Nunca como hoje, as mulheres tiveram tanta capacidade de escolher o modelo de vida e de família que lhes faz mais sentido”, afirma Filipa Jardim da Silva, psicóloca clínica. “Uma liberdade e poder de decisão que traz responsabilidade, exige que tenham maiores níveis de autoconhecimento no sentido de conseguirem escutar-se verdadeiramente e serem fiéis a si mesmas”, sublinha. Dados europeus, revelam que um terço dos agregados familiares nos países da União é composto por uma pessoa. Os países nórdicos lideram o ranking. Em Portugal, 20 por cento dos agregados tem só uma pessoa e mais de metade são mulheres.
Perfil de solteira
“A experiência de se ser mulher solteira é muito diversificada,”, comenta Filipa Jardim da Silva. Embora cada pessoa seja única, é possível identificar três grupos:
1. As mulheres solteiras por opção própria. Aqui as principais dificuldades são: “Sentir a opção aceite pela família; manter interesses comuns com amizades antigas; ser capaz de decidir ser mãe, mesmo sem companheiro; afirmar-se profissionalmente sem ser explorada.”
2. As solteiras aparentemente por opção. “Procuram muitas vezes projetar uma imagem de satisfação com a opção tomada (até para si mesmas), mas apresentam uma enorme angústia, porque não se sentem boas para cativar o amor ou tiveram experiências negativas e têm receio. Têm dificuldades na relação consigo mesmas e com a sua realidade”
3. As solteiras por circunstâncias da vida. “Os desafios variam consoante a faixa etária. Possivelmente a casa dos 30 é a mais problemática para estas mulheres. É o período em que as amigas casam e têm filhos, em que o medo da diminuição de fertilidade aumenta e em que a incerteza do futuro assusta”.
Ciência, mitos e preconceitos
De acordo com Bella DePaulo, investigadora na área de Psicologia na Universidade da Califórnia, e autora de Singled Out ou The Best of Single Life, casar não é o passaporte para uma vida saudável e feliz. “Estudos que acompanham as mesmas pessoas vários anos revelam que quem casa não fica mais feliz ou saudável. Na melhor das hipóteses, tem um breve efeito lua-de-mel em que está mais feliz no início do casamento, um fenómeno passageiro”. Segundo a investigadora, os preconceitos variam consoante o género.
“As pessoas pensam que as mulheres solteiras precisam mais do casamento do que os homens, o que não é verdade. Acham também que os homens solteiros não sabem fazer tarefas básicas, como cozinhar ou limpar a casa, o que também é falso.” Além da ideia de egocentrismo, de falta de objetivos associada à pessoa solteira, podem surgir situações em que esta é tratada como se não tivesse tanta maturidade ou importância como alguém casado.
Existe também discriminação, sublinha. “Nos Estados Unidos, por exemplo, há mais de mil leis que beneficiam e protegem apenas as pessoas legalmente casadas. Os solteiros, seja qual for a orientação sexual, são ainda cidadãos de segunda sem acesso a todos os benefícios e proteções atribuídos aos casados.”
Sozinha, mas sem estar só
A solidão é um dos principais receios de quem vive a solo. Se é certo que existem momentos a sós difíceis, o facto de ser solteira não agrava o risco de solidão.
Como destaca Bella dePaulo, “viver sozinho ou ser solteiro não é sinónimo de estar só no mundo. Regra geral, as pessoas solteiras têm mais amigos e mantêm mais laços com os irmãos, pais, amigos e vizinhos do que as pessoas casadas”. E o sexo feminino não é mais vulnerável à solidão. “As mulheres solteiras são particularmente boas na manutenção dos laços com a família e os amigos, embora muitos homens possam ser melhores neste âmbito do que se pensa. Pesquisas demonstram que na fase tardia da vida, as mulheres que sempre foram solteiras têm uma menor probabilidade de sofrer de solidão”, exemplifica.
Como é que se começa de novo?
Um passo importante, como explica Filipa Jardim da Silva, “é possível construir-se uma vida a solo e feliz depois do fim de uma relação. Os pontos de partida serão a mulher permitir-se redescobrir e diferenciar a sua identidade do que faz, do estado civil, da faixa etária. Esta é a base para uma mulher mais inteira e em contacto consigo mesma, que sabe fazer companhia a si mesma, pelo que pode estar sozinha, mas não se sente solitária.”
Por outro lado, “as relações que temos tendem a espelhar a dinâmica que existe connosco mesmas, pelo que quanto melhor se tratar maior a probabilidade de desenvolver uma relação a dois feliz”, comenta.
Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica, aponta os principais indícios de que está pronta para uma nova relação
Se isto acontece consigo, então está preparada para dar o passo para uma relação
• Ser capaz de fazer companhia a si mesma, com qualidade e satisfação.
• Ter a capacidade de satisfazer as suas necessidades emocionais.
• Respeitar-se no dia a dia e estar apenas em relações de respeito.
• Ser capaz de se valorizar o suficiente de forma autónoma, não ficando refém do amor, aprovação ou elogio do outro.
• Construir objetivos e propósitos de vida capazes de gerar motivação.
Texto: Manuela Vasconcelos
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