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Histórias de Natal: passar a época em Andorra ou nos Alpes com a família

Histórias de Natal: passar a época em Andorra ou nos Alpes com a família

Seis protagonistas, seis histórias que contam diferentes formas de viver o Natal. Esta é a história de Margarida Viegas, que recorda esta época na neve, enquanto celebrava o aniversário do filho.

Por Dez. 22. 2019

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, mas Margarida Viegas voltaria a partir para bem longe durante estes dias, tal como fez até há quatro anos.

Férias de Natal na neve

Margarida cresceu na vila de Côja, concelho de Arganil, com direito a Natais tradicionais com os pais e irmãos mais velhos e sempre viu o Natal como mais uma reunião de família.

“Sou ateia, mas os meus anticorpos relativamente ao Natal surgiram no ano em que me casei”, recorda a engenheira informática, que vive e trabalha em Coimbra.

Nesse ano, Margarida e o marido foram jantar a Côja. “A casa da família do meu marido era a 60 quilómetros e deu-nos a pancada, depois de jantar, já perto da meia-noite, de nos pormos ao caminho para passar a meia-noite em casa da família dele. Correu bem, mas aquilo deu-me uma volta ao estômago e comecei a pensar que o Natal era uma grande seca – apesar de me dar bem com a família e de serem todos impecáveis comigo”, conta, ainda com a viagem, à chuva, pelas muitas curvas da estrada da beira na memória.

Nesse dia jurou que nunca mais faria o mesmo e o destino fez-lhe a vontade. No Natal seguinte estava na maternidade, a dar à luz o filho mais velho, nascido a 24 de dezembro. “Esse Natal foi muito querido, porque tudo tinha corrido bem, o bebé estava bem, deram-me uma fatia de bolo e passei um serão descansado”, lembra, bem-disposta.

A partir daí, o aniversário do filho fazia com que a reunião da família mais próxima fosse sempre em sua casa.

“À tarde era a festinha do menino, mas como a família já estava toda, fazia-se a consoada a seguir. As coisas iam ficando da tarde para a noite. Corria tudo bem, embora me desse uma trabalheira”, admite Margarida que, embora não aprecie particularmente o Natal sempre gostou de reunir a família.

Foi quando os filhos chegaram à adolescência e começaram a pedir para passar férias na neve que surgiu aquela que foi, para Margarida, a solução para as canseiras natalícias. “Eu tive um rasgo e disse-lhes: vamos para a neve, mas com uma condição, vamos para lá no Natal!”.

Ainda hoje se lembra da cara dos filhos ao receberem a proposta. “A sério, mãe?!”, perguntaram, espantados. Sabendo que tanto a mãe – o pai falecera, entretanto –, como os sogros passariam a quadra acompanhados, e com o marido de acordo com a ideia, não tardou a passar das palavras à ação.

Adorei aquilo! Tenho saudades desses natais, não por ser Natal, mas por ser uma semana em que estávamos todos juntos num sítio diferente

“A partir daí, fomos sempre, primeiro para Andorra e depois para os Alpes”, conta.

Em Andorra ficavam num hotel onde acabava sempre por haver uma ceia ou um jantar especial. “E como o João fazia anos, havia um bolo e toda a gente lhe cantava os parabéns”, recorda.

Nos Alpes, como a família ficava num apartamento, era sobretudo o aniversário de João, o filho mais velho, que era celebrado, ficando o Natal para segundo plano.

“Adorávamos! Íamos ainda na semana anterior ao Natal, quando havia pouquíssima gente, porque a maioria das pessoas só vai depois de dia 25. Estávamos só os quatro num sítio diferente e aproveitávamos para passar esses dias juntos”, recorda, com saudade, Margarida.

O regresso ao tradicional

À medida que os filhos foram crescendo e saindo de casa, as tradições familiares tiveram de ser adaptadas. O casal chegou a ir de viagem sozinho algumas vezes até que, há quatro anos, o marido de Margarida deu uma queda, o joelho ressentiu-se e puseram de lado as idas para a neve.

“Voltámos ao tradicional. Vamos para Cambridge, onde está o meu filho mais velho, para Leiria onde está o mais novo, ou para Coimbra, para casa da mãe da companheira do mais novo”, conta.

Em Inglaterra a forma de celebrar continua a ser diferente: “a troca de presentes é a 26 e a 24 celebramos os anos do João. A comida não é como a portuguesa e eu também não levo ingredientes especiais. Acaba por ser um jantar de aniversário”, diz Margarida Viegas.

Para mim, o Natal nunca teve mais significado do que uma grande família

Este ano vai de novo para casa do filho mais novo e antecipa um Natal tradicional. Mas se lhe perguntarem, admite que um dia gostava de voltar às viagens. “Claro que sim! Adorei aquilo! Tenho saudades desses natais, não por ser Natal, mas por ser uma semana em que estávamos todos juntos num sítio diferente. Mas o filme não anda para trás. Nesta altura, entre irmos só eu e o meu marido para algum lado ou ficar com um dos meus filhos, prefiro isso, porque não tenho assim tantas oportunidades para estar com eles”, afirma.

Afinal, é desses Natais que tem saudades, já que dos Natais da infância e juventude sente sobretudo falta das pessoas. “Desses Natais tenho saudades porque tenho saudades de estar com a minha mãe, que faleceu há três anos, e do tempo em que vivíamos todos juntos. Mas não do Natal em si. Para mim, o Natal nunca teve mais significado do que uma grande família”, explica Margarida que, aos 64 anos, conseguiu manter até hoje a jura que fez no primeiro Natal de casada.

A viagem, à noite, pelas curvas da estrada da Beira – hoje seria o IP3 – em noite de consoada, nunca mais se repetiu.

A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº 234, dezembro de 2019.
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