Diz o ditado popular que ‘o coração é uma criança, deseja tudo o que vê’, descrevendo perfeitamente certos indivíduos que saltam de relação em relação.
Na sua prática profissional, a psicóloga clínica Telma Pinto Loureiro nota que, “quando as pessoas não se conseguem manter em relações estáveis, frequentemente, isso acontece porque têm imensa dificuldade em estabelecer intimidade emocional”.
Este é um dos aspetos fundamentais para a longevidade dos relacionamentos, mas, de acordo com a especialista, “também é das coisas mais difíceis de alcançar; muitos casais divorciam-se sem terem conseguido criar essa base”.
Todavia, a falta de intimidade emocional é apenas o fator mais importante que pode ajudar a explicar o padrão de relações monogâmicas em série.
Algumas pessoas apaixonam-se facilmente e têm sucessivos relacionamentos monogâmicos, não conseguindo estar sozinhas. Descubra as razões e como se pode ultrapassar.
Estar sozinha implica também ter mais amor-próprio
Quem ‘coleciona’ parceiros pode estar propositadamente a boicotar as relações.
“É como se estivesse à defesa, com medo que mais tarde ou mais cedo o outro a abandone”, justifica a psicóloga. O receio de ser magoada faz com que a pessoa desista dos relacionamentos antes de isso acontecer.
Telma Pinto Loureiro comenta que esta motivação para deixar um namorado denota “baixa autoestima”. Além disso, revela “dificuldade em confiar no outro, em se dar a conhecer e em partilhar os seus desejos”.
O peso da história familiar
“Filhos de pais que tinham uma relação intermitente, onde não havia entendimento nem lugares-comuns, ou que se divorciaram não estão condenados a repetir os mesmos comportamentos, mas têm uma predisposição maior”, frisa.
No fundo, porque os progenitores são referências, modelos, para grande parte das esferas da vida: pessoal, familiar, social e até profissional.
Logo, as suas maneiras de ser e preferências, o tipo de conflitos que tinham e a forma como lidavam com os problemas acabam por nortear as reações e escolhas da seguinte geração – por vezes, sem que se apercebam disso.
A especialista conta que, no seu consultório, “não são raras as vezes que as pessoas dizem que não queriam ser como os pais e dão por si a reproduzir as mesmas ações do pai e as mesmas palavras da mãe”.
Uma questão de carácter
O temperamento e a personalidade dos indivíduos têm um papel relevante quando se trata de relações monogâmicas em série. Porquê? Os sujeitos podem simplesmente “não querer entrar em relações sólidas e duradouras”.
Por outras palavras preferem não deixar esmorecer a chama nos relacionamentos. Para isso, colocam-lhes um ponto final assim que dão sinal de estar a entrar em velocidade de cruzeiro. Falamos de pessoas que “têm necessidade de se manter naquele estado inicial das relações, caracterizado pela atração e a paixão”.
Então optam por esse estilo de vida, repleto de emoções intensas e sentimentos encantadores. Nessa fase, Telma Pinto Loureiro acrescenta que “é muito mais fácil ter motivação para estar com o outro e há uma maior disponibilidade para a prática sexual, que tende a ser mais frequente”.
Combater a monotonia
Porém, do ponto de vista da especialista, a paixão dá lugar a “uma intimidade diferente”. Algo para o qual algumas pessoas podem não estar preparadas.
“O esclarecimento é fundamental para que a mudança possa acontecer”, sublinha Telma Pinto Loureiro. Assim, a psicóloga clínica acredita que bastantes conflitos e inclusivamente separações poderiam ser evitados se os casais soubessem como as relações tendem a evoluir.
Depois do arrebatamento, vem o conhecimento: “As pessoas já se conhecem melhor, eventualmente, delineiam planos para a vida”.
Geralmente, isso significa dar o passo para o casamento seguido do alargamento do núcleo familiar. “O momento em que nasce o primeiro filho é um dos que mais altera a estrutura do casal, os sentimentos levam um abanão, podendo modificar a imagem do outro”, descreve.
Por fim, deixa de haver novidade e instala-se a monotonia: “Parece que entraram em piloto automático, não há esforço em manter o interesse um pelo outro”.
Contudo, a especialista defende que é essencial lutar contra esta tendência, pois, “se o casal não cuidar e não alimentar a relação, ela morre”.
Em vez de pensarem que as coisas só estavam bem no início do relacionamento, devem focar-se em aprofundar a sua ligação e criar mais dinamismo no dia a dia.
Estar sozinha não tem de ser um bicho de sete cabeças. Saiba também que estar sozinha não é a mesma coisa que estar só.