicas e drogas.

Se o seu filho estiver reticente em abrir-se consigo, pode sempre tentar falar sobre os “amigos da escola”.

Fonte: Today’s Parent,

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