Relações e família

A idade da adolescência: o amor dos pais, a liberdade e os limites das interferências

Um amor sem idade, transcendente e para a vida toda. A Saber Viver explora a relação entre pais e filhos adolescentes, os limites que deverão ser impostos e até onde pode (ou deve) ir a liberdade dos jovens.

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A idade da adolescência: o amor dos pais, a liberdade e os limites das interferências A idade da adolescência: o amor dos pais, a liberdade e os limites das interferências
© Getty Images
Rita Caetano
Escrito por
Ago. 24, 2020

Terá o amor dos pais um efeito protetor na adolescência, como na infância? Sandra Helena, psicóloga infantojuvenil da Clínica Psinove, acredita que “o amor tem sempre um efeito protetor em qualquer relação humana; entre pais e filhos, será de extremo valor. A compreensão das suas relações nos contextos da família e da escola, com uma atuação participativa, mas não intrusiva das vivências do adolescente pode promover a saúde psicológica”.

Para Maria José Núncio, professora de Sociologia do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, “a questão está no modo como esse amor é dado e recebido e, nesse sentido, os pais não podem comportar-se nem esperar comportamentos semelhantes aos da infância. O amor dos pais na adolescência tem de ser feito de confiança, de responsabilização e de autonomização”.

A socióloga diz que esse amor é aquele que deixa voar e ganhar mundo gradualmente: “O amor que sabe que existirão erros e mágoas e que estes fazem parte do processo de crescimento e que não podem nem devem ser evitados – é, por isso, que são erradas as posturas demasiado protetoras e controladoras“.

“Nesse sentido, é o amor que estará presente e que servirá de conforto quando surgirem as mágoas, os erros e as desilusões. O efeito protetor do amor dos pais funciona, ainda, como elemento de segurança, pois faz com que os adolescentes se sintam mais seguros de si e tenham maior autoestima, o que facilita esse processo e favorece uma maior resistência face às pressões externas”, remata.

Liberdade vs medo

Talvez um dos maiores desafios dos pais seja equilibrar a liberdade que dão aos filhos e o medo de que algo mau possa acontecer-lhes.

“Alguns fatores que podem ajudar na reflexão para este equilíbrio podem ser a empatia com as necessidades e mudanças do adolescente (perceber que estão em constante alteração, movimento e dinâmica), a maior exigência, rigor, responsabilidade e disciplina, que devem ser construídos de modo gradual e considerar que, na maioria das vezes, o comportamento do adolescente é resultado daquilo que o ambiente lhe fornece e não apenas porque chegou à adolescência”, esclarece Sandra Helena.

A liberdade versus o medo é uma questão que se tem colocado nas diferentes épocas, alerta Maria José Núncio, porque em todas houve perigos, mas há aqui uma questão de escala – os perigos hoje são mais numerosos; são mais diversificados (e, até, desconhecidos para a geração dos adultos); e têm maior visibilidade, são mais falados e comentados.

Assim, sublinha a socióloga, “a melhor forma de fazer a gestão desse difícil equilíbrio é através do processo de educação (que começa desde o nascimento), em que procuramos dotar os nossos filhos das capacidades para reconhecer e evitar os perigos”.

Os pais têm de estar disponíveis e presentes no desenvolvimento dos seus filhos – Sandra Helena, psicóloga infantojuvenil

Os limites das interferências

Os pais podem e devem intervir na vida dos adolescentes, mas a forma como o fazem é muito importante.

“A interferência justifica-se perante a existência de risco e isso depende de estar atento aos sinais. De qualquer forma, o melhor é sempre prevenir, informando e dialogando. Ainda assim, a interferência deve ser feita, numa primeira abordagem, para que não pareça uma intromissão na intimidade”, refere Maria José Núncio.

“Os pais têm de estar disponíveis e presentes no desenvolvimento dos seus filhos. A intervenção pode ser mais ou menos próxima consoante a necessidade, os recursos e os pedidos” acrescenta a psicóloga.

Como já vimos, os adolescentes vivem nas redes sociais e esse é talvez um dos aspetos que mais preocupação gera nos pais. Começaram pelo Facebook, passaram pelo Instagram e Snapchat, adoram o YouTube, falam por WhatsApp, mas agora é o Tik Tok que lhes faz as delícias.

No entanto, esta rede social que permite a publicação de pequenos vídeos que os jovens usam para cantar, dançar ou completar desafios já foi muitas vezes apontada por ter falhas na proteção dos mais jovens.

Só em Portugal, 44% dos seus utilizadores são jovens dos 13 aos 18 anos. É fundamental que os progenitores tenham algum conhecimento destas plataformas, até porque, muitas vezes, é também através delas e dos media que os adolescentes contactam com temas como a droga ou o sexo, que os pais não podem ver como tabus.

O caminho, segundo a professora de Sociologia, é ir “informando, desde cedo, numa linguagem adequada à idade, dialogando e estando disponível para escutar as dúvidas e/ou acompanhar a um profissional de saúde que possa apoiar e ajudar. E isto é tanto mais importante quanto mais elevado for o nível de exposição dos jovens a estes temas, nomeadamente através dos media e redes sociais. É fundamental que sejam os pais a descodificar a mensagem e a “normalizar” estas questões enquanto temas de conversa”.

Veja ainda a primeira parte deste artigo sobre os desafios que os pais (e filhos) enfrentam.

A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº 241, julho de 2020.

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