O regresso à escola é, como todos os pais com filhos em idade escolar saberão, um período muito penoso. Além de toda a despesa em material escolar e livros, há que planear horários de atividades desportivas, de centros de estudo ou simplesmente combinar boleias com os avós ou outros familiares que possam ir buscá-los à escola. Mas, de tudo, o mais difícil é motivar para o estudo e sobretudo para a realização dos trabalhos para casa.
Ana Manta, mãe de três filhos, psicóloga e especialista em Desenvolvimento Infantil em contexto clínico e escolar, cocriadora e coordenadora da Red Apple, uma entidade que forma especialistas na área da Psicologia, Educação e Comportamento, sabe disso.
Motivação para estudar: qual é o primeiro passo?
É autora dos livros Motivar os Filhos para o Estudo e Filho, Presta Atenção, ambos publicados pela Clube do Autor, com os quais pretende ajudar pais e educadores a motivar e orientar bons hábitos de estudo nas crianças e a melhorar a concentração e resultados escolares.
“Se queremos alunos motivados, temos de ser o suporte emocional que eles precisam; cada criança é única e os seus pais saberão melhor do que ninguém a forma mais correta de chegar até eles. É fundamental reconhecer e validar o esforço da criança, mesmo que os resultados não sejam aqueles que os pais gostariam. Não se esqueçam que, quando não atingem os objetivos, os primeiros a sofrer são eles próprios, mesmo que disfarcem e finjam que não se importam”, começa por afirmar. Para a psicóloga, educar é muito difícil, mas é o trabalho mais compensador que existe.
Motivação e emoção de mãos dadas
Francisco Mora, médico, neurocientista e especialista em Neuroeducação, diz que o cérebro precisa de se emocionar para aprender. Este especialista argumenta que a educação pode ser transformada para tornar a aprendizagem mais eficaz, reduzindo, por exemplo, o tempo de aulas para menos de 50 minutos.
Em entrevista ao jornal El País, este especialista revela que “mais vale assistir a 50 aulas de dez minutos do que a dez aulas de 50 minutos. Na prática, uma vez que esses formatos não serão alterados em breve, os professores devem quebrar a cada 15 minutos com um elemento disruptor: uma anedota sobre um pesquisador, uma pergunta, um vídeo que levante um assunto diferente”.
Afirma ainda, na mesma entrevista, que hoje se sabe que ninguém aprende se não estiver motivado e, por isso, é necessário despertar a curiosidade e quebrar a monotonia, pois só se presta atenção àquilo que se destaca. “É preciso acender a emoção no aluno, que é a base mais importante sobre a qual se apoiam os processos de aprendizagem e de memória; as emoções servem para armazenar e recordar de uma forma eficaz. Sem o trabalho de motivação, de criar a emoção nos nossos filhos e alunos, não há aprendizagem efetiva”, pode ler-se.
Acompanhamento regular
Ana Manta revela que “acima de tudo, os pais e educadores devem entusiasmar os filhos nas novas matérias, antes mesmo de se iniciar o ano letivo. Para isso, tentem dar uma vista de olhos nos livros novos e falem sobre os temas que vão abordar, e esse despertar para a novidade já constitui uma porta de entrada para a motivação”.
Motivar para o conhecimento é fundamental para que recebam de braços abertos o novo e trabalhoso ano escolar. Para uma criança do primeiro ciclo, por exemplo, uma boa forma de motivar é através de jogos e desafios, usando uma sopa de letras, uma caixa de cartão e vários conceitos gramaticais.
Depois da primeira abordagem com os novos livros escolares, a especialista aconselha a “sentar-se com os filhos e fazer um balanço do ano letivo anterior, ver o que correu bem e é para manter, e o que não correu tão bem e precisa de um plano de melhoria. Esta análise vai permitir definir objetivos para o ano que vai começar”. Traçar um ‘plano de ataque’ parece ser uma boa abordagem, já que ajuda a delinear caminhos e antecipar eventuais problemas. “Não nos devemos esquecer que os nossos filhos tendem a copiar o nosso entusiasmo, sendo importante demonstrá-lo”, refere.
Reforço positivo
É importante, conforme nos explica Ana Manta, envolvê-los nos objetivos, senão não terão motivação para os atingir, pois serão dos pais e não dos próprios. “Devemos tentar que, ao final de cada dia de aulas, nos contem, de forma resumida, o que aprenderam em cada disciplina. Este resumo ajuda a organizar as ideias.
Podem perguntar: “O que aprendeste hoje na aula de Geografia? E na de História?”, explica a psicóloga. E, se nas primeiras vezes, será mais difícil, nas seguintes, começará a tornar-se mais fácil, porque se irão concentrar na aula, para conseguirem depois contar o que aprenderam. Esta estratégia ajuda muito a fomentar a comunicação entre pais e filhos.
“Uma dica importante é fazerem um simples caderno onde, em conjunto, anotam um pequeno resumo do que se aprendeu naquele dia. Com o tempo vão adorar reler as aprendizagens que ficaram guardadas. E isto é estudar”, revela a autora. Convém referir que, para os pais, o mais relevante deverá ser aquilo que os filhos aprenderam e não as notas que obtiveram. Aliás, a saída das notas é sempre um bom momento para balanços e refletir em conjunto o que aconteceu no ano letivo e preparar o próximo.
Outra questão a não descurar são as recompensas: as boas notas devem ser premiadas com reforço positivo, com reconhecimento, mas nunca com bens materiais. Trocar notas por brinquedos ou outros bens materiais parece uma transação comercial, com poucos efeitos construtivos. No caso, por exemplo, das reprovações, o maior castigo é sempre o confronto do aluno com o fracasso. Daí que as crianças devam perceber o que implica reprovar: mudar de turma, perder os amigos, ouvir as matérias de novo. Castigar um aluno porque reprovou nem sempre produz efeitos positivos, até pode ter efeito contrário.
O drama dos TPC
Atualmente um dos maiores pesadelos das famílias com filhos em idade escolar é a carga de dos trabalhos para casa (TPC) e trabalhos de grupo. Nem todos os psicólogos e pediatras concordam com este pesado fardo, como é o caso do pediatra Mário Cordeiro, que diz que se pudesse acabava com os TPC, porque deixam pouco tempo livre às crianças, fazendo com que se desliguem dos brinquedos, do seu quarto, da sua casa, do seu lar, passando todo o dia em stresse, o que prejudica a saúde física e mental.
Ana Manta refere a propósito que “é importante uma pequena revisão diária, sem exageros. Os TPC são importantes, pois permitem aos pais perceber as dificuldades dos filhos, mas não devem ocupar mais de 20 ou 30 minutos.”
“O que acontece na maioria das casas é que as crianças prolongam muito o tempo dos TPC para terem os pais ali ao lado. O que costumo sugerir é combinarem com a criança o tempo que podem disponibilizar para os trabalhos de casa e explicar que podem gastar o tempo todo nos trabalhos, ou fazê-los rapidamente e, no restante tempo, fazerem alguma atividade com os pais.”
Brincar a parar é a chave
Estes conselhos da psicóloga aplicam-se à maioria das crianças. Porém, no caso de crianças com mais dificuldades, crianças com necessidades educativas especiais, hiperativas, com défice de atenção ou outras condições, a tarefa dos pais é um pouco mais complicada, sendo o desafio muito maior.
“Motivar meninos que não conseguem estar quietos, que são atraiçoados pela sua concentração, que vivem a alta velocidade é mais difícil. Muitas vezes, desmotivam-se perante as dificuldades. É, por isso, importante treinar a concentração, trabalhar com eles os tempos de espera, aprenderem a controlar os seus impulsos. Os pais devem tentar dar-lhes atividades que os façam parar, como puzzles, figuras de Lego para montar, sopa de letras com as massas, palavras para procurar em revistas, encontrar diferenças, contar palavras em músicas, enfim um conjunto de estratégias que lhes permita aumentar os seus tempos de concentração”, explica.
Se a criança conseguir estar mais concentrada, vai com certeza melhorar a sua motivação. E, como vimos, motivação é a base de toda a aprendizagem.
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